Ponta pé inicial para o carnaval na Nova Holanda

Data:

Agremiação Gato de Bonsucesso escolhe o seu samba-enredo que faz homenagem a mulheres mareenses

Por: Hélio Euclides

Editado por: Jéssica Pires

O próximo carnaval só será no final de fevereiro, mas os tamborins já estão no aquecimento na Maré. No último domingo (06/11), o Grêmio Recreativo Escola de Samba Gato de Bonsucesso reuniu a bateria, integrantes e foliões para o concurso da escolha do novo samba-enredo. Foram três concorrentes, que tiveram as composições apresentadas pelos criadores com muita garra. A quadra localizada no meio da favela da Nova Holanda estava lotada como há muito tempo não se via. Os ritmistas tocavam seus instrumentos no ritmo do coração, empolgando a todos.

Os sambas foram apresentados de duas formas, acompanhados apenas de cavaquinho e, em seguida, com a bateria. Os presentes só souberam o resultado nos primeiros minutos de segunda-feira (07/11). “Bem animado com esse concurso de samba. Eventos como este são bons para a favela. Tenho 38 anos, todos vividos na Maré e hoje é a primeira vez que piso nessa quadra, me apaixonei pela euforia”, conta Maiara Barros, moradora do Parque Maré. A velha guarda estava muito feliz com o apoio dos moradores. “É emocionante ver a comunidade cantando o samba. Ver as famílias na quadra era algo que tinha morrido, mas vem ressurgindo com a juventude representada na bateria e a força dos moradores”, diz Jorginho Botafogo, de 72 anos, um dos fundadores da escola.

Durante a noite de festa ocorreram apresentações de integrantes das alas, como passistas e musas, além de mestre-sala e porta-bandeira. Bruno Soares, diretor de carnaval, foi o locutor oficial do evento. “O que vemos hoje é um resultado de muito esforço. Antes era uma escola desacreditada, agora estamos levantando o pavilhão. Foi preciso ser a trancos e barrancos, tendo alguns degraus a galgar”, comenta. Júlio César Ferreira, mais conhecido como Mestre Julinho, diretor de bateria, foi o maestro do concurso. “Hoje tivemos a expectativa para a escolha do hino e depois vamos arrebentar na avenida. Queremos levantar a arquibancada, colocar o coro (da cuíca) para cantar”, expõe. 

O Gato de Bonsucesso vai defender em 2023 o enredo: “Fé move a Maré do meu destino” Marcos Salles, carnavalesco, está confiante com a escolha do tema. “Estamos tendo o apoio dos integrantes da escola, após criar um enredo que faz homenagem às mulheres. As mais antigas como a Dona Orozina, chegando às jovens, que lutam por uma Maré com mais oportunidade e sem violência. A Renata Souza me orientou na criação desse enredo”, revela. Renata Souza, deputada estadual reeleita, estava presente no evento. “A escola é uma reunião de gerações, que mistura velha guarda, ritmistas e alas. Esse enredo é uma homenagem às mulheres e as lutas ancestrais delas. Além disso, tem como protagonistas Marielle Franco e Dona Orozina, mulheres de resistência. O que percebemos no carnaval é a cultura de um povo que enfrenta a falta de investimento. O carnaval mostra a cultura da favela e afronta um movimento que deseja apenas a violência como espetáculo”, comenta. 

A escola vai desfilar em 2023 no Grupo bronze, antigo Grupo D. O apoio dos foliões já empolga outros integrantes, é o caso de Jacson Cruz, diretor jurídico e financeiro. “É uma coisa linda o resgate da cultura popular. A escola estava adormecida, nunca tinha morrido. Estamos resgatando a história local e as origens da luta das mulheres da Maré, isso abre pontes para a presença das famílias na quadra”, avalia. 

Quem abriu a noite do concurso foi a música de Wando Simpatia, compositor de um dos sambas concorrentes. “Independentemente de ganhar o concurso, o motivo de criarmos um samba é o amor pela escola, de desejar divulgá-la”, resume. Outro samba teve a batuta de Paulo César, mais conhecido como PC do Repique. “O carnaval do Gato é maravilhoso. Fizemos as composições sem pensar em ganhar ou não, mas para levar o nome desta agremiação tão querida na Leopoldina”, diz. 

O grande vencedor da noite foi o samba defendido por Aldair Careca, que trouxe euforia. A torcida, que estava organizada e deu um show de empolgação ao continuar a cantar mesmo após a apresentação. “É uma função especial compor um samba que leva o nome de mulheres lutadoras como a Dona Orozina ao desfile. O samba foi concretizado por filhos que desejam falar das mulheres de nossas vidas, que representam a comunidade da Maré”, Além dele, estiveram na parceria Cosme Araújo, Thiago Martins, Cláudio Vagareza, Luciano Flauzino, Serginho de Miranda, Valtinho Braga, Ali Jabor, Mauro Naval e Gilberto Júnior. 

Foto: Hélio Euclides

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca