Exposição retrata a vivência de artistas da favela e periferia
Por Hélio Euclides, em 13/06/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho
Em nova exposição, o Galpão Bela Maré chama desde início atenção pelo nome: Misturas. E não haveria de ser diferentes, já que a mostra comemora os dez anos do espaço, convidando 19 artistas e mais duas participações. Todas as obras reverenciam a periferia carioca, com trabalhos que se manifestam de diversas formas culturais, reunindo diferentes gerações, repertórios e interesses. A programação marca a retomada presencial do público, com a exibição das artes visuais de uma forma totalmente presencial. Misturas também tem como desafio embaralhar outras exposições e momentos de formação que marcaram a década do Bela Maré.
Ao entrar, os visitantes são surpreendidos com duas cadeiras e uma mesa, um ambiente pronto para uma refeição. Mas todos são surpreendidos com os pratos que trazem dizeres: “Por todas que não puderam chegar aqui” e “Por todos os futuros que criaremos juntos”. Um resumo dos trabalhos que mostram a realidade sofrida da favela e bairros periféricos e o desejo de momentos melhores. “A exposição traz conceitos de construção de linguagem periféricas, com a mistura de lugares e corpos. São caminhos para se pensar na fala de todos”, diz Jean Carlos Azuos, curador da exposição.
“O Galpão Bela é um lugar especial que cativa e mobiliza. Voltamos com festa e saudade, pois estamos ainda na pandemia, mas com a possibilidade de abraçar. Aqui é um espaço construído com representatividade do território. Vejo nos artistas de Misturas pessoas que contribuem com esse momento da história”, comenta. Azuos agradece a parceria de Clarissa Diniz na curadoria. “Estou feliz com a presença da Clarissa, uma mulher nordestina que proporcionou um olhar diferenciado para todas as exposições que foram feitas nesses dez anos. A exposição começou a ser planejada há um ano e construída em cinco meses”, conta ele.
Buscando referências e materiais de que envolvem o passado e o presente, dialogando com o território, com o espaço e suas singularidades. Paulo César, morador da Nova Holanda, representou a Maré com três obras utilizando espelhos, utensílios de cozinha, jornal e pintura. “São representantes da periferia como Paulo, um mareense que se recria, deixa de lado a comercialização, para algo novo que é a dinâmica de uma exposição. Aqui pode ser o lugar que ele vai se firmar como expositor. Um sujeito que traz a família e amigos para a inauguração, o que retrata liderança e articulação”, diz. Para o artista, esse é um momento único e marcante em sua trajetória.
“Muita alegria em mostrar algumas artes que eu sei fazer e ver as pessoas gostando. Os outros artistas estão de parabéns, pois mostram obras lindas. Eu represento todas as favelas da Maré, espero que a população do território venha prestigiar”, expõe.
O galpão recebe em dois dias na semana grupos para uma visita guiada. Um desses grupos foi a Casa Semente, de Jardim Gramacho. “Essa exposição mostra o ambiente periférico, que é de criação de cultura. Retrata locais marcados pela violência, que usa a arte como resistência, contra um Estado que mata. Essa é a segunda vez que venho a esse espaço e percebo as semelhanças entre Jardim Gramacho e a Maré, como uma população de favela que tenta com toda força a preservação cultural”, avalia Vladimir de Oliveira, coordenador da Organização Casa Semente.
“Venha vivenciar esse momento de um espaço que completa dez anos de integração com o território”, convida Azuos. A exposição Misturas teve a abertura no dia 07 de maio e ficará em cartaz até 06 de agosto, de terça à sábado, das 10h às 18h. Já as visitas mediadas, acontecem sempre às terças e quintas, a partir de 14h. Além da exposição, o Programa Educativo do Galpão Bela Maré propõe, ao longo do período expositivo, uma série de atividades que dialogam com a Mostra. A entrada é franca e liberada para todos os públicos. O Galpão Bela Maré fica na Rua Bittencourt Sampaio, 169, na Nova Holanda.