Escola de Samba Portela homenageia mães que perderam seus filhos pela violência
Por Andrezza Paulo
É Carnaval e deveria ser uma época festiva, mas na última quinta-feira (8) mais uma mãe da Maré perdeu seu filho de forma violenta. A morte de Jefferson estampou os jornais escancarando a falha e letal política de Segurança Pública do Estado nos territórios de favela. Além disso, centenas de crianças também foram vítimas dessa violência ao serem colocadas em risco durante a operação policial que ocorreu em horário escolar.
Às 11:45h da manhã foi emitido um comunicado pelas escolas de que os responsáveis deveriam buscar seus filhos, mesmo quando ainda se ouvia disparos. As ruas desertas e as crianças com o medo refletido em seus rostos. A violência armada ceifa vidas faveladas e gera traumas que jamais serão esquecidos e são as mães que ficam, que sofrem e que lutam para que este cenário um dia se modifique.
Lembrando aqueles que partiram e ecoando a voz de quem fica
E são essas mulheres que serão homenageadas na Sapucaí pela Portela. A escola de Samba levará para a maior apresentação cultural do país, 16 mães de vítimas de violência incluindo as mareenses Bruna Silva que perdeu seu filho Marcus Vinícius, em 2018, quando ele tinha apenas 14 anos; Vânia Silva, mãe de Marvin; Dejanecy Ribeiro, mãe de Paulo e Hortência Alves, mãe de Gelson.
Com enredo “Um defeito de cor” que fala sobre a trajetória de Luiza Mahin, seu filho Luiz Gama e os atravessamentos ligados à vida e luta da população negra, a escola de samba propõe, de forma simbólica em seu 5° carro, um encontro dessas mães com seus filhos. São dezesseis mulheres que não tiveram direito ao luto e buscam por justiça para os seus e para tantos outros jovens da favela. O desfile será televisionado pela TV Globo e a escola de Samba entra na Sapucaí na segunda-feira (12) às 23h.
Infelizmente, as mortes de Marcus Vinícius e de Jefferson não foram eventos isolados. Em 2023, o 7° Boletim de Segurança Pública registrou um aumento de 145% nas mortes em operações policiais referentes ao ano anterior, sendo 97% homens de até 29 anos. No entanto, apesar da dor imensurável, é importante reconhecer a força e a resiliência dessas mães e que elas tenham suas vozes amplificadas e ecoadas pela Portela e em muitas outras esferas para que se faça justiça e uma política de segurança pública mais humana.