A Culpa é das Estrelas da Maré

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Companhia multiartística de crianças da Maré ocupa as ruas com ensaios e apresentações; seus trabalhos têm repercutido Brasil afora

Flavia Veloso

A professora de artes cênicas da Escola Municipal Paulo Freire, na Vila dos Pinheiros , Alessandra Biá, identificou em seus alunos uma veia artística ansiosa por aflorar e brilhar. Ela conta que eram “bebês, bebês fora do comum”. Foi quando, em 2013, ela passou a desenvolver com as crianças projetos artísticos a partir de estudos sobre negritude e favela. Os pequenos concluíram seu ciclo na Paulo Freire, mas o desejo de fazer arte não cessou, nascendo, então a Escola Libertária de Artes (ELA).

As inquietações de Biá com um sistema escolar excludente e suas pesquisas de mestrado pelo programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) foram o pontapé para criar a ELA, uma escola multiartística, formada por crianças com idades entre 11 e 14 anos. A primeira leva de integrantes da Escola Libertária, originada dos ex-alunos da Paulo Freire, virou um grupo fixo e recebeu, este ano, o nome de Estrelas da Maré. “Tem esse nome, porque é a prova de que não se pode apagar o brilho das estrelas da favela”, explica a professora.

Ensaios na rua

Para a Escola, é na rua que o bicho pega. Os ensaios e apresentações são feitos nas ruas da Maré, ao lado de sua kombi, abrindo espaço para interação e participação do público. Perguntada se pretende ter um espaço físico futuramente, Alessandra diz não descartar a possibilidade, mas que trabalhar na rua é “muito legal”, e que a “cultura da infância e adolescência da favela envolve a rua”. Uma necessidade do grupo, atualmente, são recursos básicos para dar seguimento a seus trabalhos, como lápis de cor, papel e instrumentos musicais.

Atualmente, a companhia Estrelas da Maré apresenta a intervenção “Quebra-Tudo”, aos sábados, próximo ao Parque Ecológico (também conhecido como “Mata”), às 13h30. A apresentação, de 15 minutos, veio de um estudo para a coreografia que eles apresentaram em uma mostra de dança no ano passado, que teve sua primeira etapa na Arena Dicró e segunda, no Teatro Nelson Rodrigues. O estudo englobava movimento negro, favela e a própria Maré. “Quebra-Tudo” é um funk criado pelas Estrelas, com parte cantada, falada, dançada e brincada, que envolve também a questão da violência armada do Estado. “Muitos me perguntam o que eu quero, e eu falo que só quero paz. Aliás, os moradores da Maré querem, nós queremos”, desabafa Fernanda Souza, de 11 anos, integrante do Estrelas da Maré.

Tereza de Benguela e Carlos Marighella 

A trilha da coreografia apresentada em 2018 foi da canção “Trovoada”, do grupo musical “El Efecto”, que esteve pessoalmente nas duas apresentações da mostra. O destaque dos pequenos foi tamanho, que a banda convidou alguns deles para protagonizar o videoclipe de “Carlos e Tereza”. A canção fala de Tereza de Benguela, um símbolo feminino da luta quilombola, do século 18; e Carlos Marighella, grande nome da luta contra a ditadura militar do Brasil. 

O clipe retrata a importância da cultura, da disseminação e memória da história negra, das lutas populares e da ocupação dos espaços pelas crianças. O vídeo foi selecionado para exibição na Mostra Play The Movie, em Pernambuco, em outubro deste ano.

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