Ginecologia natural promove o autocuidado e eleva a autoestima
Maré de Notícias #105 – outubro de 2019
Flávia Veloso
Conhecer o próprio corpo ainda é um tabu, especialmente quando se fala no corpo feminino. A mulher ainda carrega, injustamente, estigmas e preconceitos que a sociedade impõe, com base em uma cultura machista, que insiste em querer ditar o que ela pode ou não fazer e dizer, como se comportar e até onde pode ou não ir. Essa herança, sob amarras, limita que a mulher assuma o controle de sua vida nos âmbitos profissional, social e pessoal, atingindo até a relação construída com si mesma.
Ginecologia em primeiro lugar
88% das mulheres têm costume de ir ao ginecologista
79% das mulheres citam a Ginecologia como a especialidade médica mais importante
58% das mulheres que já foram ao ginecologista recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS)
(dados do Febrasgo e Datafolha/2018)
Ao mesmo tempo em que vale ressaltar o lado positivo da preocupação que a mulher tem com sua parte ginecológica, como refletem os dados, é preciso averiguar se essa mulher também pratica diariamente o autocuidado.
Cuidados com si mesma: a verdade sobre a ginecologia natural
Ginecologia natural não é só tratar de si por meio de plantas (o chamado tratamento fitoterápico). O verdadeiro conceito desse movimento é conectar-se ao seu corpo: se tocar, olhar, observar e notar como você funciona, tanto no corpo quanto na mente. Dessa forma, pode-se entender que é um cuidado com a saúde no geral, e acaba por facilitar a prevenção e o tratamento de doenças, além de melhorar a autoestima.
Acesso restrito
Apesar de a Ginecologia ser uma especialidade médica, sua prática no viés natural não é, ou seja, ela não será encontrada nas redes públicas e privadas de saúde. As mulheres que trabalham com esta prática são ginecologistas que fizeram curso de formação para tal especialidade. Para Edineide da Silva Pereira (ou Neide), fundadora do Espaço Casulo, na Maré, formada em Pedagogia e no curso de Ginecologia natural, seria de grande benefício que fosse reconhecida como especialidade – apesar da atual má administração da saúde pública -, pois facilitaria o acesso de muitas mulheres a esses conhecimentos. Esta é uma luta de quem trabalha na área. Existem consultórios de Ginecologia natural, mas as consultas oferecidas são pagas e caras. A maioria das mulheres (como mostram os dados no quadro) recorrem ao SUS para consultas e tratamentos.
A importância de se conhecer
“Muitas mulheres chegam a um consultório de Ginecologia tradicional com candidíase, por exemplo, que é muito comum, e o médico ou a médica indicam pomadas e comprimidos, que vão alterar o pH vaginal e tratar os sintomas, mas não a causa do problema.” Neide explica que candidíase, causada pelo fungo Candida, já existe no corpo da mulher, e que há fatores que podem levar ao desequilíbrio dele no organismo, como estresse, outras questões de saúde e até determinadas roupas. “O estigma de que o corpo da mulher é sujo a faz acreditar que a causa é uma questão higiênica, quando, na verdade, pode vir de muitos outros fatores. Conhecer o seu eu leva a saber o que é melhor para você”, completa Neide.
Além de tratar a saúde como algo completo e ajudar a eliminar estigmas e preconceitos sobre o corpo feminino, o autoconhecimento pode evitar enganações que chegam a doer até no bolso. Neide diz que “a Ginecologia natural não é totalmente contra a tradicional, mas contra o comércio que se faz sobre as indústrias dos exames e a farmacêutica, que acabam lucrando em cima de muitas pacientes, oferecendo serviços e produtos dos quais nem sempre elas precisam.”
Fitoterápicos: os queridinhos dos tratamentos
Os tratamentos com plantas podem não ser o único elemento da Ginecologia natural, mas isso não diminui sua importância. Usados antigamente com base somente nas experimentações, a fitoterapia virou coisa séria quando a Ciência passou a poder comprovar, em laboratório, os poderes medicinais das plantas. Agora, com respaldo do avanço tecnológico, as propriedades herbais conquistaram tanto a confiança das pessoas que até o Sistema Único de Saúde adotou vários remédios à base de plantas.
O SUS possui hoje 12 medicamentos desta natureza em sua Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename); dentre eles, dois de uso vaginal: a aroeira e a babosa. Outras práticas do sistema público que “conversam” com a Ginecologia natural são as listadas nas Práticas Integrativas e Complementares (PICS), como ayurveda – um dos mais antigos sistemas medicinais conhecidos, desenvolvido na Índia, ioga, meditação e muitas outras.
Planta também é remédio; então, cuidado!
Há muita informação na internet sobre tratamentos fitoterápicos, mas é necessário todo o cuidado para não aplicar em si mesma métodos falsos ou feitos de maneira errada. A fundadora do Espaço Casulo alerta para o fato de que as ervas também são remédios, também possuem contraindicações, dosagens, efeitos colaterais e reações alérgicas. O ideal é que a mulher procure orientação profissional para o assunto, para que a ajude a não só trabalhar a questão medicinal, mas auxiliar nos processos de conhecer o próprio corpo. Entretanto, é difícil evitar que a mulher vá atrás de métodos na internet; então, a recomendação é que se informe bastante antes de fazer qualquer coisa.
Que tal algumas dicas?
Indicadas pela própria Neide, a ginecologista natural Bel Saide (criadora do portal ginecologianatural.com.br) e as Curandeiras de Si (curandeirasdesi.com.br) são algumas das fontes confiáveis no assunto. Em seus respectivos portais on-line, elas não só oferecem cursos e materiais (que são pagos), como também disponibilizam artigos com dicas de autoconhecimento e autocuidado com todo o corpo e a mente.
A seguir, plantas fitoterápicas e energéticas e suas propriedades. Você pode encontrar maneiras de usá-las nos portais citados na matéria.
– Barbatimão
Propriedades antibacterianas, antioxidantes, analgésicas, desinfetantes, diuréticas, coagulantes, anti-inflamatórias, anti-hemorrágicas e antissépticas. Combate cistite e sintomas da candidíase.
– Tanchagem
Tem efeitos anti-inflamatórios, bactericidas e diuréticos. Trata sangramentos, agindo como pró-coagulante.
– Camomila
Tem efeitos antiespasmódicos, que provocam e regularizam a menstruação, analgésicos, estimula o estômago e a produção de leucócitos (células de defesa do corpo), anti-inflamatórios, hepáticos e combate a raiva e o estresse mental.
Ervas energéticas
Alecrim – atrai prosperidade e para abrir caminhos
Aroeira – remove negatividade
Guiné – desagrega pensamentos de más vibrações
Arruda – limpa pensamentos negativos
Alfazema – equilibra energias, traz paz e harmonia
Eucalipto – aumenta energia e autoestima
Espada-de-são-jorge (ou espada-de-santa-bárbara) – proteção
Abre-caminho – renova as forças
Anis-estrelado – aumenta a autoestima
Folhas de louro – atrai prosperidade
Dicas extras: Depilação: o ideal é que ela seja evitada, pois os pelos protegem a vulva. Ainda assim, se for feita, recomenda-se que não seja realizada com cera, pois maltrata e agita a pele.
Absorventes: os industriais não são os mais saudáveis, por causa das substâncias químicas que contêm. Recomenda-se o uso de absorventes naturais (como os de pano) ou coletores menstruais.