Campanha ‘Somos da Maré e Temos Direitos’ mobiliza moradores sobre segurança pública

Data:

Promovida pela Redes da Maré campanha leva informações do que pode ou não em abordagens e como se manter em segurança

A campanha Somos da Maré e Temos Direitos está circulando pelas favelas do Conjunto de Favelas da Maré. Desde ontem (17) Equipes da Redes da Maré lideradas pelo Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça (DSPAJ) levam informações e conversam com moradores pelas ruas da Maré.

A ação mostra aos moradores da Maré o óbvio mas que é importante ser dito: moradores de favelas também têm direitos. Para além disso, a mobilização mostra o que pode ou não acontecer em uma abordagem policial e como os moradores podem se manter seguros, usando uma linguagem simples e didática. 

Para a mobilizadora Bruna Silva, de 44 anos, moradora da Vila dos Pinheiros e mãe de Marcus Vinicius  – assassinado aos 14 anos, em 2018, durante uma operação policial – é importante levar estas informações sobre legalidade de operações policiais na favela: “Porque nem tudo eles podem fazer e a maioria das pessoas acham normal ter a casa invadida pela polícia com o pé na porta, por não saberem dos seus direitos”, afirma. Bruna também realiza trabalhos fora do Maré junto com mães de vítimas da violência do Estado. “Para a gente estar lá fora é bom porque muita gente acha que favelado não tem voz nem direito”, conclui. 

A responsável pela frente de mobilização e articulação do eixo DSPAJ, Isabel Barbosa, explica que a campanha traz o morador como protagonista na luta por segurança pública: “Estamos nas ruas aberto ao diálogo com os  moradores pensando juntos o quanto os impactos dessa política militarizada afetam nossa vida e quais estratégias a gente pode adotar para se cuidar e ter uma nova política de segurança pública feita com a participação da população”.  

Assuntos relacionados

O que fazer em uma abordagem?

A cartilha “Somos da Maré. Temos direitos!” está sendo distribuída com dicas de segurança incluindo o que o policial pode ou não fazer numa abordagem.

Segundo o documento, o morador abordado precisa ficar calmo, manter-se seguro e responder os questionamentos do policial de forma objetiva e demonstrando tranquilidade. Caso não se sinta seguro, evite locais fechados e permanecer em ambientes públicos.

Em casos de violência tentar demonstrar aos vizinhos e familiares o que está acontecendo para que possam pedir ajuda. Em casos que não seja possível pedir ajuda tentar memorizar o máximo de informações possíveis sobre o ocorrido. Para denunciar uma violência depois de uma abordagem, grave áudio relatando e fotografe e filme danos físicos e materiais na horizontal (celular deitado).

O que pode ou não numa abordagem policial?

Não vale o uso de mandatos coletivos para entrar na casa dos moradores. O policial deve apresentar um mandato judicial contendo o nome completo, endereço e motivo da busca. Entrar no domicílio sem mandado judicial e sem autorização do morador a menos que em situação de flagrante situação.

Os policiais não podem usar escolas e unidades de saúde como base de operações policiais, nem revistar crianças e adolescentes. Mulheres devem ser preferencialmente revistadas por policiais mulheres, exceto em casos que retardem ou prejudiquem a investigação. Os policiais também não podem pedir para a pessoa ficar de roupas íntimas nem coletar depoimentos na rua, apenas em delegacias

Também não pode revistar celular sem mandado judicial ou autorização do morador, ofender ou constranger a pessoa na abordagem. Deter uma pessoa por falta de documentos, nem manter uma pessoa em cárcere privado.

O que vale numa abordagem policial?

No documento informa que vale o policial se identificar, pedir a identificação da pessoa abordada, revistar desde que haja algum motivo claro para isso. Também vale pedir para que a pessoa revistada levante os braços e encoste na parede. 

O policial pode solicitar a entrada na casa do morador somente em flagrante delito. Conduzir alguém a delegacia na ausência de documentos caso haja suspeita fundamentada de pendência na justiça. Também é importante haver em todas as operações ambulância para socorro de feridos em local acessível a todos. 

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca