Para onde vai o nosso lixo?

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A coleta de lixo das 16 favelas da Maré foi um dos serviços básicos que não parou durante a pandemia

Maré de Notíciais #119 – dezembro de 2020

Por Thaís Cavalcante

O isolamento social, motivado pela pandemia de covid-19, interrompeu as atividades presenciais nas áreas culturais, educacionais e comerciais. O que não parou foi o consumo e o descarte de lixo, assim como a sua coleta. Nas 16 favelas da Maré, todos os dias são produzidas em média, 200 a 250 toneladas de lixo domiciliar, lixo público e resíduos de construção civil, de acordo com a Comlurb.

Os garis estão desde o início na linha de frente da coleta, que é o carro-chefe da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). “Mesmo com alguns colaboradores afastados por causa da covid-19, a Comlurb manteve 80% dos seus serviços [na Maré], como varreduras, roçada mecanizada, raspagem de terra e lama, entre outros. Já a coleta, mantemos 100%”, conta Marcos William, Gerente de Divisão ND30M da Comlurb Maré e atuante há 15 anos no território.

Entender a particularidade de cada favela é fundamental para o trabalho. A Vila do João, por exemplo, é o local com maior quantidade de lixo, pois tem uma maior extensão. O modelo de coleta de lixo também não é o mesmo em todas as favelas. Umas têm gari comunitário, outras, só o gari da Comlurb, outras ainda, os presidentes de associação de moradores pagam garis particulares para reforçar a limpeza das ruas. 

Um incômodo que gera muita reclamação dos moradores é a falta de coleta aos domingos. Ou quando é feita, acontece em pequena quantidade. Marcos informou que a coleta é diária, mas, aos domingos, há sim a dificuldade de circulação dos caminhões compactadores nas ruas, por causa de grandes eventos locais, como feiras, festas de aniversário e bailes funk

Garis Comunitários em extinção

A população também sente a diferença da coleta no dia a dia por outro motivo: a quantidade de garis comunitários tem sido reduzida gradativamente, atendendo a decisão judicial do Ministério Público do Trabalho para que sejam substituídos por garis concursados da Comlurb. Em 2019, o gasto previsto para o programa foi de R$ 7 milhões, menos da metade de 2018. Procurado, o Ministério Público não disse os motivos de tomar essa decisão ou quanto está sendo gasto pelo programa este ano.

O trabalho dos garis comunitários é um diferencial pela proximidade do trabalhador com o território. Não à toa, as ruas internas são justamente de responsabilidade desse profissional. A Comlurb informou que todo o território da Maré é atendido por 50 garis comunitários e 76 garis da Companhia. Não estão incluídos os afastados por questões médicas ou por conta das medidas preventivas adotadas em relação à covid-19, pertencentes ao grupo de risco e pessoas com mais de 60 anos.

O Portal 1746 funciona?

O Maré de Notícias solicitou um serviço de reparo dia 28 de setembro pelo Portal da Prefeitura 1746, com o protocolo de “Obras de reparo, canalização ou limpeza de rio, canal ou valão” para a retirada de lixo e entulho do valão localizado na Nova Maré. Quando um pedido é feito no Portal, a solicitação é encaminhada para o órgão responsável e tem o prazo de 20 dias úteis para ser atendida. Pouco mais de um mês, a solicitação não pôde ser concluída por estar em fase de captação de recursos para realizar os serviços de desobstrução e limpeza para a melhoria das condições de escoamento d’água no rio. Nossa equipe foi até o local verificar, e parte do lixo acumulado foi retirado, e a capinagem foi feita no entorno do valão, mas o serviço de desobstrução e limpeza não tem previsão para ser iniciado.

Quantidade de garis comunitários está reduzida por conta de um pedido do Ministério Público do Trabalho – Foto: Douglas Lopes

Por uma Maré mais limpa e verde

Henrique Gomes é articulador territorial e institucional da Redes da Maré e mora na Baixa do Sapateiro. Ele explica que existem dois lados da mesma realidade e que os dois buscam a mesma coisa: a melhoria local, mas o diálogo precisa ser mais frequente. “Os garis conhecem bem a favela e os pontos de lixão, usando o carrinho onde mais tem becos e o caminhão nas ruas largas. Os moradores, às vezes, não conseguem guardar o lixo dentro de casa por causa do pouco espaço e mau cheiro do lixo, por exemplo”, observa Henrique. 

Mas a responsabilidade para o descarte do lixo não é só de quem o recolhe. Todos os cidadãos têm a cogestão e responsabilidade social nesse cuidado. Seja ao fazer a separação de embalagens em casa para facilitar a reciclagem; não jogar lixo ou entulho em local inadequado; ter consciência ambiental ao consumir um produto; criar hábitos sustentáveis e muito mais. O benefício é individual e coletivo.

Julia Rossi, pesquisadora e coordenadora de projetos socioambientais na Redes da Maré, defende que a educação é uma solução que pode ser aplicada a longo prazo, assim como mais investimento em infraestrutura e na compostagem. “Ela [educação] é a chave para que as pessoas entendam a importância de se ter uma organização com seu lixo, de onde vem, o que se consome e muito mais. Na educação ambiental, muita coisa pode ser aproveitada: o lixo orgânico pode virar composto, por exemplo”. Ela conta ainda que todas as soluções colocadas precisam de ajuda do poder público, justiça ambiental e acesso aos direitos básicos.

Com a mesma percepção, o Muda Maré, projeto de educação ambiental e agricultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Maré, apresenta a importância de iniciativas locais para minimizar o impacto do lixo no cotidiano mareense. “A reciclagem faz parte da vida de muitos moradores, mas às vezes a gente não reconhece isso como uma iniciativa de grande impacto, mas é. Como o movimento que existe para reciclar máquinas de lavar roupa. Além disso, há uma alternativa criada pelos próprios moradores de não jogar lixo em determinados terrenos, criar hortas ou plantar árvores. Isso mostra a potencialidade de atuação como agente de transformação ambiental. Assim como os catadores autônomos, cooperativas e espaços de reciclagem”.

O grupo declara, ainda, que o fortalecimento e a visibilidade de iniciativas locais que focam na questão ambiental precisam de mais articulação e redes de discussão e mobilização. “Acreditamos no potencial da educação ambiental como alternativa de longo prazo para mobilização comunitária em torno da questão do saneamento, do direito à cidade e da capacidade local de produzir mudanças”.

CALENDÁRIO DE COLETA DE LIXO NA MARÉ [COMLURB]

A coleta de lixo em caminhões compactadores é feita nas ruas principais de grande comércio, dentre outras ruas, de cada favela. 

Dias e horários: segunda a sábado, a partir das 6h até 14h20. 

Confira as ruas principais:

  • Baixa do Sapateiro – Rua Canaã; Rua do Serviço; Rua Pedro Torres;
  • Bento Ribeiro Dantas –  Av. Bento Ribeiro Dantas; Av. Guilherme Maxwell;
  • Conjunto Esperança – Rua Moreira Pequeno; Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos; Av. do Canal 1;
  • Conjunto Pinheiro – Rua Via B9; Av. do Canal 2;
  • Morro do Timbau – Rua Nova Jerusalém; Rua Caetés; Rua Capitão Carlos;
  • Nova Maré – Rua Principal; Rua Tancredo Neves;
  • Nova Holanda – Rua Teixeira Ribeiro; Rua Principal;
  • Parque União – Rua Ary Leão; Rua Roberto da Silveira;
  • Parque Rubens Vaz – Rua João Araújo; Rua Massaranduba;
  • Praia de Ramos – Rua Gerson Ferreira; Av. Guanabara;
  • Roquete Pinto – Rua Urucuri; Vila Sampaio;
  • Salsa e Merengue – Rua Projetada A até a Rua Projetada H;
  • Vila do João – Rua 14; Rua 7;
  • Vila do Pinheiro – Rua Via 1; Rua Via B1;

A coleta de lixo em microtratores é feita nos becos, vielas e travessas de cada favela em dias alternados. 

Dias e horários: segunda, quarta e sexta-feira ou terça, quinta e sábado, a partir das 6h até às 14h20.

Os trabalhos são realizados com o apoio de oito microtratores, duas pás carregadeiras, seis caminhões compactadores e oito caminhões basculantes, entre outros equipamentos. Também com oito caixas metálicas de 5 metros cúbicos, oito compactadoras de 15 metros cúbicos, duas de 30 metros cúbicos, além de 105 contêineres. 

(Fonte: Comlurb/Maré).

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