A arquitetura e identidade singular do Conjunto Pinheiros

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Em mais uma edição da série de reportagem ‘Favela por Favela’, o jornalista Hélio Euclídes traz a história e memória a partir do moradores do Conjunto Pinheiros

Edição #159 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Muita gente confunde a Vila dos Pinheiros e o Conjunto Pinheiros, favelas que, apesar de serem xarás, contém peculiaridades próprias. Enquanto a Vila dos Pinheiros se caracteriza por reunir casas, o Conjunto Pinheiros é formado por prédios duplos, de formas retas e arquitetura modernista, de cinco andares cada. 

Os primeiros moradores eram formados por pessoas desalojadas das palafitas da Baixa do Sapateiro e este foi o último conjunto habitacional construído pelo do Projeto Rio.

Em 1999, os 34 prédios passaram por reformas custeadas pela Companhia Estadual de Habitação (CEHAB). A reforma consistiu na recuperação do revestimento externo, pintura das esquadrias, impermeabilização das caixas d’águas, reforma dos telhados e dos esgotos. Em 2011, a segunda obra também foi realizada pela CEHAB, com recuperação do revestimento, pintura externa e nova reforma dos telhados. A última intervenção ocorreu há dois anos e, apesar das três reformas, os prédios guardam a estética original, com pequenas alterações.

Inauguração

Uma polêmica envolvendo o Conjunto Pinheiros é o ano de inauguração, que na maioria dos arquivos oficiais está datada no ano de 1989. Porém, os moradores mais antigos como Adailza Gomes, conhecida como Dhay, que morou por 14 anos na favela, contestam isso.  Ela apresenta um documento que, inclusive, afirma ser do primeiro morador, datado de 9 de setembro de 1986. 

Essa data também foi confirmada por Nivaldo Braga de Lima, de 64 anos, em entrevista ao Maré de Notícias, em 2022. Ele explica que não faria sentido a construção ser tantos anos depois das outras três favelas criadas dentro do Projeto Rio (Vila do João e Conjunto Esperança em 1982 e Vila dos Pinheiros em 1983). Outro fato é que as construções foram financiadas pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), extinto em novembro de 1986, dois meses depois da inauguração do Conjunto Pinheiros. 

Histórias

Neilde Barcelos, de 63 anos, viveu mais de três décadas no Conjunto Pinheiros e lembra que por conta da demora na entrega das chaves houve uma tentativa de ocupação. 

“Foi uma confusão, fiquei apavorada com medo de perder o apartamento, cheguei a chorar. Quando cheguei era muita areia no entorno dos prédios e não tinha muro. Nos primeiros dias me perdia porque os prédios eram iguais, cheguei a enfiar a chave na porta de outras pessoas. Mesmo com as dificuldades de adaptação, a primeira impressão ao chegar é me sentir no luxo, pois eram apartamentos”. 

Neildo conta ainda que, com o tempo, os moradores foram se auto organizando e ela se tornou síndica para manter as condições do prédio onde vivia. “Foi difícil para os moradores entenderem a necessidade de pagar condomínio para manutenção”.

Ela relata que no início, não havia comércio próximo dos prédios, e que só após a construção dos muros, fizeram as garagens, que com o tempo se tornaram lojas. Também não existiam áreas de lazer e para a organização da favela, a associação de moradores teve um papel fundamental, com as primeiras lideranças de Zé Gordo e Eunice Cunha.

“Para fazer compras era na Vila dos Pinheiros, no Mercadinho do Samanco e remédios na Drogarão. Onde hoje é a ciclovia era pedra e capim, então, moradores foram improvisando para criar área de lazer”. 

Até hoje moradores ainda continuam com mobilizações comunitárias para manter o espaço. Um dos destaques da favela é a Rua do Meio, onde funciona um polo gastronômico de trailers, instalados pelos próprios moradores. Neilde afirma que, por tudo isso, mesmo depois de se mudar da comunidade, continua com os pés fincados no local.  “Sinto orgulho do Conjunto e tenho uma história linda nele. Não vendo meu apartamento por nada.”, declara.

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