Orquestras da Maré transformam as vidas de jovens e adultos pela música

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As orquestras Maré do Amanhã (OMA) e a Camerata do Uerê, atendem crianças e adolescentes que trazem algumas conquistas em suas trajetórias

Edição #162 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

A musicalidade das favelas é geralmente conhecida pelo funk, samba e pagode, mas há outros ritmos que também tocam os corações mareenses. Por exemplo, a música clássica. A Maré tem hoje pelo menos duas orquestras que unem a paixão pela música com a força da juventude, trazendo novas sonoridades para o bairro e conquistando cada vez mais novos territórios.

As orquestras Maré do Amanhã (OMA) e a Camerata do Uerê, atendem crianças e adolescentes e trazem algumas conquistas em suas trajetórias:  a Camerata do Uerê existe há oito anos e, por lá, já passaram mais de cinquenta crianças. Em julho, a orquestra abriu o Rio Harpa Festival 2024, que homenageou a África. 

A OMA foi eleita como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro, em 2023, e já atendeu mais de quatro mil crianças em 14 anos de existência. Entre os feitos mais notáveis na lista da OMA estão: a apresentação para o Papa Francisco no Vaticano (Itália), a apresentação no Palco Favela do Rock in Rio, em 2019, e o desfile na Marquês do Sapucaí, com a bateria da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis. Além de apresentações ao lado de grandes nomes da música como Alcione, Anitta e Ludmilla. 

Apesar dos feitos, as coordenações das orquestras concordam que, o maior deles, é a transformação feita na vida dos alunos. 

Respeito pela Maré

Andressa Lelis, de 16 anos, moradora da Vila dos Pinheiros, já participou das duas turnês internacionais da OMA. Ela conta que entrou na orquestra por incentivo dos pais, que viram seu interesse em tocar violino e piano, e que através da orquestra, ela vê uma mudança significativa no olhar das pessoas para a Maré.

“As pessoas achavam que aqui só tinha violência, mas quando falo que faço parte da orquestra, elas vêem diferente”.

Andressa Lelis

Andressa acrescenta que a relação dela com a Maré também mudou depois da orquestra: “Eu tenho respeito, e gosto de mostrar para as pessoas que eu faço parte da orquestra, para elas respeitarem a Maré também”.

Além das apresentações, a OMA também capacita os alunos para os testes de aptidão específica (T.H.E), em que os alunos, para ingressarem em faculdades de música, precisam tocar clássicos de compositores como Beethoven, Bach e Mozart.

Repertório para todos

O professor da orquestra Camerata do Uerê, Valnei Alves, de 19 anos, morador da Nova Holanda, conta que o interesse pela música veio da curiosidade ao ver o violino pela primeira vez. Ele comenta sobre a importância de garantir o acesso à cultura para todos. 

“Nós fazemos concertos didáticos nas escolas e cantamos músicas populares justamente para chamar o público para cantar. Pela falta de acesso, as pessoas não têm interesse mesmo. Por isso é importante os projetos sociais, para permitir que todos tenham acesso e levar a arte para todos”.

O maestro da Orquestra Maré do Amanhã, Filipe Kochem explica que, para as escolhas das músicas, eles têm a preocupação de aproximar o  público: “Para as crianças menores, a gente toca cantigas de roda. Para o público adolescente, a gente toca música de jogos, séries e filmes”. 

O maestro acrescenta que a identidade da Maré é considerada para a escolha do repertório, com uma lista de músicas nordestinas e funks que fazem sucesso nas apresentações.

Desafios

O Instituto Vida Real, com o projeto Música na Maré, também possuía uma orquestra, mas a mesma está parada no momento, por falta de patrocínio, mas, apesar da paralisação, as aulas de música continuam na ONG.

Carlos da Silva, de 27 anos,  morador da Nova Holanda, começou no projeto como estudante em 2017 e, hoje, é também professor. “A música me mostrou outro caminho que eu posso seguir”, afirma.

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

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