Precisamos falar de sífilis

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Aumenta os casos de infectados e o tratamento é gratuito pelo SUS

Hélio Euclides

A automedicação é um perigo e pode levar à morte, em alguns casos. A conversa ao pé do ouvido com o atendente da farmácia, atrás de um paliativo para qualquer doença não é indicado para ninguém. No caso da sífilis, o risco ainda é maior.  A doença sexualmente transmissível é causada por uma bactéria, a Treponema pallidum e tem três estágios. No primeiro surge uma lesão, parecida com uma verruga, chamada de cancro, nos órgãos sexuais ou na boca.  Com o não tratamento ideal, a doença vai para a segunda fase, com lesão na pele, em geral, nas palmas das mãos e nas solas dos pés. A última fase, que pode levar à morte, as lesões são internas, mais tradicionalmente no cérebro. “O diferencial é tratar logo no primeiro estágio. A cura vem com tratamento no SUS (Sistema Único de Saúde), e nunca na farmácia. Não existe vacina para a bactéria; a cura só vem com o tratamento”, comenta Rosana Neves Tubarão, médica de família, do Centro Municipal de Saúde Samora Machel.

Segundo dados do último Boletim Epidemiológico de Sífilis, entre 2014 e 2015, a sífilis adquirida teve um aumento de quase 33%; a sífilis em gestantes 21% e a congênita, em que a mãe passa para o bebê, aumentou 19%. Dados da Secretaria Municipal de Saúde revelam que, em 2016, a taxa de detecção de sífilis na gestação por mil nascidos foi de 44,92%. No mesmo ano, a taxa de incidência de sífilis congênita por mil nascidos vivos foi de 18,30%. A cura é com o uso de Penicilina benzatina, popularmente conhecido por injeção de Benzetacil. “Esse antibiótico foi o primeiro que surgiu no mundo. O tratamento é feito em três semanas, com duas injeções semanais”, revela a médica. Ao desconfiar da contaminação, o paciente procura o SUS, que oferece os testes gratuitamente. Há o rápido, com resultado na hora. O de sangue, para saber a titulagem da doença, e o teste FTA-ABS, que verifica a presença da bactéria. “Qualquer pessoa da Maré pode vir fazer o teste rápido, é tudo sigiloso”, explica Rosana.

A bactéria também aparece em mulheres grávidas. “Importante o tratamento da gestante, pois a bactéria ultrapassa a barreira da placenta, e o bebê, se contaminado, pode ter sequelas neurológicas. Mas com o pré-natal no início da gravidez é possível detectar a doença logo no começo e, com o tratamento, tanto a gestante quanto a criança ficam bem”, destaca Rosana. A Maré tem muitos casos da doença, e não são poucas notificações na gravidez.

A prevenção é o melhor remédio. “Ter relações sexuais apenas com o uso de preservativo. Nossa unidade de saúde tem um display, onde cada um pega quantos quiser, não precisa pedir, é gratuito”, avisa a médica. “Não pode parar de usar camisinha, não conhecemos o parceiro. Hoje quem vê cara não vê coração, a pessoa ter uma fisionomia boa não significa nada. Leve o seu preservativo para casa, não confie na camisinha dada por outra pessoa, pode estar furada. Leve na bolsa e na carteira, para uso a qualquer momento”, adverte Bruna de Lima, técnica de enfermagem.

Importante, no caso de um parceiro conhecido, é tratar o casal. “O tratamento tem de ser feito na pessoa que procurou o médico e no seu companheiro ou companheira, pois a doença é uma teia. O complicado é convencer o companheiro, que muitas vezes acusa a mulher de traição, tirando seu corpo fora”, critica Rosana. Uma vez por ano tem no Programa Fique Sabendo uma mobilização de combate à sífilis na Maré. “Há campanhas no final do ano, e como os casos são muitos, nesse período não paramos, é o dia inteiro aplicando injeção”, conta Marilza. As duas profissionais avisam: o paciente que ficou curado pode ter a doença novamente, então mais um motivo para se prevenir sempre. Em caso de dúvidas, é só comparecer a uma unidade de saúde e conversar com o profissional para realizar o Teste Rápido.

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