Mães de vítimas da violência armada, debatem o direito a memória em alusão ao dia de finados
O Eixo Direito a Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré promoveu um encontro entre mães na última sexta-feira, dia 3 de novembro. Em alusão ao dia de finados, no dia 2 de novembro, lembra-se das pessoas que morreram com respeito e saudades. É comum algumas pessoas visitarem os túmulos, enfeitá-los com flores e ascender velas. Esta data, para as mães de vítimas da violência armada sempre é sinônimo de lembranças dolorosas.
A reunião aconteceu no Espaço Normal, equipamento da Redes da Maré. A mesa contou com a presença de mães de vítimas de violência armada, a vereadora Mônica Cunha (PSOL), o professor de história Paulo Vitor Lino e a defensora pública Maria Júlia Miranda.
A mesa destacou as sequelas deixadas pela violência armada, tanto por parte do Estado, como pela violência dos grupos civis armados. “Genocida, mata e não é exitosa”, classificou a estratégia da política de segurança pública que é justificativa do combate a violência, a defensora pública Maria Júlia.
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Outra violência mencionada foi em relação a exumação dos corpos. A exumação acontece três anos depois do sepultamento. As famílias muitas vezes recorrem ao sepultamento gratuito. E geralmente quem não tem recursos para o sepultamento também não tem para exumação. Não existe exumação gratuita e a taxa para fazer o procedimento é de R$ 545, 57.
Mães sem direito ao luto
As mães emocionadas relataram a forma como seus filhos foram tirados delas. Um dos relatos foi de Gracilene Rodrigues de Carvalho, que emocionou a todos os presentes. De pé ela parecia ver o dia em que seu filho Mateus Rodrigues de Carvalho, de apenas oito anos, foi assassinado há quinze anos com um tiro da arma de um policial.
Ela conta em detalhes da cena:
“eu estava tomando banho para ir trabalhar. Na época trabalhava no Museu da Maré, meu filho tinha voltado para casa porque não teve aula e eu pedi para ele ir comprar pão. Eu escutei um barulho mas achei que eram fogos por ser final de ano […] quando sai do banheiro vi meu filho caído no chão e me desesperei ‘O que fizeram com meu filho!?’ quando olhei para a rua vi ainda o policial subindo com as duas mãos na cabeça e me pedindo desculpa.tentaram alegar que uma operação policial era realizada.
Gracilene Rodrigues de Carvalho, mãe de Matheus, assassinado por um PM.
“O que eu quero é que a justiça seja feita, eu queria saber porque o caso foi arquivado […] meu filho morreu segurando uma moeda de um real na mão”. A mãe conta que ainda não conhecia o trabalho do Eixo Direito à Segurança Pública e acesso à Justiça mas foi acolhida pela coordenação para ter seu caso acompanhado.
Direito a memória
A memória é outro direito negado na favela. O historiador Paulo Vitor Lino destacou a importância de se preservar a memória. A roda de conversa marca o primeiro ano de inauguração do Memorial de Vítimas da Violência Armada que preserva a memória de 127 pessoas que tiveram suas vidas interrompidas.
Uma estratégia lembrada pela vereadora Mônica Cunha, que também é mãe de uma pessoa vítima da violência armada é a Semana em Memória às vítimas da Violência Armada e diz que o município não tem culpa da violência mas que “tem responsabilidade porque a Maré fica onde? não é no município do Rio?” afirma.
Após a roda de partilha houve uma caminhada até o memorial onde as mães ascenderam velas e fizeram a leitura do manifesto das mães de vítimas da violência que está escrito no Mural.