Trens do Rio podem piorar e a tarifa passar de R$ 7 em 2022 se nada mudar na Supervia, aponta estudo

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No mês da mobilidade, Casa Fluminense e Observatório dos Trens lançam  documento de recomendações para o transporte ferroviário do Rio, de olho no  processo de revisão do contrato de concessão da Supervia

Por Casa Fluminense, em 25/09/2021 às 09h

O 22 de setembro é conhecido como o Dia Mundial sem Carro, data que  reacende o debate sobre a valorização do transporte público, por um sistema bom,  barato, seguro e limpo. Nesse contexto, após série de ações denunciando a falta de infraestrutura e o alto preço da tarifa, a Casa Fluminense e o Observatório dos Trens  lançam um documento de recomendações para a modernização da malha  ferroviária sob a concessão da Supervia. Com o agravamento da precarização dos  transportes do Rio, especialmente nos trens metropolitanos – responsáveis pelo  deslocamento da população de boa parte das periferias da metrópole – o  documento de recomendações apresenta os principais desafios e também as possíveis soluções para a crise estrutural.  

A infraestrutura e o valor da passagem são dois dos principais pontos de  atenção. No início de 2020, o movimento “Supervia Aumento Não” conseguiu  minimizar o reajuste anual dos trens por alguns meses, fruto da mobilização de  diversas entidades da sociedade civil, mas em seguida, sem aviso prévio, a  suspensão foi revogada e a tarifa passou a custar R$5,90. O governo do Estado  ainda não conseguiu entrar em acordo com a concessionária. O documento de  recomendações alerta que, se nada for feito, em fevereiro de 2022, a tarifa do trem  pode chegar a R$7,73 (usando valores de agosto/2021) caso as partes não entrem  num acordo sobre o índice de reajuste. Para impedir esse aumento brusco, o  documento propõe uma mudança do atual índice usado para a revisão da tarifa, o  IGP-M/FGV, que tem em sua composição preços cotados em dólar. De acordo com  a pesquisa, um indicador mais adequado à realidade brasileira seria o IPCA/IBGE,  que mede a inflação ao consumidor amplo. O coordenador geral da Casa  Fluminense, Henrique Silveira, explica como a base atual para o reajuste pode  agravar o valor da tarifa.  

“O IGP-M tem sofrido grande variação por estar atrelado ao dólar,  acumulando alta de 30% nos últimos 12 meses. Estamos fazendo um alerta para a  população, pois se não mudarmos o índice de reajuste a tarifa dos trens pode  ultrapassar 7 reais em 2022, o que seria um desastre para os passageiros. Por outro  lado, o governo do Estado precisa revisar o contrato de concessão da Supervia e  incluir novas fontes de recursos para a operação e qualificação do sistema de trens”  – Henrique Silveira – Coordenador Geral da Casa Fluminense.

No início do documento de recomendações, são apresentados os principais  dados sobre o panorama atual como a diminuição do número de passageiros,  crescimento de furtos de cabos, aumentos tarifários e a falta de acessibilidade do  serviço. Após a contextualização, os pesquisadores da Casa Fluminense e do  Observatório dos Trens apontam cinco recomendações que podem ajudar na  resolução das questões apresentadas. 

Entre os caminhos destacados está a utilização do recurso de R$ 1,7 bilhão,  anunciado pelo governo do Estado para o metrô da Baixada (Pavuna-Nova Iguaçu),  previsto no “Pacto RJ” com recursos da venda da CEDAE, para o investimento na  qualificação e modernização do sistema de trens. A adequação do vão e dos  desníveis entre os trens e as plataformas, a criação do Conselho de Passageiros, a  política de receitas extra-tarifárias e a revogação do contrato de concessão – que  está previsto para até 2048 – são algumas das sugestões explicitadas no  documento. 

Outro foco discutido no estudo é a falta de infraestrutura das estações e dos  trens da Supervia, o tema tem sido foco de pesquisa desde 2017, a partir da morte  da estudante Joana Bonifácio, ocorrida no ramal Belford Roxo, estação de Coelho  da Rocha em São João de Meriti/RJ. A jovem ficou com a perna presa no vão entre  o trem e a plataforma ao tentar embarcar em um dos vagões, a composição seguiu  viagem e a jovem foi atropelada.  

Sua história junto a de outras vítimas da precariedade do serviço são tema  do livro “Não Foi Em Vão: mobilidade, desigualdade e segurança nos trens  metropolitanos do Rio de Janeiro”. De autoria de Rafaela Albergaria, João Pedro  Martins e Vitor Mihessen, e editada pela Casa Fluminense e Fundação Heinrich  Böll, uma das pesquisas para a obra constatou que em um período 2008 a 2018  foram registradas a ocorrência de 368 mortes por atropelamento ferroviário nos  trens urbanos do Rio de Janeiro. Para a coordenadora do Observatório dos Trens e  conselheira da Casa Fluminense, Rafaela Albergaria, as medidas do documento  ajudam a criar um futuro mais justo para os passageiros fluminenses.  

“A adoção de medidas de readequação, revitalização e investimento no  sistema ferroviário, são fundamentais para o combate às desigualdades, para  efetivação do direito à cidade, e proteção da vida de milhares de passageiros que  têm o trem como o principal transporte para acessar não só trabalho, mas as redes  de saúde, educação e lazer, para viver na região metropolitana do Rio de Janeiro,  para uma cidade mais sustentável”, afirmou Rafaela.  

Acesse o documento Recomendações para a modernização dos trens da Supervia“, já disponível para download no site da Casa Fluminense.

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