POR QUE A POLÍCIA É TÃO VIOLENTA?

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Ato na Maré em junho de 2013 | Foto: Fabiola Loureiro

Por Eliana Sousa Silva

Nos primeiros 55 dias de 2014, tivemos pelo menos 45 mortos em operações policiais em favelas do Rio de Janeiro, sem contar feridos. São números que propõem a toda sociedade, com urgência, o desafio de refletir e questionar as ações de segurança pública no Rio, especialmente nas favelas.

Como alguém que se constituiu no mundo a partir da Maré, busco compreender as práticas das forças policiais na favela a partir do olhar dos agentes diretamente envolvidos nessa problemática: policiais, integrantes dos grupos criminosos armados e moradores. Meu esforço é pensar caminhos para ampliar o diálogo com as autoridades, que muitas vezes não conseguem envolver no debate a população diretamente atingida pela falta de políticas abrangentes de segurança pública.

É fato que as soluções neste campo não são mágicas nem rápidas. A crescente violência exige a construção de uma política global, não baseada em medidas fáceis, pirotécnicas ou de curto prazo. Um projeto que não pode, definitivamente, depender de ciclos eleitorais. Nesse sentido, a experiência em realização no Rio de Janeiro das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) poderá ser um avanço se governo e sociedade civil conseguirem incorporar ao programa, a curto prazo, a escuta do cidadão.

Passos importantes nesse sentido já vêm sendo dados por algumas instituições. Na Maré, desde 2009, a Redes da Maré vem mobilizando moradores para que participem da elaboração de propostas para esta área.

Esse trabalho tem mostrado que não haverá mudança substancial sem uma compreensão, por parte de quem vive, age e ama no bairro da Maré, sobre o que significa ter direito à segurança pública e o papel que precisam cumprir na conquista. Estou certa de que o mesmo é verdadeiro para muitas outras áreas do Rio.

Durante o trabalho de reflexão coletiva sobre as práticas policiais na Maré, percebi que o morador da favela não compartilha do mesmo conceito de segurança dos que residem em locais de maior padrão de renda. Essa é uma pista interessante para compreender as razões da intolerância e descrédito na relação da população com a polícia. A experiência de um policial que se coloca no papel de proteger a população que mora em favelas nunca fez parte da história dessas comunidades. Elas nunca vivenciaram uma rotina diferente da violência, do desrespeito e da humilhação que sempre caracterizaram as práticas de grande parte dos profissionais do aparato policial. Para muitos agentes de segurança, persiste a visão preconceituosa que considera todas as pessoas que residem em favelas como potenciais cúmplices de atividades ilícitas.

A morte da policial Alda Rafael Castilho, de 27 anos, causa indignação e tristeza, sim, a todos que trabalham para a diminuição do quadro de violência em que se encontra o Estado do Rio de Janeiro. Assim como a morte de Gabriel Lelis da Silva Barbosa, de 14 anos, e de Jefferson Moreira de Jesus, de 24, em operação policial na Maré, no dia 23 de janeiro. Vivemos num estado em que as pessoas gastam uma energia significativa observando qual morte é mais reconhecida e valorada. E isso, sem dúvida, é tão violento e indigno quanto a barbárie explícita que se vivencia no nosso cotidiano.

Não chegaremos à essência desse problema valorizando práticas que colocam pessoas de opiniões distintas como inimigas, as quais devem ser combatidas, como numa guerra. Nenhuma vida vale mais que outra, independentemente de quem se esteja falando.

Fonte: O Globo

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O Globo Newspaper

Why are the police so violent?

Experience with the Pacifying Police Units may be a breakthrough if government and civil society manage to incorporate the voice of the citizen to the program in the short run

BY ELIANA SOUSA SILVA

02/25/2014 0:00

During the first 55 days of 2014, we had at least 45 dead in police operations in the slums of Rio de Janeiro, not counting the wounded. These figures urgently suggest to the entire society the challenge to reflect upon and question the public safety initiatives in Rio, especially in the slums.

As someone who was raised to the world from Maré, I seek understanding of police practices in the slums from the perspective of the agents directly involved in this issue: police officers, members of armed criminal gangs and residents. My effort is to think of ways to expand the dialogue with the authorities, which often fail to engage the population directly affected by the lack of comprehensive public security policies in the debate.

It is a fact that solutions in this field are neither magical nor quick. The ever growing violence requires the establishment of a global policy, not based on easy, pyrotechnical or short-term measures. A project that can definitely not depend on the elections. In this sense, the experience of the Pacifying Police Units (Portuguese: Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs) in Rio de Janeiro can be a breakthrough if the government and the civil society manage to incorporate the voice of the citizen to the program in the short run.

Important steps in this direction have already been taken by some institutions. at Maré, since 2009, Redes da Maré has been mobilizing residents to participate in the preparation of proposals for this area.

This work has shown that there will be no substantial change without an understanding on the part of those who live, act and love in the Maré neighborhood, about what it means to have the right to public safety and the role they must fulfill in this achievement. I am sure the same is true for many other regions in Rio.

During the collective reflection work on police practices at Maré, I realized that the slum dweller does not share the same concept of safety of those who reside in places of higher income. That is an interesting clue to understand the reasons for intolerance and distrust in the relationship of the population with the police. The experience of a police officer who plays the role of protecting the population living in slums has never been part of the history of these communities. They have never experienced a routine different from the violence, disrespect and humiliation that have always characterized the practices of most professionals in the police apparatus. For many security agents, a jaundiced view that considers all people living in slums as potential accomplices of illegal activities persists.

The death of police officer Alda Rafael Castilho, 27, causes outrage and sadness, indeed, to all who work to reduce the situation of violence in which is the state of Rio de Janeiro finds itself. Just as the death of Gabriel Lelis da Silva Barbosa, 14, and Jefferson Moreira de Jesus, 24, in a police operation at Maré, on the 23 of January. We live in a state where people spend a significant amount of energy just watching which death is more acknowledged and appreciated. And this undoubtedly is just as violent and unworthy as the explicit barbarism we experience in our daily lives.

We will not get to the essence of this problem by valuing practices that put people of different opinions as enemies, which should be fought against like in a war. No life is worth more than another, regardless of who we are talking about.

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