‘Que a gente continue sendo o sonho dela’, diz filha de Marielle em festival 14M

Data:

‘Festival Justiça por Marielle e Anderson’ reuniu diversos artistas em uma homenagem cultural na Praça Mauá

Por Hélio Euclides e Lucas Feitoza

Nesta quinta-feira (14) uma programação marcando os seis anos do assassinato da vereadora Marielle Franco, e seu motorista, Anderson Gomes foi realizada no  Centro do Rio de Janeiro. Os eventos foram organizados pelo Instituto Marielle Franco para pedir justiça pelo caso, mas também para a manutenção da memória e legado da parlamentar.

Uma missa na Igreja Nossa Senhora do Parto marcou a abertura seguida por uma marcha pelas ruas do centro e durante a noite o Festival Justiça por Marielle e Anderson encerrou a programação com shows de diversos artistas.

Às 12h, foi realizado o Ato por Justiça, que reuniu centenas de pessoas. A saída ocorreu na estátua de Marielle, no Buraco do Lume, uma praça pública em que Marielle costumava fazer discursos e prestava conta das suas atividades políticas. O ato foi encerrado na Cinelândia, em frente ao Palácio Pedro Ernesto, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde se encontra uma placa de rua com o nome da vereadora mareense. 

“São seis anos sem respostas. Sinto um misto de agonia, medo e tristeza. Esses são os mesmos sentimentos de uma mãe de jovem que é morto na favela quando vê os executores sendo libertados. Estamos todos numa situação sem resposta”, reclama Renan Nascimento, do Coletivo Cria.

O crime

A vereadora Marielle Franco e o motorista  Anderson Gomes foram mortos na noite de 14 de março de 2018. Ambos saíram de uma roda de conversa no Instituto Casa das Pretas, momento em que foram perseguidos por criminosos até o bairro do Estácio, quando o carro foi alvejado por treze tiros. Após seis anos do crime ninguém foi condenado. 

“Estamos na luta por justiça não só pelo caso da Marielle e Anderson, mas pelos que foram vitimados por agentes do Estado. São seis anos que nos perguntamos o porquê? Queremos justiça total, saber quem mandou executar e também uma reparação do Estado para a família. Isso vai servir de exemplo para que outras famílias, favelas e pretas não sofram com vidas interrompidas”, expõe a advogada Brisa Lima, do Instituto Marielle Franco. 

Luta e festa

A noite o festival Justiça Por Marielle e Anderson celebrou o legado deixado por Marielle. Com uma programação para todos os gostos com gêneros musicais que passaram do jazz, pop, samba e funk e mais, artistas mareenses foram bem representados com o grupo Dance Maré liderado pelo digital influencer Raphael Vicente, além da Drag Queen Preta Queen B Ru, Evy e Kaê Guajajara.

Durante momento de fala no festival, Anielle Franco, Ministra de Igualdade Racial e irmã de Marielle destacou: “As sementes não serão caladas ou interrompidas”, ressaltando ainda que sua irmã era um símbolo de alegria e que esse é o motivo de realizar o festival, além do clamor por justiça.

“Enquanto tiver sangue correndo na veia a gente vai levantar e seguir fazendo, a gente não quer ver nenhum outro corpo tombado em lugar nenhum. É por isso que a gente tá aqui hoje.”, concluiu Anielle. 

Luyara Franco, filha de Marielle, destaca a importância da arte como ferramenta para mobilizar a sociedade: “A gente faz o festival para celebrar o legado da minha mãe e honrar a memória dela, usando a arte como uma forma de política para conseguir juntar a juventude e ecoar o grito por justiça.”

O evento também estendeu o clamor por justiça das Mães de Maio. Ana Paula Oliveira, mãe de Johnatha Oliveira, assassinado por um PM em Manguinhos em 2014, destacou a atuação da vereadora. 

“Isso aqui é legado da luta de Marielle, da força dela, que sempre lutou contra as injustiças, pelas pessoas das favelas, que a todo momento tentam deixar invisíveis na sociedade!”.

Há seis anos que o grito de resistência ecoado por movimentos sociais “Marielle e Anderson presente, hoje e sempre” é um marco que mantém viva a memória da parlamentar e do motorista. Durante o evento, essa mensagem reverberou entre os artistas que passaram pelo palco e mostraram seu talento nas diversas manifestações artísticas. O público, entusiasmado, respondia com energia e punhos cerrados. A cantora Urias encerrou a noite de apresentação.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Migrantes africanos preservam a origem e criam novas expressões culturais na Maré

Dentro do bairro Maré, existe um outro bairro: o Bairro dos Angolanos. O local abriga a comunidade migrante no território que, de acordo com o Censo Maré (2019), conta com 278 moradores estrangeiros.

Por que a ADPF DAS favelas não pode acabar

A ADPF 635, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), é um importante instrumento jurídico para garantir os direitos previstos na Constituição e tem como principal objetivo a redução da letalidade policial.