A casa que virou CD

Data:

Maré de Notícias #91 – 01/08/2018

Cantor da comunidade do Rubens Vaz vende casa para ir atrás de sonho

Hélio Euclides

 

Em 12 de novembro de 1985, um cantor nascido no Morro do Alemão vendeu um apartamento e um carro para alugar o Canecão, a mais famosa casa de shows do Brasil, na época. Elymar Santos foi chamado de louco pela façanha, mas virou o jogo quando conseguiu o seu objetivo: ingressos esgotados e reconhecimento em todo o País. Nessa mesma linha, a Maré também tem seu “louco”, Rogério Pereira de Lima, ou melhor, Rogerinho Ratatuia. Para realizar o sonho de divulgar o seu talento como sambista, ele vendeu sua casa na Maré para gravar o primeiro CD.

Rogerinho é nascido e criado no Parque Rubens Vaz. Ele lembra que não teve uma infância fácil: “praticamente, apenas minha mãe Marinalva nos criou e educou, eu e meus irmãos. Meu pai viajava muito e ainda na minha infância ocorreu a separação deles. Nesse momento, ela teve de trabalhar muito para não deixar faltar o pão de cada dia e custear nossos estudos, uma guerreira”, conta. Para ajudar nas despesas, ele começou a trabalhar com 13 anos, vendendo picolé na praia. “Eu lembro de uma viagem que fizemos para a Bahia e trouxemos muito alho que ganhamos lá. Chegando no Rio, eu saía pelas ruas para vender”, relembra. Rogerinho ainda trabalhou numa padaria, aos 15 anos, e depois como mensageiro, no Centro. “Mas nunca abandonei os estudos e nos fins de semana eu fazia Curso de informática para ter uma qualificação”.

Seu envolvimento no mundo do samba começou nos anos 1980, quando ia muito à Praia de Copacabana com os amigos e tinha sempre um palco montado para shows. Por lá passavam Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Beth Carvalho, Elza Soares, Pedrinho da Flor, Dicró, Mauro Diniz, Bezerra da Silva, entre outros. “Aquilo tudo me fascinou e eu passei a comprar uma revista da época chamada Pagodes e a conhecer melhor as obras, intérpretes e autores. Foi assim que tudo começou”, revela.

Já em 2007, conheceu o compositor Barbeirinho do Jacarezinho, que foi o responsável pela sua entrada no mundo do samba. “Numa visita à Maré, ele me ouviu cantar e perguntou se eu gostaria de gravar um CD. Eu respondi que sim. Ele me surpreendeu ao falar que me daria um samba dele para gravar chamado ‘Cara Demente’, em parceria com Marquinhos Diniz e Luiz Grande. Ele começou a me levar nas rodas de samba, a me apresentar para outros compositores e quando eu já tinha 12 sambas no repertório para gravar, faltavam os recursos pra viabilizar este sonho. Pedi ajuda, mas infelizmente não consegui. Então, me reuni com minha família e solicitei conselho aos meus familiares; recebi apoio deles e a solução foi vender minha casa no Parque Rubens Vaz e investir na minha carreira”, destaca.

Rogerinho não tem vergonha de dizer que seu dom de cantar começou no chuveiro, depois no karaokê com os amigos, chegando às rodas de samba. Sua carreira se iniciou no Grupo Ratatuia. O grupo se desfez, mas Rogerinho decidiu seguir carreira solo, e como era o vocalista, virou “Rogerinho Ratatuia”. O sambista já está no segundo CD, com direito à clipe gravado na Maré como forma de gratidão e reconhecimento.  “A Maré foi fonte de inspiração para muitas coisas que fiz e ainda vou fazer. Graças a Deus tenho muitos amigos na Maré; por onde passo, eu faço questão de dizer que sou da favela e, sempre que posso, apareço para dar um abraço na rapaziada. Torço pelo sucesso e reconhecimento dos grupos da Maré, que assim como eu, estão na luta, com dificuldade e dignidade. Viva a Maré!” – exalta.

“Agradeço de coração a todos que acompanham, torcem ou frequentam meus shows. Desejo aos moradores da Maré paz, saúde, felicidades e conquistas. Vou lançar um novo clipe, em breve; estou com uma roda de samba “bombando” em Vila Isabel, e estão todos convidados”, conclui.

Quem quiser conferir um pouco mais sobre a carreira do sambista pode acessar a conta dele no YouTube, Instagram: @rogerinhoratatuia; no Facebook: Rogerinho Ratatuia.

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