“Para o fim da desigualdade, só com educação”

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Assim pensa Denise Pires, a primeira mulher a assumir o cargo mais alto da UFRJ, em quase 100 anos da instituição

Hélio Euclides

A professora Denise Pires de Carvalho foi indicada pela comunidade universitária para a função de reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na pesquisa feita em abril, na qual obteve 9.427 votos, ou seja, 24,66%. No dia 31 de maio, a indicação foi confirmada e o decreto de nomeação assinado pela Presidência da República. Esta é a primeira vez que uma mulher é escolhida para a Reitoria da UFRJ, que completará 100 anos em 2020. A posse será dia 8 de julho, no Centro de Tecnologia, na Cidade Universitária.

Perfil

Denise Pires é professora do Instituto de Biofísica (IBCCF) da UFRJ. Médica, formada pela UFRJ, possui mestrado e doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica), ambos os títulos pelo IBCCF/UFRJ. Tem pós-doutorado pelo Hospital de Bicêtre (Paris) e pela Universitá Degli Studi di Napoli (Itália). Já foi diretora e vice-diretora do IBCCF/UFRJ, coordenadora acadêmica da Pró-Reitoria de Graduação (PR-1/UFRJ), além de diretora-adjunta de graduação e pós-graduação. Em entrevista ao Maré de Notícias, a nova reitora fala do desafio de ser a primeira mulher no posto em 100 anos da instituição, suas prioridades e projetos. Confira:

O que representa para a UFRJ a chegada da primeira mulher ao posto mais alto?

As mulheres ainda têm atuado muito pouco em posições de destaque. Essa prática é ruim, pois tem de haver um equilíbrio. Já me perguntaram se tenho medo dessa nova função, respondi que não tenho medo. Só estou apreensiva, por não saber se corresponderei às expectativas. Mas posso garantir que vou dar o máximo.

Quais as prioridades de sua gestão?

Primeiro, organizar o que não depende do orçamento, que é deficitário. Pensar em política de permanência do nosso aluno. Hoje, ele tem problema de ser firmar; a evasão chega a 50%. Muitos ingressam e não concluem o curso.

Em relação aos cortes anunciados pelo governo, quais serão os impactos dessa política para a universidade?

Será um golpe mortal, pois esses 30% de corte nos deixa sem dinheiro para pagar a luz. Espero que isso não aconteça.

Os estudantes pobres, e em maioria negros, são os que mais precisam de bolsas. Há algo que possa ser feito para que esses alunos não sejam obrigados a abandonar a universidade?

Os cortes não vão atingir essas bolsas, que favorecem quem tem renda per capita baixa. O triste é manter como está, é preciso avançar. Para ajudar, espero acabar a obra de construção do alojamento, pois esse estudante vai economizar com habitação, transporte e alimentação. O nosso problema é ter verba para as obras, num País em crise.

Para a senhora, o que é educação e como deve ser estruturada para que todos tenham acesso a ela?

A educação é o maior bem da sociedade. Não há gasto e, sim, investimentos; ela não é mercadoria. Não há Brasil sem educação. Temos de pensar no futuro e, não, patinar no presente. Para o fim da desigualdade, só com educação. Para isso, precisamos acabar com a evasão no Ensino Médio e Ensino Superior. Outro ponto: a sociedade precisa valorizar o professor. Sem um bom professor não há ensino de qualidade. É preciso estimular a formação, para que nunca a internet supere o papel do professor.

Moradores usam, no fim de semana, o campus, como área de lazer. Como a senhora vê essa utilização?

Ótimo! É preciso fazer mais quadras polivalentes e incentivar o esporte. Disponibilizar os nossos alunos de Educação Física para os treinos, para que haja uma interação.

A Maré fica ao lado da UFRJ. O que vai ser feito para garantir esse movimento de extensão?

O meu projeto é fazer um complexo de educação, na Cidade Universitária, onde ficará o CAP (Colégio de Aplicação), com ampliação de número e vagas para a Educação Básica – o que vai favorecer os moradores. Sei que tenho de ir à Maré, e estou no aguardo de um convite.

Como se define Denise Pires de Carvalho?

Gosta de enfrentar desafios. Uma pessoa corajosa, que é apaixonada pela educação.

Um recado aos leitores do Maré de Notícias.

Precisamos construir pontes com toda a sociedade. Sou contra falar de uma universidade de portas abertas, pois para isso é preciso ter portas. Desejo uma universidade sem portas ou muros.

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