A frente de seu tempo, escritora foi a primeira mulher a presidir a ABL
Por: Hélio Euclides e Jorge Melo
Editado por: Amanda Célio
O mês de dezembro vai terminar mais triste. Em Lisboa, capital de Portugal, morreu neste sábado (17), aos 85 anos, a escritora Nélida Piñon. A causa foi em decorrência de complicações após uma cirurgia realizada há dez dias para tentar conter um problema nas vias biliares. Ocupante da Cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), para qual foi eleita em 27 de julho de 1989, ela foi a primeira mulher a presidir a entidade em 100 anos.
Nélida Piñon era jornalista, romancista, contista e professora. A acadêmica escreveu 25 obras que foram traduzidos para inúmeros países. Ela recebeu 23 prêmios, entre eles o Jabuti, ao longo de 61 anos de carreira. Sua estreia na literatura foi com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961. Com vasta bibliografia, suas obras – entre romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias – foram traduzidas em mais de 30 países. Foi eleita para uma cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1989 e tornou-se a primeira mulher, a presidir a ABL, no ano de seu centenário. Sua última obra publicada foi o romance Um Dia Chegarei a Sagres, lançado em 2020. Piñon deixa uma obra inédita, Os Rostos que Tenho, que deve ser lançada em 2023.
Biblioteca comunitária da favela Marcílio Dias leva nome da escritora
Nélida esteve por duas vezes na Maré, em 2011 e 2019, onde visitou a biblioteca comunitária que leva o seu nome, na favela de Marcílio Dias. A primeira visita ocorreu na tarde de 11 de maio, comemorando o quarto aniversário da biblioteca. Essa visita teve a parceria da Redes da Maré. “Esse ato de trazer a escritora é louvável, vai marcar a história”, destacou o professor de história, Edson Diniz que, na época, era diretor da Redes da Maré. A escritora recebeu uma placa como homenagem. “A palavra é fundamental, coloquei nos livros e assim me expressei, por isso que estou aqui”, comentou a acadêmica em visita a Marcílio Dias.
No ano passado, Nélida deu uma entrevista exclusiva ao Maré de Notícias sobre o Dia Mundial do Livro. Ela contou que estava ansiosa pelo fim da pandemia e a possível terceira visita a biblioteca. “Leitores, tenho a maior admiração pelos fundadores da Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, na Maré. Quando tudo isso passar, eu quero estar junto para uma troca de saberes”, expôs.
Segundo a ABL, o sepultamento ocorrerá no mausoléu da Academia, que fará uma Sessão da Saudade no dia 2 de março de 2023, no Salão Nobre, em homenagem à autora. Nélida não teve filhos, mas deixou uma legião de leitores que admiravam essa escritora que sempre teve vontade de revelar a alma brasileira. “Estamos arrasados, e órfão culturalmente”, resume Geraldo de Oliveira, coordenador da Biblioteca Comunitária Nélida Piñon.