Referência do jornalismo Glória Maria morre nesta manhã

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Mulheres pretas que contribuíram com o Maré de Notícias contam sobre a representatividade deste símbolo do jornalismo em suas escolhas e carreiras profissionais.

Por Jéssica Pires

Desde 2019 a jornalista lutava contra um câncer. A carioca foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional e passou por outros telejornais importantes para a história da TV como Jornal Hoje, Fantástico e o Globo Repórter. Um dos marcos da carreira de Glória foi as inúmeras viagens ao redor do mundo (mais de 100 países visitados), sempre em busca do exótico e inusitado, porém com muita proximidade com as câmeras e o público que a acompanhava. 

Glória também realizou entrevistas com grandes nomes da música e arte internacional como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna; e também do esporte, como Usain Bolt. 

Em 2019, Glória foi diagnosticada com um câncer de pulmão. O tratamento com imunoterapia teve sucesso. Depois, ela sofreu metástase no cérebro, que também pôde ser tratada com êxito por meio de cirurgia, mas os novos tratamentos não avançaram. “Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu esta manhã, no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio”, afirma o comunicado. A jornalista carioca que morre neste dia 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes, deixa duas filhas adolescentes (14 e 15 anos).

A primeira repórter negra da televisão brasileira:

“Eu não fujo da vida, entendeu? Eu acho que as coisas vão sendo colocadas no seu caminho e viver é enfrentar cada coisa. Não é fugir delas”. Glória, por vezes, compartilhou em entrevistas os momentos em que passou por situações de racismo durante a carreira. Além do incomparável legado para a história da TV  e do jornalismo brasileiro, a jornalista deixa para tantas jornalistas pretas um grande símbolo de representatividade e referência.   

Mulheres pretas que já contribuíram com o Maré de Notícias compartilharam hoje conosco sobre a representatividade da jornalista em suas escolhas e carreiras profissionais:

“Não haveria possibilidade de me imaginar jornalista se eu não tivesse crescido vendo Glória Maria. Pioneira, primeira repórter preta no Brasil, nos apresentou o mundo. Hoje é um dia muito triste para quem a tem como referência, mas seu legado permanecerá inspirando e mostrando futuros possíveis para mulheres pretas como eu.” Camille Ramos, jornalista, foi repórter do Maré de Notícias” de janeiro a maio de 2019.

“Pretos e pretas estão se amando”. A letra de Rincon Sapiência veio à minha mente quando acordei e vi tantas manifestações de carinho por Glória Maria. Ser uma viajante preta, uma jornalista preta me aproximava dessa mulher que nunca vi pessoalmente. Referência e inspiração por existir e, simplesmente, ser. Ela abriu caminhos e sua forma de viver reforçou dentro de mim a certeza de que sempre pude ser ou fazer o que eu quisesse da minha vida. Ocupar qualquer lugar, experienciar a feminilidade como desejasse. Que mulher imensa!” Tamyres Matos, jornalista, foi editora do Maré de Notícias de junho de 2021 a novembro de 2022.

“Glória Maria é um ícone do Jornalismo brasileiro. Em épocas em que termos como “representatividade” e “potência” não eram tão populares, Glória era a fusão dos dois. Lembro de vê-la na TV e pensava em como queria ser aquela mulher. Durante a minha jornada na comunicação, era em Glória que me espelhava. Uma mulher negra ocupando um espaço majoritariamente branco foi o maior incentivo que pude ter. Ela se dedicou 100% em cada um dos seus trabalhos, seja na cobertura de guerra, seja em uma imersão cultural na Jamaica. Todos foram realizados com paixão e inspiraram tantas meninas e mulheres negras, assim como eu, que hoje sou comunicadora no Maré de Notícias. Serei eternamente grata pelas portas que cresci vendo a grandiosa Glória abrir.” Andrezza Paula é repórter do Maré de Notícias.

“Não há nenhuma menina negra comunicativa e faladeira, nascida no fim dos anos 80 e início dos 90, que não foi chamada de Glória Maria. Glória era a promessa, o sonho de ascensão social para as meninas, como Pelé era para os meninos. Glória era a nossa Oprah, aliás, Oprah era a Glória deles. Eu sinto essa perda como se fosse alguém da minha família, mas prefiro lembrar dos anos de trabalho impecável, anos de Glória!”. Ana Paula Lisboa é escritora e editora do Maré de Notícias impresso.

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