Todos contra um mosquito

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Os nove estados do Nordeste, Espírito Santo e Rio de Janeiro estão em estado de alerta sobre surto de dengue em 2020

Hélio Euclides

Um jogo lançado em 1986 vem tirando o sono de muita gente. O motivo é que até hoje ninguém conseguiu chegar a última fase, onde se vence o vilão. O game consiste em acabar com todos os criadouros de mosquito e assim vencer o desprezível Aedes aegypti. Nesse jogo o Brasil só vem perdendo: a cada ano vem aumentando o número de casos de infectados pela dengue. Segundo o Ministério da Saúde, 11 estados poderão ter o surto de dengue sorotipo 2 este ano, entre eles o Rio de Janeiro. 

No país, os primeiros relatos de dengue datam do final do século XIX, em Curitiba, e do início do século XX, em Niterói. A doença foi erradicada em 1955, mas segundo o Ministério da Saúde, o retorno ocorre em 1982, em Boa Vista. Em 1986, houve epidemias no Rio de Janeiro e em algumas capitais do Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorrendo no Brasil de forma continuada. A dengue é uma doença cujo período de maior transmissão coincide com o verão, devido aos fatores climáticos favoráveis à proliferação do mosquito Aedes aegypti em ambientes quentes e úmidos. A expectativa é que 2020 vai ser um desses anos, com a previsão de um verão de muitas chuvas. 

Em 2019, foram registrados 1.544.987 no país, um número superior de 488% em relação há 2018. A doença é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Após picar uma pessoa infectada com um dos quatro sorotipos do vírus, a fêmea pode transmitir o vírus para outras pessoas. “Já tive dengue, por isso evito água parada. Sinto falta do pessoal do mata mosquito. Acredito que ninguém está preparado para essa doença”, comenta Josefa Berta, de 69 anos, moradora da Nova Holanda. O mesmo mosquito ainda pode transmitir zica, chikungunya e febre amarela.

A melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, eliminando água armazenada que pode se tornar possíveis criadouros, como em vasos de plantas, baldes de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampinhas de garrafas. “O que vemos é uma via de mão dupla. Uma parcela de culpa é do governo, por não ter políticas públicas. Há três anos que não aparece ninguém na minha casa para fazer um trabalho de prevenção. Do outro lado, a população, que não toma atitude, parece que não está se importando”, diz Lucas Mateus, de 24 anos, morador da Nova Holanda.

“É bem possível um surto, pois além das condições climáticas, soma-se a isso o desmantelamento na saúde básica feita pela gestão municipal. É leviano para qualquer um da saúde afirmar que o Rio está preparado para uma epidemia. Porque o que combate qualquer surto é a prevenção e isso depende de planejamento, algo que acredito que não ocorreu”, conta um agente de saúde da Maré, que preferiu não se identificar. Os principais sintomas da dengue são: febre alta, dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Em caso de suspeita, é fundamental procurar um profissional de saúde para o correto diagnóstico, notificação e tratamento. 

Apesar do desânimo, o agente vê ações positivas. “Porém, instituições como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) têm criado métodos para eliminar a transmissão do vírus da dengue, como o projeto Wolbachia”, acrescenta. Em janeiro de 2019, a Maré começou a receber os Aedes aegypti com Wolbachia, os mosquitos aliados no combate da dengue, zika e chikungunya. Após algumas semanas de liberação, foram usadas armadilhas para capturar mosquitos. Outra iniciativa é realizada pelos “Heróis Contra a Dengue”, da Redes da Maré que, atua num trabalho de conscientização em escolas, através de jovens estudantes capacitados.

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