Mudando para melhor

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Bento Ribeiro Dantas é considerado por seus habitantes uma área privilegiada pra se morar

Maré de Notícias #100

Camille Ramos

Entre o Morro do Timbau e a Linha Amarela, um conjunto habitacional de tijolos e concretos aparentes, com traços arquitetônicos de inspiração pós-modernista se destaca entrenó meio de outras comunidades da Maré. Trata-se do conjunto Bento Ribeiro Dantas, erguido na década de 1990, na área onde existia a praia e o Porto de Inhaúma. Seus moradores vieram de outras favelas por meio do Programa Morar Sem Risco, que contemplava comunidades que apresentavam perigo de desabamentos, entre outros, e que não podiam ser urbanizadas pelo Programa Favela-Bairro, implantado a partir de 1994. Uma dessas comunidades era a favela da Varginha, em Manguinhos, onde morava Cremilda Vicente de Carvalho, nossa entrevistada. 

MN: Quando a senhora veio pra Bento Ribeiro Dantas?

DC: Cheguei aqui no dia 8 de setembro de 1993.

MN: Veio pra cá por quê?

DC: Eu morava na beirada do rio da Varginha, em Manguinhos. As casas da beira do rio eram de madeira. A minha tinha tijolo embaixo e madeira em cima. Aí teve uma chuva que alagou tudo.  Minha casa foi a primeira a encher e a última a esvaziar na chuva de janeiro de 1993. Como muitas pessoas perderam as casas, o governo trouxe a gente pra cá.

MN: A remoção foi organizada pelos técnicos da Prefeitura que consideraram como área de risco as favelas que não podiam ser urbanizadas e aí deslocaram vocês pra Ribeiro Dantas, foi isso?

DC: Isso. Eles chegaram lá e disseram que a gente não podia mais morar ali. Pra mim foi uma maravilha! Eu não gostava daquele lugar. Perdi uma filha de 1 ano e 5 meses no rio. Quando a gente veio pra cá foi só felicidade. Aqui, é a Zona Sul da Maré, né? Melhor lugar pra se morar.

MN: O Conjunto foi ocupado só por moradores da Varginha?

DC: Vim eu e meus vizinhos que ainda estão tudo aí. Foram 525 casas construídas aqui no Conjunto. Umas 120 vieram de Varginha, outros de Manguinhos, da Mangueira, do Rio Saracuí.

MN: Como foi construir a vida aqui? Como que era a Ribeiro Dantas quando a senhora chegou?

DC: Tenho 54 anos; vim pra cá com 28, mas parece que eu sempre vivi aqui. Quando a gente chegou só tinham as casas, que eram de vila. Minha casa original tinha dois andares e dois quartos. Eu tinha perdido tudo na enchente; viemos sem nada e aos poucos a gente foi comprando as coisas.

MN: E tinha asfalto, comércio?

DC: Tinha nada. A gente passava na praça e só via lama, depois via coelho, não tinha padaria, mercado… nem nada. A gente ia na Vila do João fazer as coisas. Aos poucos as pessoas foram se organizando.

MN: E como foi que as coisas foram melhorando?

DC: Com a chegada do asfalto da Avenida Bento Ribeiro Dantas, o concreto da praça. Fizemos a quadra, porque as pessoas jogavam bola no barro. Em 2006, a gente se organizou pra fazer a associação de moradores; fiquei lá até o ano passado.

Bento Ribeiro Dantas só cresce e é considerada por seus moradores como o melhor lugar de todo o bairro para se morar. Vendo o amor de Dona Cremilda por sua comunidade, fica difícil não acreditar. BOXE OU INFOGRÁFICO

Você Sabia?

*A comunidade tem esse nome por causa da via principal, que ligava a Maré a Bonsucesso, antes de se tornar Linha Amarela. A rua leva o nome do presidente do Centro Industrial do Rio de Janeiro que participou do movimento político-militar que derrubou o presidente João Goulart, em 1964.

*O conjunto foi inaugurado em 1992.

*Inicialmente, a comunidade foi apelidada de Fogo Cruzado, devido aos confrontos armados frequentes.

*Possui 943 domicílios e uma população estimada em 3.553 habitantes (Censo Maré 2013).

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