Radialistas são profissionais que têm no microfone uma ferramenta de trabalho
Por Hélio Euclides em 12/11/2020 às 14h50
Na Lei nº 11.327, de 27 de julho de 2006, foi instituído dia 7 de novembro, como o Dia do Radialista. A data é de nascimento Ary Barros – que além de advogado – era compositor e durante e vários anos comandou como radialista o programa A hora do calouro, na Rádio Cruzeiro do Sul no Rio, no qual revelou muitos talentos. Também foi locutor esportivo proporcionando momentos inusitados ao sair para comemorar os gols do Flamengo, seu time de coração, ou mesmo quando se negava a narrar a jogada do time adversário – “Ih, lá vem os inimigos. Eu não quero nem olhar.”
A data é para homenagear o profissional que, além do rádio, também narra, dirige, escreve, planeja, edita e/ou produ programas para a TV e internet.
No rádio, é sua responsabilidade buscar e divulgar notícias, interagir com o público ouvinte, fazer entrevistas, tocar música, acompanhar uma partida de futebol, fazer serviço de utilidade pública, enfim, dar vida a um projeto radiofônico.
Já na televisão, edita, grava, sonoriza, finaliza, faz produção, assistência de câmera, captação de som, cabo-man, e demais cargos dos bastidores da TV brasileira. Hoje o profissional também encontra novas funções de produção e oportunidades de trabalho, principalmente com a popularização da internet, e com o advento do podcast. Mas mesmo com a chegada dessas novas tecnologias, as rádios seguem firmes e fortes no Brasil. Segundo dados do Ministério das Comunicações de 2014, o país tem aproximadamente 10.739 emissoras de rádio em funcionamento, incluindo emissoras comerciais AM e FM e rádios comunitárias. “Na minha opinião, o rádio é um excelente meio de comunicação. Nem sempre estou livre para TV, por isso, o rádio me acompanha do início da tarde até a hora de dormir. Não tenho celular, então o rádio se tornou o meu meio de informação”, conta Jurema de Oliveira, moradora da Nova Holanda.
Aqui no Maré de Notícias, nossa redação também homenageia um profissional da área. Quem entra na nossa sede, na Nova Holanda, logo vê na parede a placa que dá nome ao local: Sergio Amorim. Ele, que morreu de câncer, teve um programa exclusivo de informações sobre HIV/Aids, na Rádio Comunitária Revolução FM, no bairro de Água Santa, nos anos 2000. Ensinou a arte do rádio e também dava aula de alfabetização para jovens e adultos aos moradores da Maré de graça. Foi aluno do curso Pré-Vestibular Redes da Maré que já inseriu mais de 100 pessoas na universidade.
A Maré teve algumas rádios comunitárias, a Progressiva, Devas, União, a 91 e a de nome Maré. A rádio Maré foi fechada nos anos 2000 pela Anatel, depois reaberta com autorização para funcionar em baixa potência, mas hoje está fora do ar. As outras, também, encerraram as atividades.
Uma rádio no poste
As rádios de alto-falante também são conhecidas como rádio-poste ou rádio-corneta são pequenos sistemas sonoros de “rádio popular” que transmitem suas mensagens através de bocas de alto-falantes ou de caixas de sons. Os sistemas de alto falantes proliferaram-se a partir de 1980. Houve uma rádio-poste nos anos 1970 que ganhou fama pelo samba político Zé do Caroço, composto em 1978, pela cantora Leci Brandão. A letra conta a história de José Mendes da Silva, um morador do morro de Vila Isabel que, para se comunicar melhor com a favela, instalou um alto falante. Segundo ele, que era conhecido por Zé do Caroço, a rádio era uma fonte alternativa à televisão, que, para ele, muito manipulava, já naquela época.
Há exemplos de rádio-poste que começaram a operar na década de 1940, como a de Muqui (ES), que 1948 já divulgava promoções de lojas e com o tempo, passou a fazer o serviço de utilidade pública.
Na Maré, o sistema de comunicação nasce com a Chapa Rosa, chapa de mulheres que foi eleita para a Associações de Moradores da Nova Holanda, em 1984. O grupo anunciava melhorias, prestava contas e mobilizava moradores.
Alexandre Master iniciou na área em 1986 como de DJ, e também como locutor de bailes funk, soul e festas juninas de rua que trabalhava. Depois atuou na locução de promoções de lojas e de vinhetas, até chegar à primeira rádio de poste, na Rua Teixeira Ribeiro. Sua trajetória não parou por aí. Ele passou por inúmeras rádios, como a Transmania, Popular, Devas, União, Maré, Bonsucesso, Leopoldina de Higienópolis e Estácio. “Os radialistas da antiga Rádio Mundial AM e os profissionais do Furacão 2000 eram a minha inspiração. Vejo a profissão com altos e baixos. Com a pandemia, o mercado se fechou, está difícil até fazer festas charme e bailes flashback”, conta.
Atualmente, a Maré conta com as rádios de postes Piscinão de Ramos e Transmania, localizadas no Parque União, Vila do João e Nova Holanda. Alguns locais não têm o serviço e moradores sentem falta. Em Manguinhos, Fábio Falcão, do Conselho Comunitário, tentou criar uma rádio de poste na quarentena para trazer informações para a população local sobre a covid-19. “Ficou inviável, pois não conseguimos recursos para a contratação de profissionais de manutenção e radialistas. Fizemos até ata para registrar o interesse. A construção da comunicação na favela precisa ser popular e coletiva, para a apropriação de todos”, comenta.
Para Falcão, o radialista pode ajudar na geração de renda na favela, fazendo anúncios, para ajudar no aquecimento do comércio local. “Isso faz com que o dinheiro circule dentro da favela”, diz. Ele acrescenta que o profissional tem um papel fundamental quando é, por exemplo, informa sobre prevenção de doenças, higiene e horário de funcionamento das unidades de saúde. “É um desafio do radialista levar comunicação para todos, algo que aqui em Manguinhos se tornou um déficit. Se tem uma ação social no campo da Coréia, os moradores do Mandela não sabem. Uma localidade não conhece a outra, falta integração do território”, conclui.
Nos estados do Maranhão e do Espírito Santo as rádios de poste receberam leis que regulamentam o serviço, para que o sistema seja de utilidade pública com informações primordiais para a localidade. Uma pena que em outros estados muitas dessas rádios de postes tenham se transformado em puro marketing, apenas com anúncios, jingles, informações de vendas, perdendo a grande oportunidade da comunicação veloz e cidadã.