Reflexões sobre favela e racismo marcam lançamento do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré

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O evento reuniu presencialmente representantes de organizações locais e da sociedade civil no diálogo e aprofundamento das informações da publicação

Por Jéssica Pires, em 11/03/2022 às 18h.

Como tangibilizar os impactos que confrontos armados podem gerar na vida e no cotidiano de uma população? Esse é um dos desafios que o projeto De Olho na Maré, do Eixo Direito à Segurança Pública da Redes da Maré, acolhe com a sistematização dos dados sobre situações de violência nas 16 comunidades da Maré, sobretudo em dia de conflitos armados decorrentes da atual política de drogas e Segurança Pública no país. Ontem (10/3), o projeto lançou mais uma edição do boletim que publiciza essa sistematização sobre a violência na região em 2021.

Estiveram presentes moradores, representantes de coletivos, organizações sociais locais e de toda a cidade para a troca na conversa com Camila Barros, assistente social e coordenadora do projeto De Olho na Maré, Rafaela Albergaria, mestra em serviço social, escritora, pesquisadora e articuladora do Mulheres Negras Decidem, e mediação do editor do Maré de Notícias, Edu Carvalho.

Metodologia “De Olho na Maré”

“Qualquer problema social só se torna alvo de respostas organizadas a partir do momento que ele é mapeado. Conseguir apontar o impacto olhando pra educação, pra saúde, diante desse processo de violência é um marco dentro dessa produção narrativa. Isso me faz ter segurança em afirmar que as favelas têm produzido tecnologias a partir dessa escrita implicada”, comentou Rafaela, sobre a metodologia de produção do boletim, durante o lançamento.

Essa metodologia de coleta de dados envolve cinco fontes: a pesquisa de campo em dias de confrontos armados; a articulação de uma rede de colaboradores – moradores e organizações atuantes nas favelas da Maré, as quais contribuem reportando e validando evidências sobre as violências ocorridas; coleta de dados oficiais junto às secretarias de governo municipal e estadual, além das polícias e institutos de pesquisa, como é o caso do Instituto de Segurança Pública (ISP); levantamento em meios de comunicação de massa e redes sociais a respeito dos eventos que ocorrem na região; e ida da equipe do “De Olho na Maré” ao campo, até no máximo 48 horas após as situações de confronto armado, com vistas a confirmar a veracidade das informações recebidas, antes de incluí-las no banco de dados.

Inovação na apresentação de dados

Este ano, além do boletim (disponível no site da Redes da Maré), o projeto apresentou a plataforma chamada “Story Maps” com os dados dos impactos da violência armada no conjunto de 16 favelas da Maré entre 2017 e 2021, com gráficos e mapas dinâmicos e interativos, que podem ser acessados clicando aqui.

A (in)segurança pública na Maré e seus impactos

Foram 20 operações policiais em 2021, com 22 mortes por arma de fogo e 103 violações de direitos (81% provocadas por agentes da segurança pública e 19% por integrantes dos grupos armados). Em decorrência a essas 20 operações, foram 6 dias de atividades suspensas nas escolas da Maré. 70% dessas ações aconteceram próximo à escolas e creches. Foram 38 dias com impactos nas unidades de saúde. Em apenas uma operação policial foi identificada a presença de ambulâncias e equipes de saúde.

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar respondeu que “as operações realizadas pela corporação são planejadas de maneira prévia e obedecem a critérios minuciosamente estratégicos” e não comenta números não provenientes do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão oficial responsável pela reunião de dados nesse contexto.

“É importante a gente pensar como vamos criar incidência junto aos órgãos públicos (Ministério Público, Defensoria Pública), aparatos da segurança pública de um modo geral. Como a gente vai cobrar desses órgãos que passem a atuar aqui dentro de uma mesma lógica como deveria atuar em todos os lugares, em toda a cidade”, sinaliza Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, que acompanha a metodologia do ‘De Olho na Maré’ desde 2016. “Ter dados confiáveis do que acontece durante um ano, dentro de um conjunto de favelas com a relevância que a Maré tem, é importante para entender o que acontece na cidade do Rio de Janeiro”, complementa a pesquisadora.

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