Taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede municipal é de 99%; enfermaria é de 87%.
Por Hélio Euclides em 11/12/2020 às 13h
Editado por Edu Carvalho
Parece que a vida voltou ao normal: aumento exponencial de pessoas nas ruas, o não respeito ao distanciamento e a ausência do uso da máscara. Desde junho, quando foram adotadas as medidas de flexibilização do combate ao novo coronavírus, o cenário é este. Cinco meses depois, os resultados das decisões apresentam índices negativos, com crescimento na ocupação de enfermarias e das unidades de tratamento intensivo (UTIs) para pacientes com coronavírus. No registro de dados apurados no dia 10 de dezembro, a taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede SUS – que inclui leitos de unidades municipais, estaduais e federais – no município é de 99%. Em toda regulação estadual, mais de 250 pacientes com casos mais graves aguardam por transferência. Já a taxa de ocupação dos leitos de enfermaria é de 87%. A rede privada de hospitais está em 98% dos leitos ocupados, de acordo com Graccho Alvim, diretor da Associação de Hospitais Privados do Estado do Rio.
A Prefeitura informou que o Hospital de Campanha da Prefeitura abrirá 170 leitos de enfermaria nos próximos quinze dias. Outros 50 leitos de UTI serão abertos em até três semanas – ao ritmo de 20 por semana – assim distribuídos: 30 no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e 20 no Hospital de Campanha. Desde 19 de novembro, são 37 novos leitos de UTI Covid-19. Atualmente, a rede municipal conta com 918 leitos Covid, 288 deles de UTI.
A prefeitura do Rio anunciou nesta quinta-feira, 10, novas medidas visando conter o avanço do novo coronavírus. Em ação conjunta com o governo do estado, após reunião entre o prefeito Marcelo Crivella, o governador em exercício Cláudio Castro e os secretários municipal e estadual de Saúde, ficou decidido, como já havia sido antecipado, que não haverá passo para trás em relação às atividades econômicas. As áreas de lazer, basicamente as ruas que ficam fechadas aos domingos, e o retorno da proibição do estacionamento na orla são alguns dos principais pontos tocados neste novo plano. Praias continuam liberadas, assim como bares, restaurantes e casas noturnas.
O informe da prefeitura não diz quando as novas regras entram em vigor. São elas:
- Escalonamento dos horários de funcionamento da indústria (a partir das 7h); dos serviços (a partir das 9h); e do comércio (a partir das 11h), para evitar aglomeração nos transportes públicos.
- Proibição de estacionamento na orla nos fins de semana e feriados;
- Cancelamento das áreas de lazer nas orlas de Copacabana, Ipanema e Leblon e no Aterro do Flamengo aos domingos e feriados (as pistas, portanto, não serão fechadas ao trânsito de veículos);
- Proibição do uso de áreas comuns de lazer em condomínios, onde não são usadas máscaras, como saunas e piscinas.
- Permissão para shoppings e Centros Comerciais ficarem abertos 24 horas, para evitar aglomerações nos meios de transporte.
Para Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz e Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, acreditam que movimento de agora ainda está relacionado a primeira onda de contágio, que teve redução no meio do ano na cidade, quando as taxas de isolamento eram maiores.
Outras cidades também estão preocupadas
No Estado, a situação não é diferente da capital fluminense. A Região Metropolitana II, que abrange sete municípios: Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá, passa a ser classificada em bandeira vermelha, de alto risco para a Covid-19. Ao todo, 12% dos moradores do Estado. Outras três cidades estão classificadas em bandeira laranja, de risco moderado: Regiões Metropolitanas I, Baía da Ilha Grande e Médio Paraíba. Na bandeira amarela estão as regiões: Baixada Litorânea, Centro-Sul, Noroeste, Norte e Serrana.
Na bandeira laranja, precisam ser cumpridas todas as medidas de distanciamento social já adotadas na bandeira amarela, sendo elas: suspensão de atividades escolares presenciais; proibição de qualquer evento com aglomeração, conforme avaliação local; adoção de distanciamento social no ambiente de trabalho, conforme avaliação local; avaliação da suspensão de atividades econômicas não essenciais, com limite de acesso e tempo de uso dos clientes, conforme o risco no território; e avaliação da adequação de horários diferenciados nos setores econômicos para reduzir aglomeração nos sistemas de transporte público.
Na bandeira vermelha, além das medidas da bandeira laranja, deve-se suspender as atividades econômicas não essenciais definidas pelo território, avaliando cada uma delas; e definir horários diferenciados nos setores econômicos para reduzir a aglomeração nos sistemas de transporte público.
O número de casos aumentou 91,67% na Baía da Ilha Grande e na 28,86% na Região Metropolitana II. Na Baixada Litorânea, o aumento foi de 18,06%. O número de óbitos aumentou 53,85% na Região Metropolitana II; 28,57% na Baía da Ilha Grande; e 7,69% na Região Médio-Paraíba. A taxa de ocupação de leitos de enfermaria destinados aos pacientes de Covid foi de 42,77%, e a de leitos de UTI, 60,83%.
Em nota conjunta, a Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro e as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informam que, devido à verificação do aumento dos indicadores de saúde em relação ao Covid-19, tomaram as seguintes providências: Mobilização e abertura de 214 leitos.
UPA é a emergência da Maré
Na Maré, já é possível perceber um maior número de doentes. “O painel covid já tem uma tendência de crescimento. Mas ele demora para registrar os nossos resultados. O Boletim “De Olho no Corona!” já registrou na semana passada muito mais casos ativos do que está sendo apresentado no painel municipal. É possível compreender esse aumento pelo número de pessoas que procuram o Galpão Ritma para fazer o teste. Essa semana devemos ter mais consolidado esse aumento”, comenta Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal e do Boletim “De Olho no Corona!”. Um funcionário da UPA Maré disse que já trabalha com apreensão, pelo aumento de casos.
Renato Mário de Jesus, morador do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, foi à Unidade de Pronto Atendimento Maré no final de semana com febre alta, sendo testado positivo para a covid-19. Ele reclamou da demora, já que do momento de entrada até receber duas injeções e ser liberado, foram sete horas de espera. O resultado da via crucis? Saiu da Upa sem remédio, apenas com a receita. Na segunda-feira (23) foi a Clínica da Família Augusto Boal, que não tinha Amoxicilina, Acebrofilina, Fumarato de Formoterol e nem Dipirona. Renato teve que comprar os remédios.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que a Prefeitura do Rio manteve um hospital de campanha em funcionamento, no Riocentro, e uma unidade de referência no Hospital Ronaldo Gazzola – além de não ter fechado nenhum leito de UTI desde o início da pandemia. Também informou que somente nas duas últimas semanas foram abertos na rede municipal 37 novos leitos de UTI Covid. Ainda em resposta à matéria, completou que as pessoas que aguardam leitos de UTI estão sendo assistidas em leitos de unidades pré-hospitalares, com monitores e respiradores. Sobre a rápida flexibilização, a Prefeitura explicou que agiu com responsabilidade, com medidas sendo adotadas com base nos indicadores sobre a doença. Já a falta dos remédios citados, indagou que é algo pontual e que a reposição será feita no menor tempo possível.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que a UPA da Maré tem capacidade total de 15 leitos, sendo 10 na sala amarela adulto, 03 na sala amarela pediátrica e 02 na sala vermelha. Segundo a nota, a UPA registrou, de 1º de julho até 26 de novembro, 1.065 casos suspeitos de Covid-19. Em novembro, foram contabilizados 289 casos suspeitos, um aumento de 37% em relação ao mês anterior. Em outubro, foram registrados 211 casos.
A coordenação médica da UPA da Maré esclareceu que os moradores da comunidade devem procurar a unidade caso apresentem um ou mais sintomas da doença.
Um vizinho em depressão
Ao lado da Maré se encontra o Hospital Federal de Bonsucesso, onde muitos mareenses nasceram. Um gigante complexo de prédios que atende diversas especialidades, além de operações cirúrgicas, internações, emergências e com destaque para atendimentos a pessoas baleadas. No dia 27 de outubro o HFB sofreu um incêndio no prédio 1. O acidente causou 16 óbitos, destes o Ministério da Saúde só reconhece três como provocados pelo incêndio. São os pacientes que morreram no dia, durante a transferência interna.
No dia 03 de novembro ocorreu manifestação de funcionários e familiares de pacientes com um abraço simbólico ao hospital. Moradores e representantes de diversas associações do entorno no hospital, boa parte da Maré, participaram do ato. O objetivo é garantir o pleno funcionamento da unidade. Após o incêndio que ocorreu no hospital, a direção da unidade anunciou o seu fechamento. A unidade, que é referência em cirurgias oncológicas, transplante renal e também no atendimento à gestante e aos recém-nascidos de alto risco, voltou a funcionar parcialmente.
O hospital chegou a ser escolhido em março pelo Ministério da Saúde para ser a unidade de referência de combate ao coronavírus na cidade do Rio de Janeiro. Algo que logo foi descartado diante da sua incapacidade operacional. Não havia pessoal suficiente para operar até 240 leitos dedicados a pacientes diagnosticados com covid-19, dificuldades de compra de insumos e a necessidade de reformas para adequação do espaço.
A comunicação social do HFB informou que o prédio atingido pelo incêndio era destinado para internações. Segundo assessoria, no momento o prédio passa por investigação da Polícia Federal sobre as causas do incêndio e não há pacientes internados no hospital. Declarou que os outros serviços estão sendo realizados normalmente nos outros espaços da unidade.