Putz, pisei novamente no cocô

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Andar pelas ruas e calçadas do conjunto de favelas da Maré sem sujar o calçado é desafio antigo 

Por Hélio Euclides, em Maré de Notícias – Impresso – Edição #140

Ao sair de casa, muitos mareenses podem se sentir dentro de um videogame: desviando de obstáculos para alcançar o prêmio final. No jogo da vida real, o obstáculo mais prosaico que eles encontram é um monte de fezes de animais. Além da sujeira, os dejetos de cães e gatos ainda podem transmitir doenças tanto para as pessoas, quanto para os animais. 

Coletar e descartar corretamente as fezes dos animais é fundamental para evitar a contaminação de praças, gramados e áreas públicas, evitando o risco de infecções parasitárias tanto de outros animais como de seres humanos. 

“Acho horrível andar pelas ruas e ver tanto cocô. Quando saio com meu cachorro, levo um saquinho e pego as fezes dele. Espero que mais pessoas tenham esse hábito”, diz Beatriz de Oliveira, moradora da Nova Holanda. 

Recolher as fezes dos animais das vias públicas deixa as cidades mais limpas. “Eu não tenho cachorro, mas se tivesse, não deixava solto como vejo acontecer. Acho que esse é o motivo de tanta sujeira pelas ruas da Maré”, conta Josefa Gomes, também da Nova Holanda

Segundo a patologista animal Clarice Macêdo Pessoa, professora de veterinária da Universidade Federal de Sergipe, em entrevista ao site A União, o perigo de dejetos dos pets na rua pode se transferir para os seres humanos: ao pousar nas fezes dos animais, as moscas carregam bactérias e as depositam em alimentos expostos em restaurantes, lanchonetes ou mesmo na casa dos moradores próximos ao cocô dos bichinhos, .

Essa é uma das maneiras de zoonoses, que são doenças transmitidas dos animais para o ser humano e vice-versa, aumentarem sua incidência. Entre elas estão parvovirose, verminoses e toxoplasmose, entre outras doenças. Para evitar esses transtornos e contando com o bom senso dos moradores, no Conjunto Esperança faixas recomendam que donos de cães não deixem para trás o cocô dos seus animais das ruas. 

É sempre recomendado que os tutores dos animais recolham os dejetos e levem-nos para casa para despejá-los no vaso sanitário ou juntá-los ao lixo doméstico. Além disso, é importante ressaltar que não recolher fezes do cachorro é passível de multa, como prevê o programa Lixo Zero da Prefeitura do Rio. A punição já era prevista na Lei de Limpeza Urbana desde 2001.

Campo de refugiados

O problema das fezes de animais expostas está por toda a cidade do Rio. Uma prova disso é que a matéria mais acessada no site do Maré de Notícias fala do cocô deixado nas ruas. Um dos motivos do problema seria a alta taxa de abandono de animais.

Um exemplo do desamparo dos bichinhos é a grande quantidade de cães e gatos no abrigo SOS Focinhos, localizado na Praia de Ramos. São 300 animais, sendo 170 gatos, que são tratados por cinco protetoras que nunca desistem. 

São elas Ana Lúcia Bezerra, Damiana Paulo, Lourdes Silva, (que cuida dos gatos ferais), Elza Silva (ela alimenta os cães de rua) e Heloisa Gomes, responsável pelo abrigo. “Não temos nenhum suporte financeiro, fazemos tudo por amor”, diz Heloisa. No abrigo os animais são encaminhados para castração e vacinação. 

Ela conta que eles não param de chegar. A maioria é abandonada à beira da Praia de Ramos ou na Avenida Brasil. “Todos os dias trazemos mais, aqui parece um campo de refugiados”, lamenta, acrescentando que, já na chegada, os animais recebem imediatamente alimentação e cuidados médicos. “Falta amor aos donos dos pets. As pessoas tratam os animais como se fossem um objeto ou algo imprestável. Muitos são deixados nas lixeiras”, conta. 

Para a protetora de animais, o preço alto da ração contribuiu muito para o abandono; outro motivo seria os custos das vacinas — que, ela defende, deveriam ser gratuitas. Heloisa acredita que o aumento no abandono de animais contribui para o problema do cocô espalhado pelas ruas: “É tudo uma questão de educação, conscientização, respeito à vida e ao meio ambiente.“

Sem ajuda nem dos órgãos governamentais ou do comércio local, ela lamenta a falta de apoio que faz faltar, em alguns dias, a alimentação dos animais: eles consomem 40 quilos de ração por dia, ou 1.200 quilos por mês. O abrigo também necessita de material de limpeza e para obras de conservação e ampliação. O grupo ainda cuida de 30 gatos em tratamento contra esporotricose (uma doença altamente contagiosa que impõe o isolamento do animal e medicação constante). Quem desejar ajudar o grupo é só enviar mensagem para: [email protected] ou ligar para (21) 99232-9529.

Para informações sobre unidades de atendimento clínico gratuito e esterilização de cães e gatos, acesse nosso site: https://mareonline.com.br/.

Por uma cidade mais limpa

O Maré de Notícias entrevistou a coordenadora da Vigilância de Zoonoses da Prefeitura do Rio de Janeiro Kemle Miranda sobre animais abandonados e os malefícios das fezes nas ruas.

1) Que perigo para a saúde das pessoas resulta do abandono de cães e gatos?

Seria a transmissão de zoonoses de relevância para a saúde pública, como a esporotricose e a raiva. Por isso a importância da posse responsável e da castração dos animais para evitar a procriação indesejável e o abandono. O Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (IVISA-Rio), por meio do Centro de Controle de Zoonose e o Centro de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, oferece o serviço de castração gratuito para cães e gatos para os cariocas.

O tutor deve sempre recolher (sem contato direto) e descartar adequadamente as fezes do seu animal; é uma questão básica de higiene e urbanidade.

2) Quais doenças são transmitidas pelas fezes deixadas nas ruas?

Elas podem conter uma infinidade de microrganismos, por exemplo, bactérias, vermes, protozoários, entre outros, causadores no homem de enfermidades com sintomas neurológicos, dermatológicos e gastrointestinais. As doenças transmitidas pelo contato com fezes animais infectadas variam desde uma lesão de pele sem gravidade até uma situação clínica séria. Por isso, é de extrema importância que todos os animais sejam acompanhados por um médico veterinário para realização de exames e vermifugação periódica.

Confira abaixo os endereços das Unidades de Atendimento dos Animais [box para o site]

Parque Manuel Bandeira  Cocotá, Ilha do Governador.

Rua Marquês de Abrantes, n? 55, Flamengo.

Rua Cabo Bastos Cortes, s/n, Paciência.

Rua Sidney da Silveira, altura do Nº 97A, Bangu.

Estrada do Tingui, altura do N? 169, Campo Grande. 

Avenida Brasil, Passarela 09, Bonsucesso.

Largo Vicente de Carvalho, em frente ao número 96, Vicente de Carvalho.

Rua Dois de Fevereiro, 711, Engenho de Dentro.

Estrada do Mato Alto, 5.620,  Fazenda Modelo, Guaratiba. 

Os serviços de atendimento clínico e de esterilização de cães e gatos são gratuitos. Informações pelos telefones: (21) 2976-2893 e 2088-0097.

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