Em outubro, unidades de saúde convocaram para atualização da caderneta de vacinação, reforçando a importância do imunizante no momento atual
Maré de Notícias #118 – novembro de 2020
Por Hélio Euclides
Há mais de 100 anos a cidade do Rio de Janeiro sofreu com doenças epidêmicas, como a peste bubônica, a febre amarela e a varíola. No início do século XX, o sanitarista Oswaldo Cruz foi o maior defensor da vacinação, que resultou no fim da varíola. Depois desse fato, muitas outras doenças chegaram à erradicação com campanhas de vacinação. De 2015 para cá, ocorreu uma queda na procura de vacina, e com isso, algumas doenças reapareceram. Este ano o problema se agravou com a pandemia, que afastou muita gente dos postos de vacinação com receio da contaminação.
Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunização (PNI) teve início com quatro tipos de vacinas e hoje oferece 27 para a população. Uma deles é a poliomielite, doença responsável pela paralisia infantil, que está erradicada no país desde 1990. No entanto, em 2016, o país registrou uma queda na taxa de imunização de 95%, taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para 84% do total de crianças. Num levantamento da OMS, o Brasil aparece como um dos países que mais regrediu nos últimos cinco anos, com índice de pouco mais de 70% de cobertura para difteria, tétano e coqueluche.
O presidente Jair Bolsonaro fez uma postagem nas redes sociais declarando que o Estado não podia obrigar as pessoas a tomar a eventual vacina contra a covid-19. O pensamento do presidente contraria a lei assinada pelo próprio governo, que estabelece a obrigação da vacinação. Com duas filhas pequenas, Elisângela Felix, moradora da Baixa do Sapateiro, uma das 16 favelas da Maré, discorda da ideia de não valorizar a vacina. “A vacinação é uma das coisas mais importantes. Tenho todo o cuidado de manter as cadernetas delas em dia, procuro dar até as que não são dadas em postos de saúde. Sempre tive a certeza que, vacinando as minhas filhas, estou protegendo-as do mal que não são visíveis aos meus olhos”, expõe.
Vamos conjugar o verbo atualizar
O mês de outubro foi marcado pela Campanha Nacional de Multivacinação, uma ação conjunta que mobilizou cerca de 11 mil profissionais nos 92 municípios do Rio. O objetivo foi atualizar a caderneta de vacinação de mais de 3,4 milhões de crianças e adolescentes. Alexandre Chieppe, porta-voz da Secretaria de Estado de Saúde, acredita que a campanha em meio à pandemia é muito importante. “Até setembro ainda estava baixa a procura. Apenas 55% da população destinada para receber algumas vacinas que receberam a imunização. O objetivo é a cobertura completa e assim o Brasil ficar livre das doenças. A população precisa ter a certeza de que a vacina faz bem e imuniza contra várias doenças, como paralisia infantil, sarampo e meningite. A gripe influenza é controlada, não há surto, graças à vacina. Todas as vacinas são criadas com eficácia”, diz Alexandre.
Com o fim da campanha, não se deve interromper a procura por unidades de saúde para se imunizar. Thainná Nogueira, gerente da Clínica da Família Augusto Boal, que fica próxima ao Morro do Timbau, também na Maré, defende a conscientização de todos sobre a importância da vacina para todas as idades. “A vacina não é só a imunidade do indivíduo, mas sim do coletivo, pois acaba com a disseminação da doença”, conta. A gerente detalha que não há perigo em ir à unidade se vacinar, já que há medida de distanciamento e obrigatoriedade do uso da máscara.
Fake news da vacina
Em 1998, o médico britânico Andrew Wakefield publicou um estudo na revista científica Lancet, onde alegava que a aplicação da vacina tríplice viral desenvolvia autismo. Das 12 crianças analisadas – uma amostra pequena para obter resultados concretos – oito manifestaram a doença após a vacina. Após questionarem o estudo, descobriu-se que o pesquisador utilizou dados falsos para desenvolver a pesquisa, que foi retirada da revista. Entretanto, muitas pessoas preferem acreditar na tese desenvolvida pelo médico, desacreditando na eficácia da vacinação.