Riqueza que vai para o ralo

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O uso consciente da água é necessário e urgente; recurso pode faltar para a população até 2050

Maré de Notícias #97 – fevereiro de 2019

No Maré de Notícias, Edição 72, de janeiro de 2017, uma das reportagens falava do desperdício de água. De lá para cá, pouca coisa mudou. Ao andar pela Maré, é comum ver ligações clandestinas, chuveiros nas ruas ligados o tempo todo, lava-jatos que deixam a água jorrar sem qualquer critério, além de piscinas que têm suas águas trocadas no sábado e no domingo. O desperdício, aliado ao aumento natural de consumo de água no verão, provoca o pior: a falta de água em algumas localidades da Maré e mais instalações de bombas hidráulicas.

A falta de água é um problema mundial que exige conscientização e engajamento de todos, para que seja resolvido. A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que, pelo menos durante um mês do ano, cinco bilhões de pessoas ficarão sem água até 2050 – o que corresponde à metade da população mundial estimada para a data. Essa realidade é causada pelas mudanças climáticas e pelo aumento da demanda. E para quem acha que o Brasil não perecerá deste mal, as evidências provam o contrário: com a escassez de chuvas, os níveis dos reservatórios de água já estão entre os mais baixos da história.

Em meio a uma grave crise de falta de água que afeta, atualmente, o Sudeste do País, economizar não é apenas importante, mas uma necessidade vital. Segundo a ONU, 110 litros de água por dia são suficientes para atender às necessidades básicas de uma pessoa. Ou seja, uma piscina de mil litros que, em muitas casas é cheia pela manhã e esvaziada ao final do dia, daria para saciar as necessidades de uso consciente de nove pessoas.

Outros dados importantes: estima-se que 97,5% da água existente no mundo é salgada e não é adequada ao consumo direto nem à irrigação de plantações. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil acesso, pois está concentrada nas geleiras; 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e 1% encontra-se nos rios. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado, para que não prejudique nenhum dos diferentes usos que ela tem para a vida humana.

Um sol para cada morador da Maré

A população está sentindo na pele (literalmente) as agruras de um dos verões mais intensos e secos dos últimos anos. Com isso, o desafio de economizar água se torna ainda maior. “O verão veio para arrebentar, acredito que os outros anos foram diferentes. Para amenizar, o meu filho e sobrinho tomam banho de piscina. Mas, ao final do dia cubro a piscina, para economizar água. Aqui, só temos água de madrugada, quando aproveito para usar a máquina de lavar”, conta Verônica Batista, moradora do Parque Maré.

Para estancar essa sangria, pequenas providências são mais que bem-vindas – são fundamentais. “Cada ano que passa, piora o calor. Para diminuir a sensação de temperatura elevada, encho a piscina para os sobrinhos. O tamanho da piscina é pequeno para não desperdiçar água”, ensina Assis Fernandes, morador do Parque Maré.

Jupira dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias lembra-se de um passado que não será revivido – não se o mau uso da água continuar neste ritmo. “Quando fizeram o projeto Água para Todos, foi algo satisfatório. Mas, depois da obra na Avenida Brasil, a água enfraqueceu muito. No verão, para subir ao 2º andar das casas, só com bomba. Nas casas de 1º andar, só na madrugada. Não podemos acumular água, por causa do mosquito Aedes aegypti. Para piorar, ainda tem muito desperdício de água, com piscinas enormes”, avalia.

É verdade, também, que algumas localidades da Maré sofrem mais que outras. “Sempre tem problema de falta de água. Não vejo solução, já entramos em contato com a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) que explicou que somos final de linha (de distribuição de água). Está muito difícil, pois nesse verão é ‘geral’ sem água. Para piorar, tem muita piscina nas ruas da Maré”, detalha Cláudia Santana, presidente da Associação de Moradores do Parque Ecológico.

A informação de final de linha procede para o Parque Ecológico e Salsa e Merengue. Na Maré, o início de linha está no Parque União, e três tubulações fazem a distribuição, contudo, quando há desperdício no percurso, a água não chega ao final.

Esgoto: outro grande problema

Uma preocupação de ambientalistas é para onde vai a água que usamos. Numa população global de sete bilhões de pessoas, o uso consciente e o reuso da água são linhas fundamentais das políticas ambientais. Na Maré, todo o esgoto vai para a Baía de Guanabara, o que acarreta, entre outros problemas, a poluição do Canal do Cunha. Um exemplo é a Salsa e Merengue, onde a Prefeitura, ao construir as casas, fez uma canalização aberta para o escoamento das águas pluviais, ou seja, da chuva. No entanto, com o passar do tempo, entupimentos e canos clandestinos foram direcionados para essa canalização, que hoje escoa esgotos. “Essa vala é ridícula, deveriam prender quem inventou isso. Todos reclamam, mas não acontece nada. Acho que poderia ter um trabalho de educação, pois foi feita para água da chuva, e virou esgoto a céu aberto”, reclama Anselmo Rangel, comerciante na Salsa e Merengue.

Diversas vezes, o Maré de Notícias abordou o tema do esgotamento da favela. Na Edição 35, a Cedae anunciou que o início da obra de substituição de tubulações de esgoto da Maré e encaminhamento para estação de tratamento estava previsto para março de 2013, com prazo de 720 dias para a construção de seis elevatórias de pequeno porte. A obra ligaria domicílios a novas redes coletoras de esgoto de 150 a 1.200 milímetros.

Na Edição 47, mais uma vez, a Cedae foi consultada. Na época, prometeu que as obras de esgotamento sanitário começariam em março de 2014. A obra traria benefícios para a Baía de Guanabara, ligando Marcílio Dias, Praia de Ramos e Roquete Pinto à Estação de Tratamento da Penha, e o restante da Maré à Estação de Alegria. Por fim, criaria um cinturão nas galerias para o esgoto que cai, clandestinamente, nos canais.

No ano passado, na Edição 88, de maio, a Cedae respondeu ao Maré de Notícias que, devido à ocupação desordenada do solo, era necessário readequar a rede. Para isso, a Companhia estava finalizando ajustes no projeto que visava adaptar a rede existente e implantar novas redes para direcionar o esgoto da região à ETE Alegria.

Nesta Edição, consultamos novamente a Cedae, que alegou estar finalizando processo para a contratação do projeto das obras de complementação do sistema de esgotamento sanitário. Embora o Maré de Notícias tenha entrado diversas vezes em contato (por telefone e e-mail) solicitando informações detalhadas sobre a obra, até o fechamento desta Edição, a Companhia não respondeu aos questionamentos.

Fórmulas de economia

No verão, devido às altas temperaturas, o consumo de água aumenta até 25% em comparação aos demais períodos do ano – o que pode causar flutuação no abastecimento em algumas localidades. Confira algumas dicas – óbvias – mas que, infelizmente, não são seguidas por muitos moradores.

– Calçadas devem ser varridas e, não, lavadas.

– Para limpar o carro, use baldes em vez de mangueiras. Assim, você economiza água e seu veículo fica limpo do mesmo jeito.

– Feche a torneira enquanto escova os dentes e incentive seus familiares a fazerem o mesmo.

– Durante o banho, feche o chuveiro enquanto estiver passando o sabonete ou xampu.

– Verifique, com frequência, a existência de vazamentos internos.

– Troque a descarga do banheiro por modelos mais econômicos.

– Conserte ou troque torneiras que não fecham direito.

– É importantíssimo desligar os registros de chuveiros de rua, quando não estão sendo usados.

– Encha a piscina apenas uma vez nos fins de semanas e, se possível, reaproveite essa água para lavar roupa ou usá-la na descarga.

Você sabia?

– Que a cada minuto, seis litros de água saem do chuveiro?

– Que de uma torneira aberta durante um minuto para escovar os dentes saem quatro litros e meio de água?

– Que uma torneira pingando por 24 horas desperdiça 46 litros de água?

– Que, ao lavar a calçada com uma mangueira por apenas um minuto, gasta-se 20 litros de água?

– Que cada vez que se usa a descarga equivale ao gasto de seis litros?

Informações dadas pela Cedae por meio do site: http://www.todagotaconta.com.br/

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