O sorriso que cura

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Morador da Maré supera desemprego, ajudando na recuperação de crianças e idosos doentes

Felipe Rebouças

Uma vez por semana, o auxiliar administrativo Sidnei Rodrigues Moraes, de 40 anos, dá lugar ao Palhaço Mingau. Nessa troca de papéis, o morador do Parque União deixa seus problemas de lado para provocar risos em crianças e idosos abrigados em hospitais e asilos da cidade. Desempregado há cinco anos por causa de uma crise de cálculo renal, o entrevistado conta que o problema de saúde inviabilizou sua carreira profissional, mas o fez enxergar, em razão da experiência como paciente, que o ambiente hospitalar demanda vida. Segundo ele, as cores neutras e a ausência de alegria no local dão a sensação de que o internado está isolado, no aguardo por más notícias, ao invés de aspirar a recuperação.

O palhaço em atividade na Casa de Apoio à Criança com Câncer São Vicente de Paulo | Arquivo Pessoal

Tudo começou quando, ao retornar à casa na Maré, após se recuperar do problema renal, o pai da Rafaela, de 13 anos, ligou a televisão e se deparou com o filme Patch Adams: o amor é contagioso. “Foi minha inspiração” – afirmou Sidnei. No filme, ele pôde ver a proposta de humanização hospitalar por meio da arte do humor e se identificou com as mensagens de ajuda ao próximo, passadas no filme, pela interpretação do falecido Robin Williams.

Desse dia em diante, Sidnei procurou pessoas que trabalhassem com essa proposta. Recebeu negativas até encontrar Cristiano Figueiredo,

o Palhaço Foguinho. Ao lado dele embarcou no projeto ‘Me dê um abraço’, no qual os dois ofereciam afeto às pessoas que passavam na rua. Depois dessa experiência, Sidnei conseguiu com o Sindicato dos Artistas um certificado de atuação. Com ele nas mãos pôde conceder oficinas de palhaço humanizado e embarcou na iniciativa ‘Doe amor’, projeto do qual faz parte até hoje. A idealizadora Roberta Vieira, fisioterapeuta, reúne os voluntários na sua residência, em Olaria, para realizar os ensaios e ajustes das apresentações que alegram os pacientes. Além disso, essa espécie de quartel-general serve para acolher as doações alimentícias que o grupo distribui nas instituições que visita. Os envolvidos são fisioterapeutas, técnicos de informática, bancários e professores. Profissionais da vida real, que mergulham na fantasia de seus personagens para amenizar o sofrimento de pessoas que lutam contra doenças graves, como o câncer.

“Não basta colocar a roupa e fazer a maquiagem de palhaço. É importante compreender a delicadeza dentro do hospital e entender a criança. Às vezes, ela está debilitada ou os pais estão em uma fase ruim de aceitação. Se você chega de uma maneira qualquer ou se fala a coisa errada, pode causar algum constrangimento”, explica o voluntário.

Entre os trabalhos informais e a tentativa de se reinserir no mercado de trabalho, Sidnei conseguiu levar entusiasmo ao ambiente denso da reabilitação. A troca de risos, beijos e abraços entre ele e os pacientes é alimentadora, literalmente. “Lembro de um menino que não estava se alimentando por causa das medicações fortíssimas contra o câncer e quando fiz a visita a ele, eu pedi que comesse, pois assim ele ficaria melhor e mais forte para nós brincarmos, e ele comeu. No outro dia, a psicóloga infantil me ligou e agradeceu, porque o menino estava se alimentando normalmente”, conta, orgulhoso.

Como entrar em contato com o Sidnei ou com o Projeto Doe Amor:

 

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