A chegada de dias melhores

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O Conjunto recebeu parte dos moradores das palafitas da Baixa

Maré de Notícias #100

Camille Ramos

Próximo à Avenida Bento Ribeiro Dantas, junto à ciclovia da comunidade, foi construído, em 1989, o Conjunto Habitacional do Pinheiro, fruto do Projeto Rio, do Governo Federal, cujo objetivo declarado era acabar com moradias precárias. O Conjunto, constituído por 34 edifícios, recebeu parte dos moradores das palafitas da Baixa do Sapateiro, onde morava Dona Eunice Cunha de Oliveira, hoje com 74 anos. Atual presidente da associação de moradores da comunidade, ela contou para o MN como foi a remoção que a trouxe para o Conjunto, onde mora desde então.

Dona Eunice chegou à Baixa do Sapateiro com seus pais e irmão por volta de 1950. Como era comum na época, foram morar nas palafitas. Luz não tinha. Para se ter água potável, era necessário buscar longe ou pagar por ela. E, quando a maré subia, perdia-se tudo dentro das casas. “A gente não tinha banheiro; lembro que tudo era feito em buracos que caíam direto no mar. Pra cozinhar e outras coisas, a gente carregava latas d’água, balanças e rola-rola [barril fechado com rolha e envolto em pneu usado para transportar água]”, conta.

O marido de Dona Eunice, Seu Enock Oliveira, com quem é casada há 33 anos, também cresceu nas palafitas e fala sobre os trabalhos que realizava, ainda criança, para ganhar dinheiro: “Eu carregava carrinhos de mão para tirar entulho [dos caminhões] para aterrar a Baixa, ficava dias fazendo isso”, relembra. Os dois se conheceram nas palafitas e vieram morar com suas famílias no Conjunto Pinheiro. Isso antes de se casarem.

Igual a ganhar na loteria

A mudança foi um divisor de águas na vida do casal e das centenas de pessoas que trocaram as palafitas pelo Conjunto Pinheiro. “A sensação era de estar vivo. Foi igual ganhar na loteria. Eu não me lembrava de já ter tomado banho de chuveiro, nem de usar um vaso, em casa. A gente se sentia rico, nos trouxeram dignidade com esses apartamentos”, conta entusiasmada Dona Eunice. As casas foram escolhidas por alguns moradores, e ela ficou com o 1º andar, por causa da idade já avançada de sua mãe. “Nos entregaram a casa ‘no osso’. Fizemos todos os acabamentos, depois subimos os muros dos prédios. Não tinha escola, nem comércio, depois foi surgindo e, hoje, está tudo grande, como você pode ver. Hoje aqui é um mundo e eu faço parte dessa história”, diz Dona Eunice.  

Promessas

Em 2015, foi iniciada na comunidade a construção de uma ciclovia que teria 22 km de extensão e ligaria as 16 comunidades ao BRT e à Ilha do Fundão. Por falta de dinheiro, o projeto foi interrompido. Mesmo assim, pode-se dizer que foi a primeira ciclovia construída em uma favela. Atualmente, o Conjunto Pinheiro tem a promessa de abrigar o Parque Maré, um projeto da Prefeitura [nos moldes do Parque Madureira], que oferecerá parque infantil, lago artificial, teatro, quadras esportivas e quiosques. O projeto, no entanto, ainda não tem previsão de início. Enquanto isso, a opção dos moradores é aproveitar a Rua do Meio, onde funciona um polo gastronômico de trailers, construídos pelos próprios moradores.  

Você sabia?

*O Conjunto Pinheiro é a comunidade da Maré que permanece mais próxima ao projeto arquitetônico original, apesar da construção de garagens dentro do terreno.

*A ausência de comércio na comunidade possibilitou a criação de novos espaços e casas; alguns desses “puxadinhos” foram transformados em biroscas para qualquer tipo de comércio gerador de renda.

* Atualmente, são 1.342 domicílios, nos quais vivem 4.028 pessoas (Censo Maré 2013).

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