Favelamona: beleza plural da favela

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Projeto fotográfico  exalta a beleza das mulheres negras da Maré

Thaynara Santos

O projeto fotográfico Favelamona tem como meta mostrar mulheres negras e faveladas como protagonistas da sua própria história, e celebrar suas individualidades, beleza e autoestima. “A gente precisa entender que a beleza não se padroniza, ela é plural”, explica Paulo Vitor, integrante do Favelamona, que reúne fotógrafos, maquiadores e produtores do asfalto e da favela.  Os fundadores, Matheus Affonso, 22 anos, fotógrafo; Paulo Victor Lino, 25 anos, produtor; Gustavo Ciupryk, 24 anos, maquiador e visagista; a maquiadora e cabeleireira Carmen Jacira Pitra, de 30 anos; e a produtora Maria Lethícia Barcellos, de 23 anos, estão juntos na construção do projeto, que tem apenas 3 meses mas que pretende se espalhar pela Maré e expandir em outras periferias do Rio de Janeiro.

Beleza além dos padrões

Paulo Victor explica que o  projeto surgiu da urgência de criar espaços como esse na Maré, composta por 140 mil habitantes e dezesseis favelas: “Era aniversário da minha prima, a Ellen, e eu queria dar um presente para ela mas estava sem dinheiro. Aí eu pensei assim, a gente podia fazer algumas fotos. Tinha certeza que ela iria querer, ainda mais por ser adolescente. Então eu chamei o Gustavo e o Matheus, e nós produzimos as fotos, que ficaram muito boas, mais do que esperado. Conversamos sobre a possibilidade de se criar um portfólio, que já era um desejo dos dois, e sugeri que a gente produzisse um só de mulheres pretas e de vários tipos de beleza”, explica o produtor. 
Co-fundador e maquiador, Gustavo complementa: “Nós tivemos um estalo, estender isso para outras monas da favela’ e aí começamos com nosso projeto, formado pela galera que a gente conhece. E o Favelamona é isso, a gente faz tudo na garra, em um único dia chegamos a fazer três, quatro, cinco monas. Às vezes o trabalho começa 12h e termina dez horas da noite, mas é babado porque o retorno que se tem é muito bom, e isso é exatamente o que estávamos procurando, resgatar esse olhar da mulher negra dentro da favela, de como elas se veem e como se enxergam. Quando estamos pensando na foto ou na maquiagem a nossa proposta é deixá-las mais à vontade possível. Eu sempre tento realçar e potencializar o que já está ali. Essa beleza que elas dizem que enxergam nas fotos do Favelamona já estava ali. Acho que o projeto não é só a gente, são todas as pessoas que estão construindo junto, principalmente as modelos”.

Monas faveladas
Matheus conta que o nome escolhido é a junção de duas palavras essenciais para o projeto, “Mona é mulher, todas as monas aqui da favela se chamam assim. É uma gíria que vem da comunidade LGBT e a gente percebeu que essa gíria se perpetua. É mona pra lá e mona para cá. Então pegamos o mona, uma palavra que todo mundo fala e favela pra marcar o território. Tem tudo a ver com a nossa narrativa de falar das mulheres daqui, das diferentes belezas da favela”, explica.
A favela e a periferia muitas vezes são mostradas somente por imagens de segurança  pública e que ilustram a violência e a dor, que mesmo sendo pautas importantes e urgentes, não traduzem todas as vozes da Maré. O Favelamona nasce desse lugar de romper barreiras e criar novas narrativas de beleza para a favela e busca mostrar uma imagem real das mulheres negras faveladas.
“Eu faço parte do Grupo Atiro (grupo de teatro) e fiz a assistência de produção do espetáculo corpo minado, que fala sobre mulheres pretas e a estética era algo que sempre era debatido durante as peças. Os relatos que sempre me tocavam eram relacionados à estética, que as mulheres negras nunca conseguiam se enxergar bonitas. Desde novas, elas sempre eram introduzidas dentro dessa estética que elas precisavam correr atrás, como o cabelo liso, ser magra, etc, e que muitas delas não alcançaram e sempre eram motivo de piada. A cada dia que vamos fotografando novas mulheres vamos percebendo a importância do projeto. Ele tem se configurado a partir dessas pessoas que constroem junto com a gente”, fala Paulo Victor. 

Modelo: Dominick Di Calafrio 
Foto: Matheus Affonso

Uma longa caminhada para o futuro 
Gustavo Ciupryk, Matheus Affonso, Paulo Victor Lino, Carmen Jacira Pitra e Maria Lethícia Barcellos levam o projeto na garra, sem nenhum financiamento além do investimento de tempo e de dinheiro dos próprios integrantes. Eles acreditam que a principal recompensa, muito mais importante que o dinheiro, é o retorno positivo das modelos dos ensaios e que, futuramente, podem fechar parcerias com produtores locais da Maré, que desenvolvem os próprios materiais, como bijuterias, sutiãs de pedras e roupas. 
Dominick di Calafrio, segunda modelo do projeto, fala que propostas assim para mulheres trans negras são muito raras, “Foi babado. Eu nunca achei que iria ser chamada para ser modelo fotográfica é aí surgiu esse rolê deles e eu falei ‘eu quero! Vou tirar minhas fotos’. Oportunidades para uma travesti são muito difíceis de aparecer, ainda mais dentro de favela. Eu me empoderei mais depois disso. Para mim, foi maravilhoso. Meus amigos me elogiavam, as pessoas na rua falavam que eu estava linda nas fotos , que inclusive estavam no Facebook. Eu só tenho a agradecer a eles”.

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