Bonsucesso tem a maior taxa de mortalidade por Covid-19 da cidade

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Bairro limítrofe à Maré pode contabilizar casos do conjunto de favelas

De acordo com os dados do IBGE, de 2010, Bonsucesso tem 18.711 habitantes. Segundo os dados do Painel Rio Covid-19, Bonsucesso tinha também até o momento do fechamento desta matéria (11 de junho) 496 casos confirmados e 65 óbitos pelo novo coronavírus. Com os dados do dia 5 de junho, o bairro aparecia na 17ª posição no ranking de casos entre os 162 bairros da cidade do Rio de Janeiro. Porém, ao analisarmos a taxa de mortalidade, o bairro que atende alguns serviços essenciais da população da Maré e também de algumas favelas do Complexo do Alemão, apresenta o pior cenário. 

Esta é uma das análises apresentadas na edição 6 do Boletim “De Olho no Corona!”, desenvolvido pela equipe que coleta dados sobre a pandemia na Maré e faz parte da Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus. Uma das frentes da campanha, liderada pela Redes da Maré, é a produção e difusão de informações e conteúdos seguros.

A taxa de mortalidade, que é uma análise importante que poderia ser feita pelas secretarias municipal e estadual de saúde, é o número de mortos sobre o total da população de um determinado lugar. O mais comum é calcular sobre o número de 100 mil habitantes, e como a quantidade de moradores de Bonsucesso é considerada pequena, o número de mortes registradas no bairro é alta se comparada aos demais bairros da cidade.  Com isso, Bonsucesso é o primeiro na taxa de mortalidade, pois tem a maior quantidade de mortes, mas em relação à população que o habita.

Há também a taxa de letalidade que analisa o número de mortes em relação ao número de pessoas que foram contaminadas pela doença. E ainda a taxa de prevalência que é o número de doentes em relação ao número de habitantes de em determinado espaço. Nesse quesito, Bonsucesso também lidera.

Um comparativo que se pode fazer é entre os bairros de Bonsucesso e Campo Grande. Segundo dados coletados em 05 de junho pelo boletim “De Olho no Corona!”, o bairro da Zona Oeste apresenta 232 óbitos por Covid-19, o maior número da cidade, enquanto Bonsucesso é o 14º no ranking, com 57 confirmados. Dessa forma, Campo Grande é onde mais se morreu pelo novo coronavírus. Entretanto, ao analisar a taxa de mortalidade, Bonsucesso é o bairro mais mortal da cidade, com uma taxa de 304,6 mortes por 100 mil habitantes, enquanto Campo Grande fica em 69º lugar com 70,7 mortes por 100 mil habitantes. Isso acontece porque a população de Bonsucesso é de 18.711 pessoas, enquanto a de Campo Grande é mais que 17 vezes maior, com 328.370 habitantes, segundo dados do IBGE de 2010.

Falta reconhecimento, sobra subnotificação

A grande quantidade de casos confirmados e mortes em Bonsucesso chama a atenção quando se analisa o histórico de reconhecimento do conjunto de favelas da Maré como bairro legalmente constituído. A questão é que esse reconhecimento ainda não é consolidado nem pelos próprios moradores da Maré. A edição do boletim lançada nesta quinta-feira e disponível no site da organização narra parte desse histórico. Falamos também sobre o processo de subnotificação dos casos na Maré na matéria “Subnotificação de casos: a Maré é bairro!” do Maré de Notícias. 

No dia 11 de junho, o Painel Rio Covid-19 apresentou 253 casos confirmados de coronavírus na Maré, e 67 óbitos. O número não condiz com a realidade de pessoas relatando sintomas e a quantidade de óbitos com suspeitas do vírus. De acordo com os dados coletados até o dia 8/06 pela equipe do “De Olho no Corona!” e publicados no boletim, há mais 527 pessoas com suspeita de coronavírus, sem confirmação, o que resulta em um total de mais de 700 casos no conjunto de favelas. 

Além de ações de prevenção e controle da disseminação do vírus, o cuidado e o trabalho de análise de dados são importantes em um momento como esse. “Quando a gente tem dados específicos para as populações mais vulnerabilizadas e expostas social, ambiental e economicamente, nós conseguimos traçar estratégias efetivas e melhores para essa população”, comenta o médico sanitarista e chefe de gabinete da Fiocruz Valcler Rangel Fernandes

Confusão e apagão em dados

Na última semana, em um intervalo de pouco mais de uma hora, 857 mortos desapareceram dos números divulgados pelo Ministério da Saúde. Na noite do dia 07 junho, o painel divulgou que 1.382 pessoas haviam morrido no país nas 24 horas anteriores por Covid-19. Pouco depois, no entanto, o ministério alterou os dados e informou um total de 525 óbitos no período. Alguns outros dados foram ocultados também do painel, como a curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica. O ministério informou que estaria mudando a metodologia de apresentação dos dados. 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governo federal voltasse a divulgar na íntegra os dados relativos ao contágio e às mortes pelo novo coronavírus e nesta terça-feira (09) os dados foram atualizados.

Os dados publicados no painel da secretaria municipal de saúde também vem sofrendo alterações, que até o momento continua sem explicação. No fechamento da 6ª Edição do Boletim De Olho no Corona!, dia 5 de junho, eram 241 casos na Maré de acordo com o painel. No momento do fechamento desta matéria, 11 de junho, o painel apresentava 253 casos. “O desencontro de dados durante a pandemia traz enormes prejuízos, confundem a população. As decisões são embasadas por informações”, afirma o médico sanitarista Valcler Rangel.

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