Missionário se despede da Maré depois de quase seis décadas de trabalho

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Padre Piero, membro do Movimento Contemplativo Missionário Padre de Foucauld atuou no território junto às pessoas em situação de rua desde o tempo das palafitas

O Papa Francisco, em visita à Mongólia, afirmou que queria “dissipar rumores” de que o objetivo das instituições católicas era converter as pessoas à religião, “como se cuidar dos outros fosse uma forma de seduzir as pessoas a ‘se juntarem’”. O missionário padre Giuseppe Olivero, mais conhecido como padre Piero, membro do Movimento Contemplativo Missionário Padre de Foucauld, já sabia disso e simplesmente por amor ao próximo atuou no território junto às pessoas em situação de rua desde o tempo das palafitas. Na próxima quinta-feira, (07/09) ele regressará à sua terra natal, Itália, por motivo de doença. 

Nascido em 1942, o missionário mostrou nos últimos anos a importância da igreja em saída, ou seja, o trabalho nas ruas. Em retiro em 2017, para a Pastoral Carcerária, ele falou da importância da humildade, da sociedade e do amor compassivo para que se tornem misericordiosos. 

O livro Teologia da Mesa, de padre João Damasceno, do Santuário São Paulo Apóstolo e Nossa Senhora da Paz, no Parque União, cita que as freiras e padres do Movimento Contemplativo Missionários de Carlos de Foucauld desenvolveram um belíssimo e frutífero trabalho no início das palafitas. Eram celebrações em barracos e missas campais em baixo de algumas árvores que na época ainda existiam na comunidade. O livro ainda cita o padre Piero e a sua radical opção pelos mais pobres, como é das práxis dessas fraternidades baseadas em sua espiritualidade. 

Lucimar Cavalcante, moradora da Nova Holanda, trabalhou com padre Piero por cerca de 30 anos e acredita que sua vida de testemunho daria um livro. “Um padre diferenciado, que não era só para celebrar missa. Ele dedicou a sua vida no meio dos pobres, dormindo e comendo pouco. Lembro dele limpando casas de pobres, cuidava dos doentes. Me impressionou muito uma pessoa que vivia com HIV, que só a mãe e o Piero que colocava a mão nele. Na época não se conhecia a doença, o povo tinha medo, mas Piero o levou abraçado para o hospital, numa Kombi velha. Uma outra vez levamos uma senhora a pé para o Iapetec (nome antigo do Hospital Federal de Bonsucesso) de madrugada, ficando lá acompanhando, juntos com as irmãs (freiras). A juventude não vai ver mais isso hoje, uma dedicação total aos pobres”, comenta. 

Cavalcante conta que ele trocou diversas vezes a sua casa de alvenaria por barracos. “Pegava na massa para fazer casas e igrejas. Sua última missa que celebrou foi junto com as pessoas em situação de rua. Foi uma vida de missionário e peregrino. O cristão precisa ver Jesus na pessoa do pobre e do caído. Piero carregou Jesus no colo, na pessoa dos marginalizados e hoje Jesus o carrega. Ele é uma semente que não vai se apagar”, conclui.

O padre chegou a atuar nas antigas capelas Jesus de Nazaré, no Parque Maré, Sagrada Família, na Nova Holanda e Nossa Senhora da Paz, no Parque União e celebrou missas campais na Vila dos Pinheiros. 

A festa de despedida ocorreu no dia 27 de agosto, em Acari, e contou com inúmeros mareenses que foram se despedir do missionário. Piero retornou à Itália na quinta-feira, dia 7 de setembro. 

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