Uma onda chamada Hip Hop

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Os elementos que formam a arte e a cultura negra se expressam no movimento musical

Hélio Euclides

Terra, água, ar, e fogo são elementos clássicos da natureza. No hip hop, os elementos básicos são o DJ, o MC, a dança e o grafite. Eles formam os quatro pilares que compõem esse estilo de cultura popular. Há 10 anos o Maré Skills vem dando continuidade à expansão do hip hop na Maré e fora dela. São jovens que trabalham a dança e arte nas ruas e em competições. 

Douglas Barreto, de 30 anos, morador da Nova Holanda, é o fundador do grupo de hip hop chamado Maré Skills, onde a palavra em inglês skills significa habilidades. Tudo começou quando em 2010, no evento Rios Black, realizado na Lona Cultural Municipal Elza Osborne, em Campo Grande. Nesse evento, o grupo ganhou todas as modalidades e levou o prêmio Fazendo a Diferença no hip hop. Na época, um amigo fez um vídeo da dança e na legenda identificou-os como Maré Skills, ou seja, um batismo na tela.

O grupo já levou a cultura da favela em diversos palcos, alguns fora do Estado, como em São Paulo, Belo Horizonte, Belém e Macapá. Mas eles gostam mesmo das terras da Maré. “Nosso objetivo é passar positividade, mas é uma música de protesto. A grande mídia só fala de operação policial, de que todos os moradores da favela são cúmplices da ilegalidade. Por que não divulgar o bom daqui?”, questiona Douglas.

O coletivo formado por 10 jovens lembra de um evento que foi um marco, o Ativa Breakers 2008, realizado no Bar do Zé, no Largo do Centenário, no Morro do Timbau, que reuniu vários membros de outros coletivos. Outra festa é a Roda de Rima, no Parque União. O Maré Hip Hop, evento que aconteceu em duas edições, 2007 e 2018. O grupo sonha em transformar o Maré Hip Hop em um acontecimento anual. 

Desde o início o grupo tem uniforme, o que ajuda ao chegar no evento, estufar e bater no peito que todos são da Maré. A capital paulista reúne os maiores eventos de hip hop e eles participaram do Atari Funkers. “Quando chegamos, eles não sabiam que o Rio tinha hip hop, que usava a referência musical do James Brown e Ed Motta”, comenta. 

Para Douglas, a música e o ritmo mudam com os anos, mas as pessoas continuam dançando. Para alguns, o estilo trap, que reverencia a ostentação, está em evidência no momento. “Entendo que o mais importante é compartilhar a música, trazer lembranças a favela e fazer pensar. Resgatar a história da Maré é uma volta ao tempo. Um exemplo é lembrar do Talk Sessão B Girls, um evento de hip hop exclusivo para as mulheres, uma ação de inclusão”, destaca.

Ele não fica parado, leciona dança na Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart), na UERJ. Além disso, criou uma marca de estampa, a marca Rebobinar. Uma das camisas do grupo traz a engenharia das casas da favela, as palafitas. “Não dá para viver da dança, só sobreviver. Mas precisamos resistir pois estamos na era da terapia. O mundo hoje é voltado para a ansiedade e depressão, está complicado e delicado esse momento. A favela precisa ter aula de cultura urbana. Isso pode ser libertador, ajudar o jovem a encontrar um rumo”, conclui.

Como começou esse estilo de vida

O Hip Hop começa em meados dos anos 1970, na Jamaica e com os afro-americanos da cidade de Nova Iorque, mais precisamente no sul do Bronx, com MCs. O diferencial era o acréscimo da rima à batida. 

Uma década depois, chega ao Brasil como uma febre chamada Break Dance. O filme de 1983, Flashdance, ajudou a expansão. Outro marco das telonas foi Beat Street, um longa-metragem muito importante para o movimento. O estilo chamava atenção com pessoas vestidas com roupas coloridas, óculos escuros, tênis de botinha, luvas, bonés e os boombox, os enormes rádios gravadores. Essa fórmula ajudava o jovem a mostrar os primeiros passos. 

São mais de 40 anos de uma cultura de autoestima do jovem negro, que vivia nas periferias da cidade e precisa encontrar sua identidade cultural dentro de uma sociedade de preconceitos. Após tantos anos o hip hop se reinventa, mas continua com seus raps formando a essência de denunciar as injustiças vividas pelos pobres das periferias das grandes cidades.

Na Maré, o movimento dá os primeiros passos no Parque Rubens Vaz, em 1996, era o palco dos grupos, o point do hip hop na quadra. Hoje apesar de não tocar tanto nas rádios, Douglas garante que o hip hop está forte, com o estilo passinho, que chama atenção da nova geração e o tradicional Underground.

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