O Rio de Janeiro sob pressão

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A cidade é campeã em números de hipertensos do País

Jorge Melo

O Rio de Janeiro é a capital com o maior percentual de hipertensos do País, com 31,7%, segundo dados do Ministério da Saúde, que realiza anualmente uma pesquisa conhecida por Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico.  A hipertensão arterial acontece quando a nossa pressão está acima do limite considerado normal, que, na média, tem máxima de 12 e mínima de 8. Mas valores inferiores a 14 por 9 podem ser considerados normais, a critério médico.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, um bilhão de pessoas em todo o mundo têm pressão alta, mas um terço não sabe que tem a doença. A hipertensão arterial é causada por diversos fatores, como má alimentação, consumo excessivo de sal, estresse, tabagismo, obesidade, sedentarismo, diabetes e também histórico familiar. Entre os sintomas estão dores de cabeça, tonteira e enjoo. Se não for controlada, a pressão alta pode causar ao longo do tempo insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal. Estima-se que metade da população com diabetes também sofra de hipertensão, precisando de acompanhamento médico para as duas doenças.

Segundo a médica Claudia Ramos, coordenadora de Linhas de Cuidados das Doenças Crônicas não Transmissíveis, da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, “a maior parte dos casos não tem sintomas. Muitas vezes, as pessoas hipertensas só descobrem a doença quando apresentam uma complicação como um derrame ou infarto; daí a importância de verificar a pressão, independente de sintomas”. Um hipertenso que não se cuida pode ser vítima de infarto. É o caso de Sônia Maria Fernandes, de 54 anos, moradora da Maré. Na fila para o atendimento na Clínica da Família Adib Jatene, na Vila do Pinheiro, ela espera para conseguir os remédios de que necessita. Ela teve um infarto, pela segunda vez, no dia 20 de novembro de 2017; o primeiro foi em 1995.

Sônia passou mais de 20 dias internada no Hospital Federal de Bonsucesso. Diz que seu problema é o estresse. Não está acima do peso, não fuma. E “por sorte” não teve sequelas. Ainda em processo de recuperação e abalada pelo que aconteceu, elogia a capacidade dos médicos que a operaram no Hospital de Bonsucesso, mas não ficou satisfeita com o tratamento que recebeu no pós-operatório: “me senti abandonada e maltratada depois de uma operação difícil”. Sônia não é um caso isolado. Uma pesquisa realizada em 2011, pelo Datafolha e o Laboratório Astrazaneca, em seis capitais brasileiras, revelou que 20% das pessoas que sofreram um infarto no Brasil não mudaram seus hábitos. “Todas as pessoas com hipertensão ou que precisem verificar a pressão para fechar um diagnóstico podem procurar uma Clínica da Família ou um Centro Municipal de Saúde. Todas as unidades municipais de atenção primária podem fazer o diagnóstico e o tratamento [unidades da atenção primária são as clínicas da família ou centros de saúde]. Os médicos de família podem fazer o diagnóstico e tratamento dos casos de hipertensão”, alerta Claudia Ramos.

A Clínica da Família Adib Jatene é um exemplo de como a hipertensão vem atingindo os cariocas. Numa fila de 11 pessoas que esperam atendimento médico, três são hipertensas. Manoel Pereira de Lima, de 77 anos, é uma dessas pessoas. É visível que está acima do peso. Manoel admite que deixou de fazer exercícios, na própria Clínica, onde são oferecidas gratuitamente atividades físicas com o objetivo de contribuir com a recuperação dos pacientes e prevenir doenças. Manoel veio em busca de remédios; toma pelo menos quatro, para a hipertensão e outros problemas de saúde.  Mas não faz uso da academia, infelizmente.

Rosileide Barros, de 57 anos, também é hipertensa e vai em busca de remédios na Adib Jatene. Também não faz os exercícios recomendados pelo médico, embora os tenha à disposição na Clínica. E também não faz dieta. Um pouco sem jeito diz que, apesar de não fazer dieta nem controlar a alimentação, “eu evito comer certas coisas”.  É possível perceber que Rosileide está acima do peso.  Assim como Manoel, Rosileide reclama que, às vezes, não encontra na Clínica da Família alguns remédios de que necessita, e percebe que “isso atrapalha o tratamento”.

As pesquisas mostram que, no Brasil, 51% da população está acima do peso, desses, 17,4% são obesos. Aproximadamente 70% dos homens e 61% das mulheres com hipertensão são obesos. O excesso de peso, principalmente quando a gordura corporal se localiza no abdômen, está ligado ao aumento da pressão arterial. Valores de circunferência de cintura acima de 80cm para mulheres e 94cm para homens já indicam aumento do risco de hipertensão. “As mulheres mais jovens estão mais sedentárias e praticam menos exercícios que os homens, daí a hipertensão tem sido maior no caso delas. E mulheres acima de 50 anos perdem a proteção dos hormônios femininos e isso também faz com que tenham mais hipertensão arterial. As medidas de incentivo à alimentação saudável e à prática de atividades físicas podem contribuir para que a hipertensão seja controlada e deveriam ser adotadas por todas as mulheres”, alerta mais uma vez a médica.

Adriana Lourenço, para manter a pressão sob controle, vai ao médico regularmente | Foto: Elisângela Leite

Adriana Lourenço é um caso exemplar. Várias pessoas na família são hipertensas. Adriana nasceu e cresceu na Maré; tem 44 anos, a maior parte deles enfrentando problemas cardíacos. Por causa dos problemas no coração já foi operada três vezes, em 1992, 2011 e 2012. Há dois anos está de licença médica do trabalho. No caso dela a hipertensão é uma consequência. Para manter a pressão sob controle vai ao médico regularmente, na Maré; toma quatro remédios e mede a pressão diariamente.  Adriana está acima do peso, mas não consegue fazer exercícios físicos e reconhece que não controla a alimentação como deveria, “é muito difícil”. Mesmo assim cumpre a tarefas domésticas, “eu faço tudo no meu tempo”.

Além dos remédios prescritos pelos médicos, quem é hipertenso deve adotar um estilo de vida saudável, com a prática de exercícios físicos e alimentação balanceada, com frutas, verduras e legumes, carnes magras. Evitar doces, gorduras, refrigerantes e bebidas alcóolicas. Segundo Claudia Ramos, “se não tratada, a hipertensão pode levar a um derrame, a um infarto, à insuficiência renal e essas complicações podem ser fatais”.

No site da Sociedade Brasileira de Hipertensão [www.sbh.org.br] é possível encontrar todas as informações sobre a doença: o que é hipertensão, perguntas frequentes, como tratar, sintomas e como medir a pressão arterial. O site tem uma cartilha com informações úteis para os hipertensos e também disponibiliza, gratuitamente, um aplicativo com orientações sobre a alimentação mais adequada para os hipertensos.

 

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