Segurança Pública, militarização e violência Política

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Congresso promove diálogo sobre os territórios periféricos e seus desafios

Por: Elaine Lopes (*) e Hélio Euclides em 11 /08/22 às 14h. Editado por: Jéssica Pires

O 1º Congresso Internacional Falando Sobre Segurança Pública na Maré, realizado no Centro de Artes da Maré, na Nova Holanda, trouxe na segunda mesa de conversa da tarde de quarta-feira (10/08) o tema: “Segurança Pública, Militarização e Violência Policial”. O encontro com formato de “território de partilha” contou com três convidados: Leandro Marinho, pesquisador do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas, Giselle Florentino, economista e coordenadora executiva na Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, e Monique Cruz (pesquisadora da Justiça Global e professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mediação de Samara Oliveira, jornalista do jornal Maré de Notícias.

Giselle Florentino, antes de compor a mesa, fez uma prévia ao Maré de Notícias sobre os seus anseios: “Será uma discussão de forma racializada, classista a partir de territórios que são cotidianamente deflagrados com conflitos armados provocados pelo Estado.” Já na roda de conversa, Florentino exaltou o potencial da Baixada Fluminense, com necessidade da produção dos próprios dados e memórias, como forma de luta. “A gente constrói um território que é o dobro da população da cidade do Rio, mas que sofre com índices brutais de pobreza e 30% de auto de resistência. Isso é o resultado de um Estado que oferece só a ponta do fuzil. Na câmara só há homens e desses, apenas três negros. Vivemos uma política enfraquecida.”

Foto: Gabi Lino | Giselle Florentino compartilha experiências sobre a violência política da Baixada Fluminense

A mesa também teve a participação de Leandro Marinho, doutor em Ciências, que registrou a importância de falar de um tema atual, e na favela. “Quando grito pelo direito à vida, na favela entendem, mas fora acham estranho. Os números mostram uma grande violência na Baixada Fluminense, com 43 políticos vindo a óbito de 2015 a 2020. Já são 12 execuções de 2021 a 2022, e esse número ainda vai crescer. Há o autoritarismo, algo que vem do início do século passado, que surgiu com os barões. A morte virou questão econômica, onde quem perde mais é a população mais sofrida. Depois de 2018 aumentou o número de execuções, por ocorrer a acoberta de crimes.”

Outra convidada foi  Monique de Carvalho Cruz, que integra o Coletivo de Negras e Negros do Serviço Social Dona Ivone Lara. Quando perguntada sobre a participação no congresso, Monique disse que ficou grata pela possibilidade de ter sido mobilizada para pensar sobre as questões do seminário. “Eu comentei que estou sem esperança, e eu realmente estou. Acho que a conjuntura está muito difícil, mas a possibilidade de estar aqui me fez pensar, eu não posso ir para esse lugar que tem tanta construção importante e não falar alguma coisa sobre a possibilidade que a gente tem de mudança a partir dessas iniciativas coletivas.”

A jornalista do Maré de Notícias, Samara Oliveira, mediou o Território de Partilha e avaliou a mesa como um debate positivo. “É uma ação rica, que reúne especialistas que trazem um tema específico para esse debate dentro da Maré, esse território que sofre com violações. Todos aqui estão em prol da união desta população para o debate e perceber a potência para as conquistas”, comenta.

Deivid Matos, de 29 anos, fez questão de marcar sua participação tirando suas dúvidas com os integrantes da mesa. Deivid tem consciência da importância desse evento e declara:  “Acho fundamental a gente discutir a política de segurança pública relacionando ela com outras, tais como educação dentro de um espaço favelado, porque essa população é a mais afetadas por essa política que tem no núcleo das suas ações o corpo negro como alvo. “

Mariana Suzano (26), compartilhou que foi a primeira vez que participou de um congresso dentro de uma favela e enfatiza que o debate está sendo muito rico. Suzano teve a oportunidade de apresentar o seu trabalho nesse evento e está animada com a experiência. A organização do evento avaliou como positiva a reunião da mesa e acrescentou a importância do debate de pensamento. “Discutir esse tema com membros voltadas para ADPF das Favelas (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), para falar do território é valioso. É positivo as articulações”, finaliza Lucilene Gomes, advogada do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré.

O 1° Congresso Falando sobre Segurança Pública na Maré continua hoje (11/08) e amanhã (12/08) no Centro de Artes da Maré, na Rua Bittencourt Sampaio, 181, Nova Holanda. Acesso pela pista sentido Zona Oeste da Avenida Brasil, na altura da passarela 10.

Foto: Gabi Lino

(*) Elaine é aluna da primeira turma do Laboratório de Jornalismo Maré de Notícias

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