Por Kelly San, em 27/04/2021 às 11h21
O contágio pelo novo coronavírus ocorre de forma diferente em crianças e adultos. Nos pequenos, o vírus parece usar o receptor da enzima conversora de Angiotensina 2 (ECA-2) para se alojar e alguns estudos mostram que em crianças esses receptores estão em menor quantidade nas vias aéreas como nariz boca e garganta – comparados aos adultos – o que dificulta a infecção do novo coronavírus . Mesmo assim, cientistas indicam que este grupo, pode sim ser infectado e quando infectado pelo vírus, tende a ser assintomático.
“No início da pandemia, pensava-se que crianças não estavam sendo infectadas, mas agora está claro que a quantidade de infecção em crianças é a mesma que em adultos”, disse Andrew Pollard, professor de Infecções Pediátricas e Imunidade na Universidade de Oxford, em entrevista à BBC Brasil.
Levando este cenário em consideração, autoridades de Saúde, desde o ano passado, vem monitorando uma doença em crianças que pode está ligada à Covid-19. A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), associada à Covid-19, tem causado óbitos em crianças e adolescentes, segundo dados recentes do Ministério da Saúde. De abril de 2020 até fevereiro de 2021, no Brasil, foram 736 casos e 46 óbitos de crianças e adolescentes por esta síndrome.
A (SIM-P) pode se desenvolver em crianças e adolescentes que tiveram contato com o vírus da Covid-19 previamente e que, inclusive, já estão curadas da enfermidade. Ela vem sendo registrada em uma minoria de crianças atingidas pela Covid-19 ao longo da pandemia, mas foi responsável por pouco mais de 40 óbitos. No mundo são mais de 300 casos em países como Espanha, França, Canadá e Estados Unidos. Conforme informações da secretária de saúde, parte dos pacientes que desenvolveram a (SIM-P), apresentaram infecção pelo coronavírus ou tiveram Covid-19 anteriormente, ainda não há evidências de que uma síndrome cause a outra, mas autoridades seguem avaliando o crescimento da síndrome no país.
Um estudo recente realizado pela prefeitura de São Paulo diz que 64,5% das crianças expostas ao vírus apresentam quadros leves. No Brasil, as mortes nesse segmento são raras, sendo um pouco mais de 0,6% de registros de óbitos segundo o mesmo estudo.
Uma das principais medidas adotadas por muitos governos foi o fechamento de todos os estabelecimentos de ensino, com base de que as crianças, apesar de serem muito menos propensas a desenvolver os sintomas mais graves da covid-19, poderiam contagiar adultos, facilitando a disseminação do vírus, tornando-se como os especialistas chamam “super-disseminadores”. Mas alguns experimentos em pequenas escalas realizados em países da Europa e na Ásia, mostraram que crianças pequenas são menos suscetíveis a infecção e transmissão do vírus.
Medidas vêm sendo pensadas para imunização de crianças e adolescentes
No dia 30 de março de 2021 a presidente da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, Nísia Trindade, anunciou que um pedido seria apresentado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, para iniciar estudos da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a covid-19 em crianças no Brasil. No mundo, os laboratórios Oxford/AstraZeneca, Sinovac Biotech, Pfizer/BioNTech e Moderna iniciaram as testagens de suas vacinas em crianças e adolescentes mais jovens, e caso seja comprovada a eficácia dos testes, ampliará a garantia de proteção para este grupo também. O laboratório Johnson & Johnson disse que testará a vacina em bebês e crianças, mas ainda não anunciou a data para o início dos testes. O Instituto Gamaleya, responsável pela vacina Sputnik V, anunciou que pretende dar início aos testes clínicos em menores de 18 anos, também sem data. A recomendação da Fiocruz é que crianças acima de dois anos, sem o uso de chupeta, utilizem máscaras para proteção.