Símbolos natalinos, criatividade e concurso Decora Maré impulsionam a renovação das tradições de fim de ano
Jéssica Pires e Ana Paula Lisboa
Maré de Notícias #155 – dezembro de 2023
Segundo o Censo Maré 2019, 68,4% dos moradores se declaram cristãos. O Natal é uma festa amplamente celebrada e a decoração não fica de fora. É fácil encontrar uma árvore de natal dentro das casas e pisca-piscas nas janelas e fachadas.
Um velhinho branco e barbudo, vestido com um casaco vermelho em um cenário de pinheiros cobertos de neve, certamente contrasta com o de uma favela carioca em pleno dezembro. Ainda assim, as tradicionais decorações natalícias, que incluem o Papai Noel, presépios e luzes (muitas luzes), enfeitam becos, janelas, portas e geram autoestima para os moradores e beleza para os territórios.
Maré natalina
“Decorar minha casa para o Natal vai além de simplesmente enfeitar, é um ato coletivo, é união da minha família, onde todos contribuem. É bonito observar o brilho nos olhos das crianças na rua, que apontam para minha casa e dizem ‘o Natal está chegando, né, mãe?’. Vejo a conexão de gerações em uma tradição que considero a mais bonita de todas”, diz Karina Donaria, comunicadora e moradora do Parque União.
Ao longo das 16 favelas, a criatividade e as novas representações dos símbolos do Natal marcam o território.
Um deles é a tradicional árvore de Natal da Vila do João, instalada na entrada da comunidade. No Parque União, a árvore que enfeita a praça há mais de dez anos é montada pelo comerciante da Choperia Las Vegas, Arilo Alves, com garrafas da cerveja Heineken. Por sua vez, a Associação dos Moradores do Morro do Timbau enfeita todos os anos o alto do morro com uma estrela brilhante.
Decora Maré
Este ano, os influenciadores mereenses Raphael Vicente e Bianca Andrade lançaram o concurso Decora Maré para premiar as cinco casas mais bem decoradas do território com valores que variam de R$ 1 mil a R$ 5 mil. A votação acontece nas redes sociais de Raphael e Bianca entre os dias 11 e 12 de dezembro, e a casa vencedora será anunciada no dia 17.
Raphael conta que o projeto foi pensado com muito carinho e que a expectativa é que este concurso sirva de inspiração para outras comunidades. Bianca, por sua vez, se diz ansiosa para ver as casas decoradas. “Sempre vemos casas decoradas e lindas com enfeites de Natal. A favela também merece esse momento e esse cenário cheio de luzes!”, diz.
Segundo Karina, que também faz parte da equipe de Raphael , o concurso tem o propósito de incentivar e perpetuar a tradição de enfeitar as casas no fim do ano. “O concurso não apenas celebra o presente, como também o futuro, fazendo que o significado do Natal seja passado de geração a geração”, explica.
Símbolos
O Natal é uma data cristã que celebra o nascimento de Jesus Cristo e, por isso, muitos símbolos estão ligados a esse evento, como a estrela, que representa a estrela-guia que levou os reis magos até Belém, ou o presépio, que recria a cena do nascimento. Outros foram incorporados ao longo dos séculos e vieram de diferentes culturas (a maioria delas na Europa), chegando ao Brasil juntamente com os colonizadores.
O pinheiro é uma árvore forte, resistente e que permanece verde mesmo no inverno rigoroso. Simboliza a renovação, a força e a esperança em dias melhores. Não por acaso, é do pinheiro que é feita a árvore de natal. As bolas são os desejos de bons frutos e os sinos, a anunciação da festa.
As luzes de natal, ou pisca-piscas, simbolizam “a luz que Jesus veio trazer ao mundo”. Elas vieram para substituir as velas natalinas, que não eram raro provocavam acidentes e incêndios. O criador foi o americano Edward Johnson, e não à toa, ainda hoje, os maiores concursos de decoração de Natal com luzes em residências acontecem nos Estados Unidos.
Papai Noel
Historiadores apontam que a inspiração para a figura do Papai Noel foi o bispo São Nicolau de Mira, conhecido em vida pela generosidade. A figura que conhecemos hoje foi criada em 1881 por Thomas Nast, um cartunista americano famoso por suas caricaturas políticas e críticas.O bom velhinho apareceu de vermelho todo dezembro na capa da revista Saturday Evening Post, até que, na década de 1930, a Coca-Cola incluiu Papai Noel em suas propagandas de natal, espalhando sua imagem definitiva pelo mundo.