Organização e luta para conquistar direitos

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União e senso de vida comunitária marcam a história do Parque União desde seus primórdios

Maré de Notícias #100

Jéssica Pires

Uma das figuras que incorporaram, em sua trajetória de vida, a luta por direitos pelo Parque União nos conta, com orgulho e saudade, o que viu e o que vê desse lugar que chama de seu. Seu. Aluísio, querido e conhecido tanto pelos mais antigos quanto pelos mais contemporâneos, é um simpático morador da Rua Conquista e um dos primeiros presidentes da Associação de Moradores do Parque União. 

De onde você é e quando chegou no Rio de Janeiro, veio direto para a Maré?

Sou Aluísio de Andrade Campos, tenho 88 anos e fui um dos primeiros presidentes [de associação de moradores] do Parque União. Vim de Aracajú (SE). Cheguei em 1953 e fui morar perto da Igreja Santa Luzia, na Coab, em RamosMinha mãe e minha família já moravam lá e eu vim para a casa deles. 

E como você veio parar aqui?

Por meio da minha profissão[barbeiro], fui conhecendo outros lugares. Fui fazendo clientes e amigos, conhecendo pessoas. 

Como era o Parque União naquela época? 

Praticamente não existia. Só era uns barraquinhos de madeira. Tinha as palafitas e uns barraquinhos no chão mesmo. 

Por que o senhor decidiu se candidatar a presidente da associação de moradores?

Me convidaram. Eu sentia que o pessoal gostava muito de mim, mas achava que o presidente tinha de ser um homem de cultura e eu não tenho cultura nenhuma, só sei ler e pra mim. Decidi concorrer e perdi. Quem ganhou era um homem muito vaidoso, mal falava com os moradores. Passou um tempo e eu dizia: “Deus me livre de concorrer de novo a nada aqui”. Na eleição seguinte, de tanto o povo pedir, eu disse: “Vou concorrer e vou vencer”. Lembro da festa que o pessoal fez na apuração e quando saiu o resultado. 

Quais foram as principais conquistas para o Parque União durante seu período como presidente?

Tudo que tem no Parque União, hoje, é continuação de um presidente e outro, com a ajuda dos moradores, mas que começou naquela época. Água, luz. Um grupo de empresários chamado Ação Comunitária do Brasil nos ajudou muito. Sempre com muita ajuda dos moradores que trabalhavam junto, para as coisas acontecerem.

O que motivava essa busca por mais estrutura e direitos?

A vida e a luta dos próprios moradores. O Parque União e o povo mereciam viver melhor. Fomos fazendo de acordo com a necessidade, sempre juntos. 

O que o Parque União é para você?

O Parque União representa, pra mim, a minha família, a minha terra, a minha vida. Eu tenho orgulho de morar no Parque União. 

Você sabia?     

*O Parque União se formou a partir de um loteamento promovido por um advogado que demarcou lotes, vendendo-os por valores acessíveis. O projeto inicial era o de criar um bairro popular, com boa infraestrutura urbana.

*Outras fontes apontam, no entanto, que a comunidade é fruto de uma das primeiras invasões urbanas planejadas, de que se tem notícia. Isso no fim da década de 1950.

*As casas eram construídas, primeiramente, em madeira. Internamente, os moradores levantavam as paredes de alvenaria. O governo proibia essa forma de construção. A madeira só era retirada quando a casa já estava praticamente pronta.

*O Parque União possui 20.567 moradores, que vivem em 7.600 domicílios (Censo Maré 2013).

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