Somente em maio, aconteceram quatro operações que causaram impactos na rotina dos moradores
O Conjunto de Favelas da Maré amanheceu, nesta segunda-feira (27), com a 15ª operação na Maré. Moradores da Nova Holanda, Parque Maré, Parque União e Parque Rubens Vaz relataram a presença de carros blindados e policiais a pé desde as primeiras horas do dia. Ao longo da manhã, a operação também se estendeu para o Morro do Timbau e Vila do Pinheiro.
“Os policiais estão nas ruas com os cachorros invadindo casas”, “muitos tiros e correria pelas ruas da Nova Holanda”, “mais um dia que não consigo sair de casa para trabalhar”, são alguns dos relatos dos moradores que sofrem as consequências de uma política de segurança pensada apenas a partir do braço armado do Estado.
Para além de um número em ordinal, a 15ª operação significa menos um dia de aprendizado para os alunos das escolas da Maré, como relata em meio às lágrimas a professora Roberta no vídeo publicado no X (antigo Twitter) no perfil Maré não Vive.
“Não. Não estou feliz em não trabalhar, não estou feliz porque está tendo operação e eu vou ficar em casa, não. Fico triste. É menos um dia que meu aluno aprende, é menos um dia que ele pode dormir tranquilo, é menos um dia que ele pode sorrir com os coleguinhas na escola. É menos um dia que eles vão chegar correr e me abraçar.”
Segundo nota da PM, os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) com o Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) e o 22º BPM (Maré) atuam na região. No entanto, foi registrada também a presença de agentes do Batalhão de Ação com Cães (BAC).
O Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré registrou três casos de violação de direitos na operação. Uma ameaça a uma moradora, cárcere privado seguido de tortura e uma invasão a domicílio e dano ao patrimônio. Publicamos vídeos nas redes sociais sobre o caso.
Impactos na rotina
Somente em maio, aconteceram quatro operações que causaram impactos na rotina dos moradores. Na educação, são ao todo 23 escolas fechadas, duas estaduais com um impacto direto de 900 alunos na parte da manhã, e 21 municipais. Nessa conta não entramos alunos que precisam sair da Maré para estudar.
Na saúde, a Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva que realiza, em média, 250 atendimentos por dia, suspendeu o funcionamento na manhã desta segunda-feira (27) devido à operação prezando pela segurança dos funcionários e usuários da unidade.
Já as CF Diniz Batista dos Santos e CF Augusto Boal, apesar de continuarem atendendo na unidade, precisaram suspender as visitas domiciliares.
Ações sem resultados reais
Antes do fechamento de cada matéria sobre operação realizada no Conjunto de Favelas da Maré, perguntamos à polícia responsável pela ação qual é o balanço final, qual o objetivo da operação e sobre a conclusão da ação. Dificilmente somos respondidos e, quando a resposta vem, não raro é como a de hoje “Sem saldo operacional”. Em alguns casos, há respostas indicando a apreensão de uma ou duas armas e quantidade irrisória de drogas.
Em uma discussão no X (antigo Twitter), um comentário chamou atenção: “Eu era completamente a favor de operações em favelas, até que fui morar na VJ (Vila do João) um tempo e vi que essas operações não servem pra absolutamente nada. Não tem nenhum objetivo e só prejudica o trabalhador”.
Enquanto outro rebate: “Vocês estão reclamando da polícia que está tentando resolver o problema de vocês. Tem que reclamar dos bandidos”.
A 15ª operação policial aconteceu um dia depois que a TV Record exibiu uma reportagem com uma manchete que usa a expressão “fortaleza do crime” para se referir à Maré, além de insinuar que a ADPF das favelas seria a responsável por um suposto aumento de criminalidade na Maré. Essa narrativa criminaliza a favela e, por consequência, as pessoas que vivem nessas regiões.
A pergunta que fica é: No que melhora a vida do morador após uma operação?
O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].