Escolhas nutritivas e acessíveis fazem parte de uma alimentação saudável e podem evitar doenças
Por Teresa Santos
De acordo com o Guia alimentar para a população brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, é recomendado evitar o consumo de alimentos ultraprocessados — muitas vezes, atrativos devido aos preços mais baixos e à ideia de economia de tempo. Para a nutricionista Wanessa Natividade, porém, “é possível ter uma alimentação nutritiva e economicamente saudável. E ela não está associada ao consumo de alimentos caros, e sim à qualidade nutricional dos alimentos”.
Wanessa é chefe do Núcleo de Alimentação, Saúde e Ambiente (Nasa) da Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo ela, o Guia Alimentar determina que uma alimentação adequada e saudável deve ser baseada em alimentos “in natura”:
“Isso quer dizer o que é obtido diretamente da natureza e minimamente processado, como frutas, legumes, verduras, raízes, ovos, cereais, feijões, carnes e leite. Ou seja, comida de verdade preparada a partir de alimentos sem aditivos químicos ou muito processada”, diz a pesquisadora.
Optar por esses alimentos não significa sobrecarregar a rotina. “Temos que substituir essa ideia de que o lugar de cozinhar é da mãe, da mulher, da filha. Esse lugar é da família”, ressalta Mariana Aleixo, chef de cozinha e doutora em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mariana é quem coordena o projeto Maré de Sabores; segundo ela, quando a tarefa é compartilhada por todos, isso também repercute na economia de tempo.
Depressão e ansiedade
Refrigerantes, refrescos em pó, macarrão instantâneo, salsicha, biscoitos recheados, lasanha congelada — esses são alguns exemplos de alimentos ultraprocessados.
Eles são geralmente ricos em gorduras, açúcares ou sódio; em níveis elevados, estes componentes estão associados a problemas de saúde como obesidade e hipertensão, doenças cardíacas, diabetes e até depressão e ansiedade.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2020 revelou que mais da metade dos adultos brasileiros apresenta excesso de peso (60,3%), são 96 milhões de pessoas.
Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) de 2021, 26,3% da população brasileira sofre de hipertensão arterial. Entre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro apresenta uma das maiores prevalências de diagnóstico médico dessa condição, com 28,1%.
A hipertensão arterial é uma doença que faz parte de um grupo de condições que podem ser evitadas por meio da adoção de hábitos modificáveis, e um deles é a alimentação natural.
Substituições saudáveis
Desde que começou a participar do curso de gastronomia do projeto Maré de Sabores, Solange de Souza, moradora da Nova Holanda, abandonou os temperos industrializados e passou a usar apenas os naturais. Páprica picante, pimentões e outros temperos tornaram-se seus novos aliados. “Agora percebo o quanto os alimentos fazem diferença em nossas vidas”, diz ela.
A mesma sensação é compartilhada por Iula Tavares, também participante do curso de gastronomia do Maré de Sabores. Além das substituições saudáveis, ela passou a aproveitar ao máximo os alimentos: “Descobri que posso utilizar uma abóbora inteira, inclusive a casca.”
Essa nova rotina nas casas dos moradores da Maré não é tão nova assim. De acordo com a chef Mariana, ao descobrirmos que alimentos ultraprocessados podem ser prejudiciais à saúde, começamos a fazer escolhas melhores dentro de nossa realidade: “Historicamente, as famílias já faziam isso”, diz.
O Maré de Sabores é um projeto que busca promover a valorização do conhecimento ancestral da alimentação no contexto profissional. Criado em 2010, ele tem sua sede na Casa das Mulheres da Maré.
Bom e barato
Um ótimo lugar para ter acesso a alimentos naturais é numa feira-livre. Na Maré, ela acontece em algumas das 16 favelas, como:
Morro do Timbau – às terças na Rua Capitão Carlos.
Parque União – às quartas-feiras na Rua Roberto da Silveira.
Praia de Ramos – aos sábados na Rua Gerson Ferreira.
Parque Maré – aos sábados na Rua Teixeira Ribeiro.
Vila do João – aos sábados na Rua 14 (Principal)
Também é aconselhável procurar saber o que é da época (os preços ficam mais em conta). Nos meses de junho e julho, você vai encontrar:
Frutas: abacate, caqui, morango, laranja-lima, mexerica e tangerina;
Verduras: agrião, alho-poró e brócolis.
Legumes: cenoura, chuchu, couve-flor, abóbora, batata doce, berinjela, cenoura, inhame, mandioca, mandioquinha e milho verde.