A folia no “Bloco do Sofá”

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O que você precisa saber para assistir aos desfiles das grandes escolas pela TV

Maré de Notícias #109 – fevereiro de 2019

Daniela Name

Todo Carnaval a história se repete: ao invés de pensar na melhor fantasia ou sair pela cidade atrás dos melhores blocos, muitos preferem fazer parte da Unidos do Controle Remoto e do Bloco do Sofá. Balde de pipoca no colo e sentam-se em frente à TV para assistir ao desfile das Escolas de Samba. O cortejo é realmente irresistível, mas fica ainda melhor quando sabemos, previamente, dos enredos e sambas que as maiores Escolas vão apresentar. 

Diferentemente do ano passado, quando a Mangueira se sagrou campeã absoluta com um enredo sobre os heróis esquecidos pelos livros de História, o Carnaval 2020 promete uma disputa acirradíssima pelas primeiras posições. Um dos temas mais evidentes que percorre os enredos é o debate sobre liberdade de culto e intolerância religiosa, mas há ainda os tradicionais temas históricos e grandes homenagens.

A Mangueira tentará o bicampeonato com “A verdade vos fará livre”, com o carnavalesco Leandro Vieira propondo qual seria a reação da população carioca se Jesus nascesse, hoje, como um morador da favela: “Se Jesus fosse um favelado e começasse a falar das coisas que sempre falou, será que seria ouvido? Será que estaríamos preparados para o seu discurso ou ele seria crucificado novamente?”, pergunta Leandro, que defende a liberdade para abordar uma figura como a de Jesus na festa cultural que é o Carnaval. “A Mangueira pode falar de Jesus, assim como o teatro, o cinema e a história da pintura já falaram”, destaca. 

Outro samba comentadíssimo pela crítica é o da Grande Rio, cujo enredo primoroso ajuda a contar a história de um personagem importante da Baixada Fluminense, berço da Escola de Caxias: o pai de santo Joãozinho da Gomeia. Homossexual e transformista, Gomeia era um ídolo popular, e o canto dos componentes de Caxias vai lembrar sua trajetória pedindo respeito a todas as religiões [“Eu respeito o seu amém/Você respeita o meu axé”].

“Quisemos reconectar os componentes da Grande Rio com o seu território, a Baixada, por meio deste grande personagem”, conta Gabriel Haddad. “Foi impressionante como a comunidade abraçou o enredo.”

Enredo da Mangueira se dirige diretamente à população das favelas e de outras periferias do Rio |OSCAR LIBERAL

Outras quatro Escolas têm chamado a atenção dos especialistas: Portela, Beija-Flor, Vila Isabel e Mocidade Independente de Padre Miguel. Na azul e branco de Oswaldo Cruz, o enredo “Guaxupiá, terra sem males”, é baseado no livro “O Rio antes do Rio” (Relicário), de Gabriel Freitas da Silva. O desfile vai mostrar a Guanabara Tupinambá, conjunto de aldeias indígenas que existia no lugar, hoje, chamado de Rio de Janeiro, antes da chegada dos invasores portugueses. A Beija-Flor de Nilópolis celebra o orixá Exu e todos os criadores e artistas de rua, com o enredo “Se essa rua fosse minha”, enquanto a Vila Isabel investe em mais um enredo ligado à história oficial, narrando a criação de Brasília e com um refrão lembrando o “gigante pela própria natureza” presente em nosso Hino.

Outra forte concorrente ao título, a Mocidade Independente de Padre Miguel, presta tributo a uma grande figura de sua própria história: a cantora Elza Soares, que já desfilou interpretando sambas-enredo de sua escola de coração. O enredo proposto pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, ex-Tuiuti e outro talento emergente da Sapucaí, e composto também por Sandra de Sá, é um tributo a Elza. “É emocionante ver o que Sandra fez com o samba, como a letra acaba abraçando todas as mulheres que são como Elza”, diz o jornalista Fabio Fabato, que escreveu a sinopse do enredo da Mocidade.

“Festa não é fuga, é uma forma de resistir”, acredita o historiador Luiz Antonio Simas. “Quanto pior foi o País, melhor o Carnaval, essa tem sido a história. Por isso, espero um grande Carnaval nos desfiles de 2020, com a Avenida narrando e nos ajudando a superar nossas dores.”

Fantasia de composição “Maria das Dores Brasil” | Divulgação

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