Maré de Notícias #113 – junho de 2020
Andressa Cabral Botelho
“Saudade”, segundo o dicionário, é um sentimento nostálgico que nos faz sentir falta de alguém ou de algo, seja um lugar ou experiências que costumávamos viver no nosso cotidiano. Com a chegada do coronavírus na cidade do Rio, a saudade se tornou algo latente e passamos a perceber que até hábitos simples têm feito falta. Tivemos de nos adaptar à solidão e às saudades que o distanciamento social nos proporciona. Com isso, relações afetivas de diversas esferas tiveram também de se adaptar ao cenário que estamos vivendo. Em 2020, o Dia dos Namorados vai ser bastante diferente para os casais, tanto os que moram juntos, quanto para os que não se veem em decorrência do distanciamento.
Esta data é celebrada em diversos países do mundo, na maioria em 14 de fevereiro, dia de São Valentim. No Brasil, a comemoração surgiu a partir de uma necessidade de movimentar o comércio. O publicitário João Dória – pai do governador do São Paulo – percebeu que junho era um mês fraco para as vendas e decidiu criar a data comemorativa um dia antes do Dia de Santo Antônio, conhecido por ser o santo casamenteiro. A estratégia deu certo e, desde 1949, comemora-se a data no Brasil. Com a reabertura gradual dos serviços da cidade do Rio, a expectativa é que a data cumpra esse papel de incrementar as vendas. Entretanto, o ideal ainda é evitar aglomerações sem necessidade. O presente do “mozão” pode esperar.
O isolamento nos privou de uma sensação que tem feito falta: o toque. Estudos mostram que simples contatos físicos e afetuosos do dia a dia são responsáveis por produzir ocitocina e serotonina, hormônios que proporcionam sensações de bem-estar e felicidade. Dessa forma, a falta desses hormônios – para muitos de nós em isolamento e sem esse contato – pode nos proporcionar ondas de tristeza, estresse e até alguns quadros de depressão.
A tecnologia a favor
Se a internet e a tecnologia aproximam quem está longe, elas têm cumprido bem esse papel. As chamadas de vídeo permitem que as pessoas possam se ver e interagir de certa forma, já que os encontros físicos não têm sido possíveis.
Posso dizer que sou um case de sucesso. Usei aplicativos de encontro algumas vezes entre 2017 e 2019 e tive diversos tipos de encontros. E foi por meio de um desses apps que meu namorado e eu nos conhecemos. Separados por 65 km, pela Baía de Guanabara e a pandemia, desde março, temos encarado este período como uma longa semana de trabalho, em que o final de semana está longe de chegar. A tecnologia tem sido aliada desde o início do relacionamento, em novembro, e durante a pandemia ela tem ajudado a nos manter próximos. Nesse período, ajudamos um ao outro nos estudos, assistimos a filmes fazendo chamadas de vídeo, fazemos planos para quando a quarentena acabar, compartilhamos conhecimento entre nós e com os nossos amigos.
Por outro lado, os solteiros têm utilizado a tecnologia desde antes da pandemia para conhecer e conversar com outras pessoas – e, aparentemente, esse uso não sofreu tanto impacto. O diferencial, agora, é saber que o flerte vai ter de se estender por muito mais tempo, administrando o desejo de conhecer a outra pessoa pessoalmente. Além disso, a pandemia e o comportamento das pessoas é uma forma de perceber se o outro tem respeitado a quarentena.
O Tinder, um dos aplicativos de encontros mais conhecidos da década, enviou para os seus usuários uma mensagem sobre a necessidade do distanciamento social, mas sem precisar se desconectar do aplicativo. “Esperamos ser um espaço para conexão durante este momento desafiante, mas é importante ressaltar que agora não é o momento para conhecer o seu crush pessoalmente”, é o que diz o trecho da mensagem enviada pelo aplicativo aos seus usuários. Assim como a celebração do Dia dos Namorados, o primeiro encontro pode esperar.