Em artigo especial ao Maré de Notícias, deputada que é cria do Conjunto de Favelas reflete sobre sua candidatura para o cargo de prefeita
Por Renata Souza, em 26/11/2020 ás 10h
Editado por Edu Carvalho
Sou cria da favela da Maré, mulher preta e doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É assim que gosto de me apresentar em tudo que faço. Hoje sou deputada estadual, presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj e fui candidata a prefeita do Rio pelo PSOL-RJ. Uma cria da Maré que disputa os espaços de poder e decisão política nesta cidade que nega direitos e oportunidades à favela. Um desafio gigante. Mas é hora da favela ter voz e vez, por isso, sigo de cabeça e punho erguidos em defesa dos trabalhadores do Rio.
Fazer uma campanha para disputar as eleições para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro foi uma tarefa árdua e cansativa. Mas chego ao fim dessa jornada com a certeza de que a luta por uma cidade mais humana, mais justa e menos desigual só será vencida com muito debate político. Neste ano de 2020, com a pandemia da Covid-19 e a má vontade da mídia em disponibilizar espaços de debates, não houve condições de igualdade para candidaturas como a minha, pequena e pouco conhecida.
Não foi fácil já no evento virtual de pré-lançamento da campanha, onde fomos atacados por hackers. O prefeito Marcelo Crivella não se sentiu constrangido em dizer mentiras sobre mim e meu partido, ao vivo, no debate da Band. Fui atingida por uma decisão judicial que impediu que a imprensa registrasse o momento do meu voto no Ciep Elis Regina, na Maré, coisa que não aconteceu com nenhum dos outros candidatos. Será porque eu era a única candidata a votar na favela?
Em minha vivência de mais de 15 anos na política institucional, trabalhei com Marcelo Freixo e fui chefe de gabinete da Marielle Franco, covardemente assassinada, e que me ensinou que embora o resultado nas urnas seja soberano, a disputa eleitoral aponta para futuros possíveis. Na resposta que veio das urnas na Zona 161, onde voto juntos dos moradores da Maré, de Bonsucesso e Ramos, chegamos a quase 9% dos nossos votos. Isso é uma vitória, já que dificilmente votamos em uma referência da própria Maré.
Aqui sigo cumprindo a missão que me foi confiada por 63.937 eleitores em 2018, que me fizeram a deputada estadual mais votada da esquerda. O Rio de Janeiro não pode seguir sendo o estado que naturaliza os índices absurdos de feminicídio, homicídio, de encarceramento, de violência obstétrica, de salários e trabalhos subumanos da população negra.
Me sinto muito honrada por ter sido escolhida pelo Partido Socialismo e Liberdade para representar a legenda no difícil pleito de 2020, agradeço aos companheiros pelo apoio, a minha equipe aguerrida, agradeço aos 85.271 eleitores .Sonho, esperança e luta moveram a ampliação da nossa bancada na Câmara do Rio para sete pessoas. Seguimos, com brilho nos olhos e a certeza de que somos necessários nos espaços de poder e decisão política.
Gratidão à Maré.
Renata Souza é nascida e criada na Favela da Maré. Jornalista, formada com bolsa integral, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutora em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense. Eleita em 2018 deputada estadual no Rio pelo PSOL, foi a primeira mulher negra presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ.