A trajetória do vassoureiro pelas ruas da Maré começou há 21 anos após ser demitido do seu trabalho de carteira assinada
Foto: Affonso Dalua
Para fazer compras o mareense nem precisa sair de casa, pois tem sempre um ambulante passando na sua porta. Tem o cara da tabuada, que vende os livrinhos da palavra cruzada e desenhos para pintar. O moço que parece enfermeiro, pois usa branco dos pés à cabeça, mas vende cuscuz. O menino da bicicleta, que oferece salada de fruta e inúmeros empreendedores, incluindo o vassoureiro, que salva as pessoas que querem fazer aquela faxina e estão com a vassoura velha sem utilidade em casa.
Tem espaço para todo mundo no território, sendo assim o vassoureiro segue viagem com criatividade tentando o seu ganha pão, circulando pelas ruas gritando: ouuu vassoureiroou! Alexander Faustino, há 21 anos, ajuda na limpeza das casas da Maré vendendo suas vassouras, rodos e pás.
Segundo o jornal Gazeta do Povo, a vassoura surgiu em 1797, por meio do agricultor Levi Dickenson, em Hadley, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. As primeiras utilizavam pelos de animais e cabelos amarrados com um pedaço de pano. A vassoura é mais do que um transporte retratado em filmes de bruxas ou de Harry Potter. Para o vassoureiro da Maré, a vassoura é mais do que um objeto de limpeza, foi com ela que ajudou a criar as filhas Ana Mel e Anna Beatriz, proporcionando a educação delas.
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Faustino, de 40 anos, começou sua trajetória quando foi demitido do emprego de carteira assinada. “Na época, meu sogro me perguntou se eu tinha disposição para encarar qualquer tipo de trabalho para eu sustentar minha família, respondi que sim. Ele me levou na fábrica de vassoura que era de um amigo dele, como eu não tinha dinheiro, me cedeu um amarrado de vassoura, então deixei minha identidade como garantia, e fui aprendendo de acordo com o tempo vender vassoura”, diz.
No início veio a dificuldade da falta de dinheiro. Na ocasião a esposa grávida, com gestação de risco. Depois o neném nasceu de sete meses, com situação ainda pior, sem condição de comprar fraldas e gás, chegando a ficar cinco dias sem cozinhar, num momento que ainda precisava pagar aluguel. “Teve vezes que faltou até comida. Hoje posso proporcionar para minhas filhas tudo aquilo que não tive, e levar sempre o pão de cada dia, que na minha época era muito difícil ter. Sou grato a primeiramente a Deus, depois a minha esposa Fabiana, que sempre esteve do meu lado nesse processo difícil. Com certeza, conquistei tudo com muito suor e por meio das vassouras”, comenta.
Hoje conseguiu uma clientela fiel, facilitada por uma rota que segue à risca. O dia começa no Fundão, e segue pelo Sem Terra, no Parque União. Sua continuidade é do Rubens Vaz até o Palace, no Conjunto Esperança.
“A Maré para mim é uma escola da vida real, me ensina todo dia uma coisa diferente”
Alexander Faustino, vassoureiro da Maré
Quando ainda sobra vassouras, ele segue pela Avenida Brasil, finalizando no Mercado Municipal do Rio de Janeiro (Cadeg). Só depois pega o caminho de casa.
Para conseguir essa façanha, Faustino levanta às 6h, se prepara e pega o ônibus cheio sentido a fábrica, depois outra dificuldade para carregar as vassouras até as casas dos clientes. “Tudo isso supero com apoio dos moradores que muitos viraram amigos, tenho gratidão com os que compram sem precisar da vassoura, só para me ajudar nessa minha luta diária, seja na chuva ou sol. Fico feliz em dar essa entrevista representando muitos ambulantes que passam ou já passaram por muitas dificuldades para sustentar a sua família.”
Ele conta que um dos momentos marcantes da sua profissão foi quando o fotógrafo e amigo Bira Carvalho tirava fotos mostrando sua trajetória. Pelas ruas da Maré Faustino sempre dá boas risadas. “É engraçado ver que algo virou referência, quando as crianças imitam o meu grito do ‘ouuu vassoureiroou’. No fundo, ser ambulante é um trabalho digno, pouco valorizado, cansativo, mas amo meu trabalho, que faço com muito orgulho”, conclui.