Ação conta com parceria de artistas e mães que perderam seus filhos; no próximo sábado, 9, será realizado um ato ecumênico como parte do projeto
Thaynara Santos
“Assim que eu perdi meu filho, me calei. Outro dia estava pensando e me perguntei como havia chegado até aqui neste espaço (Casa das Mulheres). Acho que é Deus mesmo, porque eu não conhecia nada. Tem muita gente na comunidade que não conhece este espaço. E isso [o espaço] é muito importante, precisamos dar valor a isso aqui, porque muitas mães têm necessidade, é uma dor muito grande. Depois que eu aprendi a vir para esses espaços, eu jamais quero me afastar, porque eu entendo a importância desse espaço, de vir e falar com vocês sobre mim, sobre a minha dor, sobre o meu filho, porque o meu filho eu não conseguir trazer de volta, mas justiça por ele eu sempre vou pedir, porque através dele eu posso salvar muitos outros jovens que estão precisando de mim aí fora”, o depoimento é de Dona Ana, moradora da Praia de Ramos e uma das mães presentes na Campanha pela Vida na Maré, que aconteceu no sábado passado (2). Mulheres, mães e jovens moradoras da Maré participaram de uma manhã de atividades na Casa das Mulheres e na Biblioteca Popular Lima Barreto, com oficina de autocuidado, correio afetivo, contação de histórias e roda de conversa.
Direito à memória
Além disso, a placa do Memorial Maré foi inaugurada na Praça da Paz (rua Ivanildo Alves, s/n). No próximo sábado, dia 9 de novembro, às 10h, será realizado um ato ecumênico – celebração religiosa realizada com a participação de representantes de diversas religiões. O espaço será ornamentado com vasos de bromélias com os nomes das vítimas pela violência armada na Maré. O Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da ONG Redes da Maré, idealizador do Memorial, acredita que a preservação da memória destas pessoas é um direito. O projeto conta com a de alguns artistas e mães que perderam seus filhos para a violência armada. O objetivo é manter vida a identidade e trajetória destas pessoas.
Liliane Santos, assistente social do Eixo de Segurança Pública, explica a importância do direito à memória. “O dia de sábado foi um marco porque foi nossa primeira experiência e foi fundamental para resgatar outro olhar sobre as pessoas que morreram no território. Foi muito importante termos esse encontro de afetos e trocas. Quando a gente fala sobre as mortes na Maré, parece que a Maré é um lugar de muita violência e de muitas violações de direitos, o que de fato é, mas é muito mais que isso. Quando a gente dá visibilidade para essas memórias e humaniza essas memórias trazemos uma nova perspectiva sobre essas pessoas. E nada melhor do que reunir as mães que têm essa memória afetiva desde o processo da infância”, diz.