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Seu Irineu e Dona Creuza: satisfeitos com a vida que têm, há 40 anos, na Roquete

Maré de Notícias #100

Camille Ramos

Entrando pela Rua Ouricuri da Passarela 12, na Avenida Brasil, não tem quem não saiba indicar onde mora o Seu Irineu Ferreira da Silva, 79 anos, e a Dona Creuza Oliveira Azevedo, 77, ou Dona Irinete, como as pessoas insistem em chamá-la. Juntos há 39 anos, eles traduzem bem a história da Roquete Pinto. Seu Irineu veio de Pernambuco e Dona Creuza, do Espírito Santo – ambos buscando melhores condições – e foi na Maré que eles construíram a vida.

Dona Creuza chegou primeiro na Roquete. Ainda existiam as antenas da Rádio que deu nome à comunidade e elas ficavam em meio ao mangue, próximas de onde Dona Creuza construiu sua primeira casa, um barraco de madeira onde cabia apenas um fogão e um sofá fechado, no Beco da Serragem. Com conhecidos, conseguiu os entulhos das obras de modernização do Centro da cidade, entre as décadas de 1960 e 1970, e aterrou a área onde subiu uma casa de tijolos. Com esse mesmo entulho, grande parte da Roquete Pinto foi aterrada.

Luta por condições básicas

Nessa época, conheceu Seu Irineu e abriram a primeira sapataria da Roquete. Tempos depois, se mudaram pra Rua Ouricuri. “Eu já tinha saído da lama e o Irineu queria me trazer pra dentro dela novamente, eu não queria vir morar aqui”, conta dona Creuza. A Rua Ouricuri, uma das principais da Roquete Pinto, não tinha asfalto, não tinha poste e o saneamento era menos que o básico. “A Rua era só lama, barracos de madeira e as palafitas no final”, conta seu Irineu.

A água da Rua Ouricuri era encanada, mas ruim, como conta Seu Irineu, que para melhorias da comunidade entrou para a associação de moradores. “Fui a muitas reuniões para conseguirmos o asfalto, a luz nos postes e para algumas casas. Isso na década de 1980. Na comunidade, tudo é difícil até hoje. Agora temos uma água muito boa, mas os esgotos entopem com frequência”, conta Seu Irineu e completa: “Na década de 1950, o mangue ia até a Avenida Brasil, a maré chegava na Passarela 12.

Melhor lugar do mundo

A comunidade fica próxima à Praia de Ramos, que Dona Creuza e Seu Irineu frequentavam, desde quando ainda a chamavam de Praia de Maria Angu. “A água nunca foi muito limpa, mas a gente sempre tomou banho. Antigamente, ali também tinha pontos de prostituição, por volta dos anos 1970. A gente saía pra trabalhar ainda no escuro e tinha um monte de mulher pelada”, conta Dona Creuza.

O tempo passou e mesmo com muitos problemas de infraestrutura, seu Irineu não hesita em dizer: “Aqui é o melhor lugar do mundo pra se viver. Aqui construí minha vida e, hoje, eu me considero milionário! ”  

“Aqui construí minha vida e hoje eu me considero milionário! ” Irineu Ferreira da Silva

Você sabia?

*O local começou a ser ocupado em 1955. Os aterros foram feitos pelos próprios moradores.

*A favela tem esse nome por causa das torres transmissoras da Rádio Roquete Pinto, cravadas no mangue da região.

*Em 1995, os transmissores da estação foram roubados. Por isso, a Rádio ficou fora do ar até julho de 2002.

*A Roquete tem 2.867 domicílios, nos quais vivem 8.132 pessoas, segundo o Censo Maré 2013.

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