“Os PM’s falavam que eu merecia apanhar porque todo morador de favela é vagabundo”

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Na última sexta-feira (06), as favelas Nova Holanda, Parque Maré, Rubens Vaz e Parque União sofreram com mais de 18 horas de operação policial.  A ação conjunta realizada na Maré pelos Policiais Militares do Comando de Operações Especiais (COE) em parceria com a Polícia Federal, segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal foi um pedido da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) para a fechar uma rádio comunitária na Maré, que supostamente estava causando interferência no espaço aéreo do aeroporto Santos Dumont, no Rio. A operação, que teve início por volta das 05h50 da manhã e durou mais de 18 horas, deixou rastros de violência e violações nas vidas de muitos moradores da Maré. Seu Pedro, de 59 anos e Lucas, de 19 anos foram assassinados na operação policial.

A equipe de segurança pública da Redes da Maré recebeu relatos de violações de direitos e violências pelo WhatsApp do Maré de Direitos: 21 99924-6462, direcionado aos moradores da Maré como uma ferramenta de segurança em dias de operação policial. As denúncias, que ocorreram durante todo o dia, foram de invasão de domicílio, coerção de menores de idade e  agressão física por partes dos agentes de segurança pública envolvendo crianças e adolescentes. Em um dos casos, um morador foi agredido a socos e chutes por policiais militares e ameaçado com uma faca. O jovem relata que durante as agressões o agente de segurança pública  falavam que ele merecia apanhar porque “todo morador de favela é vagabundo e que ele devia ser bandido também”,  que “ tinha sorte por ter pegado um policial bonzinho”. Ele afirma que após as agressões recebeu um chute forte nas costas e que foi  lançado no  valão da rua, que a família conseguiu resgatá-lo.

Pedro Souza, mais conhecido como Seu Pedro, um idoso morador do Parque União, barbeiro histórico da Rua Ary Leão e personagem importante na história da Maré, foi alvejado e morto dentro de sua própria casa, às 16h. Entretanto, seus familiares precisaram esperar até o fim da noite para a chegada da perícia que, após muitas tentativas de contato com a Delegacia de Homicídios (DH) realizado pela equipe de segurança pública da Redes da Maré, chegou por volta das 23h no Parque União.

Infelizmente, a família de Seu Pedro não foi a única a ter o direito de enterrar um ente querido de forma digna negado. O pai do adolescente Lucas, de 19 anos, que foi assassinado a tiros durante a manhã, passou dois dias inteiros (sexta-feira e sábado) em busca do corpo do filho. A informação que foi dada a família era a de que o corpo do jovem foi levado para o Hospital Geral de Bonsucesso. No entanto, durante todo esse período a família não conseguiu realizar o reconhecimento do corpo. O Hospital, o Instituto Médico Legal (IML) e a Delegacia de Homicídios (DH) não souberam precisar onde o corpo estava. Ele acredita que a dificuldade nos processos tem relação com o preconceito por seu filho ser negro, morador de favela e visto como suspeito em potencial.

Desde o dia 14 de agosto, a Ação Civil Pública (ACP) da Maré foi restabelecida pelo desembargador Jessé Torres, da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, porém, as determinações da ação não foram cumpridas na operação policial da última sexta-feira. Entre outros descumprimentos, a ação da polícia não contou com uma ambulância para socorrer os feridos, assim como aconteceu em horário de entrada e saída das escolas e estendeu até o período noturno.

A direção da Redes da Maré lançou uma nota sobre o ocorrido.

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