Por Julia Rossi, em 16/03/2022 às 12h25.
Hoje é o dia nacional da conscientização sobre as mudanças climáticas e, apesar desse tema parecer às vezes distante do nosso cotidiano, ele está mais próximo do que imaginamos. O clima é sentido por nós de várias maneiras, seja na temperatura ambiente, nas condições do tempo, como chuvas, seca e sol intenso. Essas variações do clima são naturais, mas as ações humanas têm intensificado cada vez mais esses eventos climáticos extremos como enchentes, deslizamentos de terra e altas temperaturas.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou no mês passado um relatório que detalha os impactos, riscos e adaptação das mudanças climáticas nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial. E não temos dúvidas que quando se fala em cidade, as favelas sempre são os territórios mais afetados, e com meio ambiente não seria diferente. Além do direito à educação, saúde, segurança pública, também precisamos pautar o direito ao meio ambiente nas favelas, que está relacionado ao esgotamento sanitário, a qualidade do ar, o abastecimento de água, a drenagem das chuvas e a gestão adequada dos resíduos sólidos.
Na Maré temos dados alarmantes sobre as questões climáticas. Segundo o documento da Coppe/UFRJ sobre as estratégias de adaptação às mudanças climáticas da cidade do Rio de Janeiro, que identificou o potencial de exposição e a avaliação de vulnerabilidade de todas zonas da cidade, a região onde estão as 16 favelas da Maré possui uma propensão muito alta a inundações e altas temperaturas. Essas transformações ambientais, que estão cada vez mais nítidas, já afetam a vida de muita gente e existem ações e políticas que podem contribuir para que esse impacto não seja tão severo para essas populações mais expostas. As perdas materiais e humanas decorrentes de enchentes e deslizamentos, bem como complicações de saúde devido a má qualidade do ar e da água são exemplos desses impactos na vida dos moradores de favela.
Figura 1: Mapa do Rio de Janeiro onde a Maré se encontra na região em vermelho onde as temperaturas são mais altas.
A responsabilidade de garantir saneamento básico adequado, é do Estado. A sociedade civil, como a Redes da Maré e outras instituições localizadas no território tem dentre outras tarefas, cobrar junto aos moradores para que ele, Estado, cumpra esse papel. Nesse sentido, que a Redes por meio do Eixo eixo de direitos urbanos e socioambientais (Dusa) que vem se estruturando na Redes da Maré a partir das experiências do eixo de desenvolvimento territorial, vem realizando encontros de saneamento com especialistas e moradores para construir uma agenda para o saneamento que se materializou na Carta de Saneamento.
Essa carta faz parte das agendas locais 2030 em parceria com a Casa Fluminense e foi direcionada para os candidatos das eleições municipais. Além de contribuir com a conscientização sobre a importância do direito ao saneamento para a diminuição dos impactos das crise climáticas, a carta é um material construído de forma participativa com demandas para implementação de políticas públicas.
A Campanha Climão também é um exemplo de ação que objetiva chamar a atenção da comunidade para as mudanças climáticas nas favelas. Os personagens trazem características do território e discutem as questões ambientais a partir de temas como racismo ambiental, ilhas de calor, poluição atmosférica, dentre outros assuntos relacionados com mudanças climáticas. Além dos materiais digitais que circularam pelas redes, também foram feitas impressões de lambe lambe para colar nas ruas da Maré
Figura 2: Personagens da Campanha Climão Chuveirão, GuaraVitinho, CarangueiJão e Dona Faveleira.
Esse ano teremos uma série de eventos e datas importantes que apontam para a emergência políticas que atendam às populações em maior vulnerabilidade social nesse contexto de eventos climáticos recorrentes. No Rio de Janeiro vai acontecer a Cúpula dos povos dos dias 25 a 27 de maio, e a Rio 2030 dos dias 5 a 11 de junho, espaços importantes para se discutir e propor medidas efetivas para que as populações das favelas tenham seus direitos efetivados e não sofram com impactos da crise climática.
Nesse mês, a Redes da Maré fez aniversário no dia internacional das mulheres,dia 8 de março, e está organizando uma série de atividades. Sabendo da importância do papel que as mulheres da Maré tiveram e continuam tendo para conquista de direitos desse território, o Eixo Dusa organizou uma ação para chamar atenção para as mudanças climáticas. Uma das questões que mais atinge os moradores são as enchentes e alagamento das ruas e casas. Como a Maré já foi mar na época das palafitas, resgatamos essa ideia a partir da pintura e desenhos nos bueiros, locais importantes para o escoamento da água que permite não encher as ruas. Por isso a necessidade de haver uma limpeza periódica dos bueiros por parte da COMLURB e o não fechamento desses bueiros por parte do morador.
Figura 3: Pintura dos bueiros na atividade “A Maré começa aqui”
Além de direitos que reivindicamos diariamente para a Maré ter direito à educação de qualidade, saúde e segurança pública, é fato que nós precisamos também de ruas mais limpas e mais iluminadas, que nossas praças sejam preservadas, que haja saneamento adequado e para todos, bem como espaços mais arborizados na Maré.
Para saber mais sobre como ficou essa intervenção nos bueiros “A Maré começa aqui” acesse as redes sociais da Redes da Maré e para entender mais sobre o tema das mudanças climáticas nas favelas acesse nossos materiais: https://linktr.ee/CampanhaClimao
Julia Rossi – Pesquisadora e coordenadora de projeto do eixo Direitos Urbanos e Socioambientais (Dusa) da Redes da Maré.