Ano novo, vida nova? Simpatias e promessas para o final de ano

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Réveillon traz simpatias, promessas e o desejo de prosperidade 

Por Ana Lourdes(*) e Hélio Euclides

A festa de final de ano vem acompanhada das simpatias e superstições, como comer lentilhas e sete sementes de romãs, pular sete ondinhas, cantar o tradicional “Adeus ano velho, feliz ano novo”, usar roupas brancas, colocar folha de louro na carteira ou ainda segurar na hora da passagem uma cédula de dinheiro na mão. Mas há ainda espaço para as promessas de Réveillon, que podem ser cumpridas ou esquecidas ao longo do ano.

O ano de 2024 será bissexto, ou seja, o mês de fevereiro terá um dia a mais: serão 29 dias. Isso é um motivo importante para os que realizam as promessas de fim de ano, pois terão 366 dias para cumprir o prometido. Os principais juramentos são de uma alimentação melhor, cuidar da saúde mental ou do sono, parar de fumar, melhorar o controle das finanças pessoais, mudar hábitos de bebida, voltar a estudar, começar as atividades na academia e, em alguns casos, encontrar um novo amor ou oficializar uniões.

As tradições brasileiras de fim de ano misturam diferentes culturas, herdadas a partir da colonização e urbanização do país. Algumas delas, como pular sete ondas ou oferecer oferendas ao mar, vieram das religiões de matriz africana. Independentemente da crença, todos possuem uma prática em comum no final do ano: desejar e pedir pelo ano que está vindo. Esse anseio se une à vontade de antecipar os futuros acontecimentos, o que motiva a busca por previsões religiosas e místicas a cada réveillon.

Stephen Hawking, físico e cosmólogo, dizia que os humanos sempre quiseram controlar o futuro. Na visão do cientista, isso contribui para a explicação do porquê as pessoas acreditam em pseudociências que preveem o futuro: a astrologia, por exemplo. Em entrevista à empresa de mídia digital Vice Brasil, Amâncio Friaça, astrônomo e professor de história da ciência da Universidade de São Paulo (USP) enxerga a astrologia como um apelo psicossocial e simbólico e a chama de “um instrumento para o desenvolvimento da racionalidade”.

Um empurrãozinho na prosperidade

Além das vestes brancas, alguns acreditam no poder das cores nas roupas íntimas. O branco é usado para trazer a paz, o amarelo remete ao dinheiro, o verde, à esperança, o vermelho é para grandes paixões, o laranja, à felicidade, a cor rosa é o amor, o marrom é estabilidade familiar, o violeta traz a espiritualidade e sensibilidade e o azul lembra a calma e tranquilidade. Carol Martins, moradora do Parque Maré, não é adepta das simpatias, mas por outro lado não abandona as promessas. “Faço várias, como pensar em guardar dinheiro, procrastinar menos, tirar carteira de motorista… A lista é infinita”, comenta. 

Para Jorge Luiz de Souza, psicólogo do Instituto Vida Real, a diversidade humana apresenta variadas culturas e pensamentos: “Alguns se preocupam com a chegada de um novo ano, pois não tem expectativas positivas, outros se enchem de esperança para um novo ano repleto de realizações, mostrando que somos seres que expressam emoções que vão da tristeza a alegria em pouco espaço de tempo. O mundo é repleto de culturas que exteriorizam suas crendices, seus rituais que na visão de cada um faz bem e ajudam a viver melhor”, afirma.

“No interior de cada pessoa está o desejo de ser alguém bem-sucedido na vida, ser próspero, ter uma vida sossegada. Com isso prometemos que vamos estudar, que vamos trabalhar para comprar algo tão sonhado, que vamos nos esforçar para alcançarmos aquilo que não conseguimos no ano que está findando. Vejo que o importante é não nos preocuparmos em fazer promessas que talvez não possamos cumprir. Viver um dia de cada vez sempre deu certo”, avalia.

O psicólogo dá sugestões para essa passagem de ano. “Quando temos o cuidado de cultivar bons relacionamentos, de ser corretos em nossas transações, de ser íntegros em nosso modo de ser, as coisas acontecerão naturalmente como frutos de nosso trabalho e dedicação. Resta-nos fazer a nossa parte neste mundo, sendo pessoas melhores a cada dia procurando ser feliz e fazer o outro feliz”, conclui.

As dicas também vêm da Carol, que utiliza o poema Receita de Ano Novo, de Carlos Drummond de Andrade. “Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta… Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”, finaliza.

O Maré de Notícias deseja que o novo ano seja de uma sociedade com menos violência, com cumprimentos dos direitos, respeito à igualdade, valorização das mulheres, da população LGBTQIA+, dos negros, dos favelados e de todos os segmentos que ainda não têm sua garantia da qualidade de vida respeitada. Que 2024 venha repleto de vida, perseverança, cuidado, esperança, criatividade, solidariedade, harmonia, delicadeza e amor. Feliz Ano Novo!

*Ana Lourdes é aluna do Curso de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Maré de Notícias e o Conexão UFRJ.

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