PretaLab lança relatório sobre perfil da tecnologia no Brasil: “por um mercado mais negro e feminino”

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Às vésperas de completar cinco anos, a PretaLab lança o seu Relatório 2022 com dados que mostram, mais uma vez, a baixa participação de mulheres negras no mercado de tecnologia

Por Redação, em 12/03/2022 às 07h.

Nunca é redundante lembrar o quanto a tecnologia invadiu as nossas vidas. Transações bancárias em poucos cliques, comunicações instantâneas para qualquer parte do mundo, videoconferências, aulas online, leitores faciais, customização de produtos, utilização massiva de redes sociais e um sem-número de aplicativos foram incorporados ao cotidiano de bilhões de usuários ao redor do Planeta.

Uma influência avassaladora que gera o questionamento: quem está por detrás das inúmeras programações, definição de algoritmos, criação de soluções e inovações tecnológicas utilizadas massivamente? Quem apresenta respostas, no universo digital, às necessidades de grupos historicamente relegados, como negros e indígenas, ou de setores não majoritários da sociedade, como idosos e deficientes físicos?

Os reduzidos dados existentes mostram, infelizmente, um perfil bem homogêneo, formado em sua maioria por homens, héteros, brancos, jovens, de classe média alta. Em um setor que exige respostas diversas, heterogêneas, inventivas e amplas, faltam mulheres. E, mais ainda, mulheres negras e indígenas.
“Esta realidade não deixa de ser uma ironia, já que a primeira programadora da história foi uma mulher, a matemática inglesa Ada Lovelace”, lembra Sil Bahia, codiretora executiva do Olabi, organização social criadora do PretaLab. “É fundamental considerar mulheres negras para preenchimento de vagas e, sobretudo, para cargos de chefia. Queremos um mercado de tecnologia mais negro e feminino”, diz.

Desde a sua criação, em 2017, a PretaLab atua para suprir a lacuna de dados no setor. Diferentes estudos, relatórios e pesquisas – disponíveis na nova plataforma da projeto – foram produzidos e dão um panorama da falta de representatividade na tecnologia. E escancaram a insuficiência e mesmo inexistência de dados oficiais e levantamentos sobre a presença da mulher negra neste mercado.

“A ausência de dados oficiais é, em si, um dado fundamental, que demonstra a falta de prioridade e atenção para este tema”, atesta Sil Bahia. “A falta de diversidade nas empresas de tecnologia não só impede soluções mais criativas e alinhadas com as necessidades de diferentes grupos como também aprofunda estigmas, abismos e desigualdades ao não considerar sequer as demandas destes grupos”, conclui.

Relatório 2022: um chamado à ação

Pioneira em ações para a inserção de mulheres negras no mercado de tecnologia, a PretaLab tem se empenhado, ao lado de outras iniciativas, na produção de dados de qualidade e articulação de políticas públicas e privadas neste sentido.

Ação urgente e necessária, reforçada pelos resultados da pesquisa #QuemCodaBR, realizada entre 2018 e 2019 pela PretaLab e a consultoria de software ThoughtWorks: dentre os entrevistados, quase 35% disseram não ter nenhuma pessoa negra em sua equipe. E a maior parte dos participantes da pesquisa (65%) disseram que menos de 20% de suas equipes eram formadas por mulheres.

As possibilidades de reversão deste quadro são ainda mais palpáveis quando lembramos que o mercado de tecnologia projeta a falta de 24 mil profissionais por ano, segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom).

Embora poucos, estudos de importantes consultorias atestam os benefícios destas políticas. “A diversidade como alavanca de performance”, da norte-americana McKinsey, apresenta dados de mil empresas de 12 países e mostra que diversidade de gênero em cargos executivos aumenta em 21% as chances de lucros acima da média. Em relação a? diversidade étnica e cultural, a chance de lucro maior e? ainda mais alta: 33%.
Hoje, a PretaLab se consolida com programas permanentes que envolvem ciclos de formação, plataforma de conexão de mulheres negras que trabalham ou desejam trabalhar em tecnologia (são mais de 500 currículos cadastrados) e ações de estímulo ao poder público e empresas para criação de políticas de diversidade e inclusão. Em seu portfólio, estão consultorias a empresas como ThougthWorks, Google e OLX.

Além do Relatório 2022, a PretaLab lança um vídeo manifesto nas redes sociais em que convida as mulheres negras a se unirem na ocupação destes espaços e coloca no ar sua nova plataforma digital, totalmente repaginada e com uma série de conteúdos sobre políticas de diversidade em empresas (https://www.pretalab.com/).

O tema tem alcançado mais visibilidade e colhe alguns frutos com o engajamento de empresas no sentido de compor equipes mais diversas, no Brasil e no mundo. No entanto, há um longo caminho para a conquista de equidade e diversidade neste mercado e alguns avanços foram, inclusive, engolidos pelas consequências da pandemia. Segundo o Dieese, no terceiro trimestre de 2020, a taxa de desocupação das mulheres negras atingiu 19,8%, a mais alta entre os grupos demográficos – a taxa média de desocupação no País era de 14,6%.

“Tivemos bons resultados nestes cinco anos, mas sabemos que o desafio é grande e estamos apenas começando. Nossa motivação é colocar mulheres negras cada vez mais no protagonismo da cena tecnológica brasileira, criando soluções mais diversas e alinhadas com a realidade social de nosso País”, finaliza Sil Bahia.

Sobre o Olabi

Criador da iniciativa PretaLabi, o Olabi é uma organização social que desde 2014 trabalha por ampliar a diversidade nas áreas de tecnologia e inovação. A ONG mantém ainda o projeto Aprenda com uma Avó, que promove letramento digital para pessoas acima de 60 anos e uma série de ações educacionais.
O Olabi assessora organizações em políticas e ações de diversidade e inclusão, tendo já realizado trabalhos para o Google Brasil, Aerolito, OLX, Instituto Update, entre outras. A organização é mantida pelas principais fundações de filantropia global como Ford Foundation e Open Society Foundations.

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