Você está preparado para o mundo digital?

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Responda honestamente e, em caso negativo, não desanime: é sempre tempo de aprender

Flávia Veloso

O Brasil é, atualmente, um dos países que mais acessa internet no mundo. A ferramenta se faz indispensável no cotidiano de muitas pessoas. Ela é um universo, onde é possível se relacionar, entreter-se, fazer negócios, se informar, estudar e trabalhar. Tudo está conectado e, a cada dia, softwares e aparelhos são criados e desenvolvidos e a rede só tende a crescer. Mas será que toda a população está incluída e preparada intelectualmente para desfrutar do que tem surgido em termos de tecnologia?

 Mesmo sendo o quarto país do planeta em número de usuários, como mostra o relatório “Economia da Informação 2017: Digitalização, Comércio e Desenvolvimento”, da Organização das Nações Unidas (ONU), outros estudos revelam que nem todos os brasileiros estão conectados e que o Brasil não está devidamente alfabetizado tecnologicamente.  Alfabetização tecnológica pode ser definida como a interpretação, compreensão e manuseio de técnicas e linguagens da tecnologia. Saber usar programas, sites, aplicativos, dispositivos e se comunicar por meio de aparelhos digitais são alguns dos conhecimentos aplicados nesse tipo de alfabetização.

 Ainda que quase 70% do País sejam usuários, quase toda a população tem como principal finalidade o uso para a comunicação, o que reflete numa utilização muito limitada da ferramenta, dadas as inúmeras possibilidades que a internet possui. E de todos os motivos listados na pesquisa para o não uso, o maior deles foi não o de não saber fazê-lo.

Outro dado que indica o nível de alfabetização tecnológica do Brasil é apresentado por um estudo feito pela revista inglesa “The Economist”, em parceria com o Facebook. O relatório, de 2019, revela que o País ocupa a 66ª posição dentre 100 outras nações na alfabetização tecnológica, levando-se em consideração o nível de educação e preparação para usar a internet.

Impactos no mercado de trabalho

Uma grande preocupação é como o mundo do trabalho pode reagir em relação aos avanços tecnológicos. Acredita-se que o futuro do trabalho não vai ser negativamente afetado com as evoluções: postos não resistirão com o passar do tempo, mas outros surgirão, conforme chegam as novidades e atualizações.

Há também uma tendência de que muitas profissões deixem de existir. Empregos com tarefas rotineiras, como operador de telemarketing e caixa, possuem grande possibilidade de desaparecer, tendo em vista que as máquinas podem, cada vez mais facilmente, serem programadas para receber comandos lógicos que não tenham imprevisibilidades.

Empregos do futuro

As áreas de dados, comunicação, desenvolvimento de softwares, automação e robótica são as que mais vêm ganhando espaço, e a tendência é de que funções nesses ramos se multipliquem nos próximos anos. E para atender a essas demandas, a população deve estar capacitada. Quanto mais o poder público e as instituições privadas investirem em formação para setores ligados às novas tecnologias, melhor preparadas estarão as pessoas para as mudanças no mercado de trabalho.

A importância da alfabetização tecnológica

Independentemente da finalidade, a população passa grande parte do tempo manuseando smartphones, tablets e computadores para se comunicar, o que mostra a importância da alfabetização tecnológica. Mas isso não significa que os dispositivos estão sendo usados de maneira construtiva. “Trazer tecnologia para a sala de aula em escolas, cursos e afins não garante a aprendizagem. Precisamos ir além do uso de slides ou computadores em classe, criar atividades e projetos que desenvolvam senso crítico e reflexão por parte dos alunos”, diz Kelly Marques, coordenadora do Eixo de Educação da Redes da Maré.

 A coordenadora comentou sobre a inclusão digital nas periferias: “A favela faz parte da cidade, não há razão para esse tipo de projeto não acontecer aqui. Cada vez mais, as tecnologias estão inseridas no nosso cotidiano. Por isso, é preciso preparar os jovens para este cenário, por meio da alfabetização tecnológica. Quem não se adaptar, encontrará dificuldades de inserção no mercado de trabalho, já que é esperado que, nas profissões do futuro, o uso de programação, computadores e dispositivos tecnológicos seja constante e consciente, e a Maré não foge disso”.

Do básico ao avançado

O projeto Conectando, desenvolvido pelo Eixo de Educação da Redes da Maré, desde 2007, atua promovendo empoderamento digital de jovens e adultos da Maré. Em parceria com a organização social Recode, o Conectando oferece aulas de informática, com cinco módulos, do básico ao avançado.

De acordo com Kelly Marques, a procura pelo curso é maior para as classes de Introdução ao Mundo Digital, o que mostra certo desconhecimento sobre todo o potencial de uso dos dispositivos tecnológicos. O módulo de Introdução, que é o primeiro do curso, ajudou alunos como a Andréa Silva, de 18 anos, a se inserirem no mercado de trabalho.

Tecnologias: o futuro do mercado de trabalho | Foto: Douglas Lopes

Empregabilidade

Andréa é moradora da Maré e passou no teste para seu primeiro emprego aplicando os conhecimentos que adquiriu nas aulas do Conectando. Ela conta que teve de fazer uma prova de Excel para conseguir a vaga de jovem aprendiz em auxiliar de escritório. A jovem diz também que o curso a ajudou com sua desenvoltura: “O curso é bem dinâmico, os alunos ajudam uns aos outros a tirar dúvidas, o que melhora o diálogo e nossa forma de nos relacionarmos com as pessoas”.

O contato com a tecnologia desde pequeno

“O mundo está evoluindo e nós precisamos evoluir juntos. Quase nada mais funciona sem tecnologia, logo mais empregos estão sendo gerados nessa área. Isso significa que temos bastante serviço, então precisamos formar as crianças, para termos mão de obra no futuro”, diz Lucas Dominique, um dos colaboradores do projeto Pipas Labs.

O projeto trabalha com crianças e jovens a experiência de soltar pipa de uma forma diferente. Com um aplicativo, os alunos conseguem capturar os movimentos das pipas. Um dispositivo chamado arduino, preso à pipa, gera a trajetória em gráfico, que é mostrado na tela do celular.

Inclusão digital na terceira idade traz qualidade de vida

Com a expectativa de vida cada vez maior do brasileiro, alguns projetos pensam a alfabetização tecnológica como melhoria na qualidade de vida. Assim, a Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati Unisuam) promove oficinas de inclusão digital que estimulam memória, leitura e a percepção visual para pessoas com mais de 60 anos.

Rose Sobral, coordenadora da unidade de Bonsucesso, também atenta às melhorias na autoestima dessas pessoas a partir da integração e socialização, reduzindo até fatores depressivos, e as tornando mais ativas e capazes de desenvolver novas habilidades, além de facilitar o cotidiano, afirma: “Hoje, tudo é tecnologia, desde os eletrodomésticos até caixas eletrônicos em bancos, então o acesso aos meios de comunicação torna o dia a dia delas mais prático e fácil”.

UNATI Unisuam

As oficinas de inclusão digital ensinam a idosos os comandos primários de computadores e internet. Nas classes, os alunos aprendem a ligar e desligar as máquinas, digitar e fazer pesquisas.  As inscrições são semestrais, custam R$50 e o aluno pode escolher quatro das várias modalidades de oficinas que a Unati oferece.

Os interessados precisam comparecer à Unisuam de Bonsucesso (Avenida Paris, 84 – Bonsucesso) levando RG, CPF, comprovante de residência e atestado médico, se quiserem participar das oficinas de atividades físicas.

Projeto Conectando – Redes da Maré

As aulas são ministradas no laboratório de informática, na sede da Redes, que fica na Rua Sargento Silva Nunes, nº 1.012, Nova Holanda. Por enquanto, não há informações sobre novas inscrições.

Projeto Pipas Labs

O projeto oferecerá uma colônia de férias no Complexo do Alemão, na Casa Voz, nova sede da ONG Voz das Comunidades. As informações sobre a colônia podem ser conferidas na página do Pipas Labs no Facebook.

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